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            O que indico ao leitor deste livro, é que encerre sua leitura agora caso não goste de finais trágicos, já que certamente não estamos nos tratando de uma história de amor. Isso se trata de como uma princesa de origem inglesa, que foi sequestrada por vikings e acaba se afeiçoado as pessoas das quais mataram-na a ela e toda a sua inocência. 

           O autor deste livro adverte: Pessoas corrompidas tendem corromper pessoas inocentes. 

          Alícia ria inconsequentemente da maneira boba como Hvitserk cantava uma musica inglesa. Ela sabia que o rapaz trocava propositalmente algumas palavras por outras mais engraçadas e isso a divertia. O rapaz, por sua vez, ficava contente em ver o sorriso da garota com mais frequência. Ele sabia que a menina ainda não se sentia a vontade em morar em Kattegat, mas fazia o possível para não vê-la tão triste por todos os cantos. 

         Sua casa ficava a beira de um penhasco, e quando chovia, todo o caminho até a cidade ficava enlamaçado. Era uma trajetória um pouco longa, e considerando as frequentes chuvas, Alícia e Hvitserk demoravam quase a manhã toda para atravessar todo o caminho. Era cansativo, mas o rapaz dava o seu jeito para ser o menos chato possível. 

          Haviam se passado cerca de três meses desde que Alícia havia pisado em Kattegat pela primeira vez, e isso foi tempo suficiente para que ela pudesse aprender um pouco da língua deles. Um menino, de nome engraçado lhe presenteava todos os dias com um caloroso bom dia, e a garota, muito esperta trazia-lhes alguma comida. Mas era tudo escondido de seu senhor, claro. Os dias pareciam mais curtos, mas as noites ainda eram quase infinitas, e em todas as vezes a pobre princesa chorava com saudades de casa. 

          Neste meio tempo, Alícia também fora beijada por Hvitserk uma vez, mas não soube corresponder a tamanha grosseria do rapaz e quase fugiu pela segunda vez. Ela nunca beijaria ninguém tão impropriamente, e mesmo que o fizesse, não seria com um viking. Sim, era isso o que ele era, e ela lembrava-se desse detalhe toda vez que o via, mesmo que em alguns casos esquecesse completamente, como quando ele a fazia sorrir ou a ajudava em alguma tarefa complicada. 

          A princesa também havia aprendido diversas tarefas do lar. Ela agora sabia lavar roupas, alimentar os animais, pegar água no lago e também sabia fazer pão. Embora ainda lhe faltasse certa experiencia, Hvitserk dificilmente ficava bravo quando Alícia não sabia determinada ação, ou manejava algo de maneira errada. Ele sempre fora alguém bastante paciente. 

- O que acha de aprender a cozinhar carme de boi? 

          O rapaz mostrava a garota uma bela peça de boi. Estavam ambos no mercado do porto, e mesmo com o cheiro forte e pouca higiene, Alícia não se via mais enojada com toda a imundícia, como das primeiras vezes. A garota apenas concordou com a cabeça, e Hvitserk recebeu um olhar reprovador do vendedor de carnes, que via toda aquela situação, no minimo cômica. Não era algo muito esperado de um príncipe ficar ensinado escravas, ou até mesmo andando com elas para todos os lugares, no entanto, o rapaz não via problema algum nisso, por isso ignorava todos os comentários e olhares julgadores. Ele era mesmo incrível, e na percepção de Alícia, era louco. 

...

          A noitinha, quando as galinhas já estavam dormindo e os cachorros soltos, Alícia servia a Hvitserk seu primeiro cozido. A cara não era muito boa, e a carne estava um pouco dura e meio sem gosto, mas o rapaz comeu como se fosse um banquete de Valhalla. A menina não comeu muito e deixou quase tudo em seu prato. Quando foram dormir, Hvitserk a disse antes de fechar seus olhos que gostava de tê-la por perto e essa foi a primeira noite em que a garota dormiu sem chorar com saudade de casa. 

        Não que ela houvesse esquecido tudo o que passou e tudo o que o rapaz havia lhe causado, mas por que, naquele momento ela imaginou estar em sua casa em Northúmbria e que mesmo que passasse anos ali, naquela ilha, em algum momento seu senhor, que era realmente alguém bom a iria libertar como havia prometido e ela finalmente viveria em paz, como era antes de sua vinda a Kattegat

...

No dia seguinte, Hvitserk acordou antes dos primeiros raios de sol, caminhou até sua amada que dormia encolhida em um canto no chão e a acordou, ele pediu que não se assustasse pois queria lhes mostrar algo bonito. Eles caminharam morro acima de sua casa, atravessando a trilha na floresta até chegar em um local onde Alícia conhecia bem. Uma cachoeira jorrava de uma pedra na montanha, e por ainda ser madrugada, a água estava congelando. Os dois se sentaram na beirinha e ele escreveu algo na areia usando seu dedo, que Alícia não soube decifrar. 

- O que está escrito? - curiosa como sempre. 

- "Eu gosto de você" - sorriu.

- Mas só existe uma letra.. - ela justificou seu argumento, aquilo não era uma frase, parecia apenas um desenho. 

- É uma expressão. - ele explicou e ambos permaneceram em silêncio. 

          O sol finalmente começou a aparecer e com ele um belíssimo espetáculo da natureza. Os raios solares que batiam na água em pressão criaram um lindo e enorme arco-íris, que acabava bem onde os dois estavam sentados. 

- O meu pai havia me contado uma história sobre os duendes... Ele disse que eram bem pequenos e sorrateiros. Me disse que se eu capturasse um, poderia ir ao fim de um arco-íris e desejar o tesouro do duende... Mas acho que não preciso de um desses, pois acabei de achar o meu próprio tesouro no fim do arco-íris... 

         Alícia esperou ansiosa pelo fim de sua história, enquanto o rapaz se contentava em ver as sete cores brilhando no céu.

- Eu achei você.

Alícia não sabia o que dizer, tampouco o que expressar. Pensou em sorrir, ou abraçar o rapaz, já que gostava de estar com ele. Ela queria poder fazer qualquer coisa para mostrar seu sentimento, embora fosse em uma proporção bem menor que os dele. E nervosa e afoita como sempre, agindo pelo impulso, ela apenas se inclinou um pouco e fez um pequeno bico com seus lábios, acertando um rápido beijo da bochecha barbuda da rapaz. A menina juntou suas pernas no mesmo instante, abraçando a si mesma e enterrou a cabeça em seu colo acanhada demais para olhar para ele. Já o rapaz, além de envergonhado, se via culpado, por saber que fez coisas realmente ruins para ela, para que pudesse ter aquele momento, e bem ali, na beira da cachoeira ela descobriu que gostava do simpático e divertido Hvitserk, e ele descobriu que suas ações custariam o seu amor. 




Qualquer erro ortográfico será reparado.

Queria agradecer vocês pelos mais de 8k de visualizações e os quase 600 votos. Vocês fizeram esta humilde escritora muito feliz. Prometo caprichar um pouco mais na escrita, já que vim percebendo que não ando suprindo minhas próprias expectativas. Votem e comentem, eu amo todos vocês :))) 

VIKING ODIN'S BLOODOnde histórias criam vida. Descubra agora