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           O telhado encharcado e sobrecarregado nada dava conta de escoar toda água da chuva fazendo goteiras por toda a casa, e uma delas era bem no meio da testa de Hvitserk. A febre causada por seus ferimentos haviam se passado e ele agora repousava em sua cama como um bebê que era cuidado por sua carinhosa mãe. 

           O garoto ao menos tinha ideia de como havia chegado ali. Checando suas memórias, lembrou-se apenas de saber de sua vitória em batalha e logo depois desmaiou por exaustão, e também por envenenamento. Lembrou-se também de delirar por um tempo, e ver Alícia bem a sua frente, mas esta não poderia de maneira alguma, visto que suas ordens foram claras e objetivas ao pedir que só saísse de seu esconderijo quando fosse buscá-la. E ela não ousaria desobedecer. 

          Como se em algum momento, Alícia fosse de fato, obediente, e seus olhos quase pularam ao ver Hvitserk acordado e forçando-se a levantar. 

          A menina implorou por coerência da parte do rapaz, que ficou feliz em vê-la na mesma intensidade que sentiu raiva por tê-lo desobedecido mais uma vez, mas seu olhos castanhos, cheios de preocupação e dó o fizeram recuar e seguir seu conselho de ficar deitado, repousando. 

- Você tinha prometido... Que me voltaria bem. - Alícia cobrou, com seu tom magoado, como fazia sempre que estava desapontada. Ele a conhecia bem. 

- Eu não prometi... Não disse nada. 

- Tu me beijaste.. Eu pensei que tivesse me prometido com os teus lábios. - ingênua garota. 

- Não te poderia prometer, Alícia. Porque caso não tivesse sorte na batalha, tu me culparia para sempre. - ele tinha razão, e ela quase fez isso. 

- Não quebre promessas como se fossem vidro. Eu fiquei tão preocupada. - lamentou a menina novamente, e Hvitserk não pôde conter um sorriso. 

           O rapaz esforçou-se para esticar a sua mão e alcançar o rosto da menina, que estava imóvel sentada sobre a cama, com o olhar fixo no chão, e quase assustou-se ao sentir os dedos gelados de Hvitserk, que alisou a pele rosada e por vezes, gélida da menina. Ela não recuou, pela segunda vez desde que passou a viver em Kattegat. 

- Sou mesmo uma mulher livre, agora? 

- Tu és. 

... 

           A recuperação do rapaz fora lenta, e durante seu tempo de repouso, poucos foram o visitar para saber de seu estado de saúde. Bjorn fora umas das pessoas a ir vê-lo, e pela primeira vez em sua vida pediu perdão por algo que cometeu. Hvitserk já nem tinha mágoas, embora se lembrasse das brigas que teve com o irmão no decorrer dos meses, e o perdoou sem fazer o minimo esforço. Ambos vinham da mesma carne, e de acordo com Bjorn, a rainha Aslaung o ficou apoquentando para que viesse saber de seu estado de saúde, e ouvira um "Alícia sempre cuidará de mim" para que pudesse ser repassado a sua progenitora. 

          A garota responsável pela melhora do rapaz tinha em seu coração uma enorme dúvida, que a perseguia dia e noite desde que deixou de ser tratada como escrava, para ser uma mulher livre e com direitos, mas um pressentimento a corria sempre que pensava em contar a Hvitserk.  

          Saudades de sua terra natal e a vontade incessante por saber sobre sua mãe e o rei estavam consigo desde sempre, e ela deveria ser sincera com o rapaz que salvara sua vida, mesmo que fosse o único responsável por esta viver entre nórdicos.

          Alícia então decidiu que cuidaria de Hvitserk até que estivesse totalmente curado, então ela poderia voltar à Northumbria, e então abandonaria toda a sua vida em Kattegat, que de fato, nunca fora "boa" para sentir saudades. Em seu coração, sentia estar fazendo a coisa certa, e iria cobrar pela promessa uma vez feita de que ela teria permissão para voltar a sua capital, mesmo sem ter certeza de que estaria tudo bem por lá. 

          O seu olhar minguante sempre significava algo, fosse ternura ou saudades, mas nunca foi amor. Ela não o amava, era uma realidade, mas tudo o que sentia por Hvitserk era verdadeiro. Ele percebeu isso no momento em que pôs os olhos nela, que atarefada com algo não percebeu estar sendo observada. 

          Alícia não precisou dizer o que queria, e mesmo pertencendo a mundos diferentes, o rapaz a entendia como ninguém e sabia que nunca fora tão compreendido antes dela. Além de linda, ela era inteligente, e tão forte ao não se permitir morrer em momento algum. Mesmo reduzida a capacho e escrava, a menina agarrou-se a sua única esperança que era poder rever os pais e voltar para o seu reino. Tudo isso só mostrava o quanto Alícia da Northumbria era alguém nobre, tanto pelo fato de pertencer a uma família real, quanto por ser tão determinada desde o inicio. 

          Mesmo que fosse extremamente doloroso, Hvitserk não poderia fazer mais nada. Já havia tentado tudo, desde ser gentil a ser carrasco, não poderia mais prender alguém contra sua vontade. Não alguém que ele tanto amava. 

           Foi como se pudesse ouvir a voz de seu falecido pai dizer que,  quando alguém não está feliz fazendo certa coisa, ou estando em certo lugar, é natural querer fazer algo, mudar o próprio destino, ir além, ser livre. Alícia agora era uma mulher livre, ele não a poderia escravizar de novo e se castigava por tê-la dado seu beneficio com tanta antecedência - em sua concepção, claro - sem ter se preparado para dizer adeus. 

           Por que Hvitserk iria mesmo dizer adeus a Alícia, despedir-se do amor de sua vida, e apagar os últimos meses da memoria para o seu próprio bem estar. Caso ela fosse mesmo embora, Hvitserk estaria sozinho novamente, sem sua adorável garota que adorava banhar-se em uma lagoa quase completamente congelada, que cantada em idiomas diferentes e era tão lindamente maravilhosa que chegava a ser pecado olhá-la por tanto tempo. Era era a única em seu coração, e seria até o fim de sua vida. Alícia era o que o mantinha vivo, que o fazia rezar aos deuses para lhes dar mais tempo em Midgard, que não o levasse para Valhalla até que pudesse ter mas um minuto com sua garota, e depois outros, e uma hora à mais, um dia bônus, um mês, um ano, dois, até que este não conseguisse mais carregá-la em seu colo sempre que ela pedisse, Hvitserk rezava por tempo, mas talvez tenha-se se esquecido de orar o bastante, pois seu tempo... Acabou.



(Qualquer erro ortográfico será reparado)

Olá gente linda, eu voltei de novo. Dessa vez a minha demora em publicar foi a falta de criatividade (eu não sabia o que escrever) após excluir um capítulo (que nem estava bom mesmo) enoooormeee. 

Enfim, noticia ruim: o próximo caps será o último. Eu ainda não sei bem como fazer isso, porque caso vocês não tenham percebido, voltamos a cena do prólogo então.. acho que publicarei de novo e então farei a parte final, mas iria ficar "repetitivo".  O que acham que eu devo fazer?

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