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• Eric •

Adapte-se! — ele grita de novo

Eu fico escondido atrás da parede de alvos observando o garoto da Abnegação socando o saco de areia. Amah, nosso instrutor, parece ter uma ligação especial com ele. Eu não entendo. Agora é hora de dormir, no entanto ele está aqui se esforçando para fazer com que o Careta passe na primeira fase. Ele sempre está ajudando esse garoto.
Sempre.
E eu sempre fico pra trás.
Sempre.
Eu sou bom. Eu sou ótimo.
Mas não sou bom o suficiente para Amah me notar.

★★★

A caminhonete em que estamos passa por um muro alto, cercado por uma cerca elétrica no topo. O primeiro portão é cheio de guardas armados que cumprimentam meu ex-instrutor e liberam nossa entrada. Depois, passamos por mais um portão onde a cena se repete. Eu observo tudo com atenção. Inclino meu corpo pra fora, na caminhonete, e observo o enorme complexo em que estamos. É largo, é grande. Um gigante de vidro, aço e concreto que vai até onde não consigo enxergar. Há edifícios baixos por todas as partes separados por mudas de árvores e gramados bem cuidados. As ruas que se conectam são muito bem cuidadas e sinalizadas. ESTUFAS, em frente; POSTO DE SEGURANÇA, esquerda; RESIDÊNCIA DOS OFICIAIS, direita; COMPLEXO PRINCIPAL, em frente.
Amah segue em frente nas ruas bem asfaltadas e então pára em frente à enorme porta de vidro com a placa que diz DEPARTAMENTO DE AUXÍLIO GENÉTICO. Drew é o primeiro a descer, com um pulo feroz da caminhonete. Depois é a vez de Tris, Christina, Quatro, Joanne, Ezra, Jessie, Ali e, por último, Maria e eu.
Maria, apesar da carranca firme, parece receosa ao descer num lugar desconhecido. Ela segura na mão do irmão e então se joga, pulando para a calçada. Quatro me olha e faz um gesto positivo com a cabeça, me encorajando a descer. Então eu desço. Zoe e Amah já estão nos liderando, enquanto todos estamos juntos uns no outro. Tão juntos que consigo ouvir o ritmo da respiração dos outros e sei que Maria sente minha respiração em sua nuca. Aliás, percebo que ela está usando a touca que eu usava no ataque a Jeanine. Ficou bem nela. Gostei de vê-la usar algo meu.

— Bem-vindos ao Departamento de Auxílio Genético ou, simplesmente, Departamento. — Zoe diz com aquele maldito sorriso gentil na cara — Essa base funciona no que, um dia, foi o aeroporto de O'Hare e nós somos uma importante divisão do governo dos Estados Unidos.

As palavras pareciam não fazer sentido. O que significa "estados unidos"? E "aeroporto"? Me sinto um bosta por não entender nada, mas pelo menos não sou o único já que a confusão está estampada no rosto de todos.

— Desculpem. — Amah diz — Esqueço que vocês não sabem de tudo.

— Em outras palavras, essa divisão criou a cidade em que vocês nasceram para um experimento genético. Daqui, nós te observamos. — Zoe explica — Portanto, sei o nome e a história de todos vocês.

Um arrepio gelado percorre minha espinha e, observo a nuca de Maria se arrepiar também. Mais gente sabe o que eu fiz com ela em sua iniciação. Essa gente sabe da minha história. Isso me deixa furioso. Me sinto violado.

— Bom, nós vamos entrar agora e vocês verão muita coisa que não fará sentido para vocês. Peço que se mantenham pacientes e que guardem as perguntas para depois, num primeiro momento. — Zoe explica de forma paciente — Eu os levarei para a sala de controle, onde vocês conhecerão David, o líder desse lugar.

Ela e Amah se viram de costas para nós e então as portas do lugar se abrem. Dois guardas fortemente armados as seguram enquanto nos lançam sorrisos calorosos. O contraste entre o sorriso deles e as armas que carregam é imenso. Me pergunto o por quê de tanta segurança, uma vez que há duas cercas — uma delas elétrica — e gente armada lá fora. Me pergunto também como é a sensação de atirar com uma arma daquelas. Quatro está encarando as armas e, apesar da cara séria, sei que também se pergunta isso.
Quando entramos, vejo paredes cinzentas e um mar de gente e tecnologia. O chão é opaco por ser antigo e dá um ar de descuido no local. Há uma placa imensa indicando que esse é o lugar de verificação de segurança.

— Armas são proibidas dentro do Departamento, portanto elas ficarão aqui na verificação. — Zoe anuncia — Mas, uma vez que vocês queiram sair, podem pegá-las quando quiser.

— Não aguento mais a voz dessa mulher. — murmuro

— Idem. — Quatro murmura concordando

Deixamos as armas na bancada e então passamos por uma caixa metálica que leva a um túnel. Apesar de ser o último da fila única que fazemos, consigo observar que Drew apóia as mãos nos ombros de Maria e passa na caixa com ela, entrando no túnel. Cerro o maxilar e entro logo após Christina. Ficamos dentro do túnel e então um apito agudo é ouvido. Logo nossa saída é liberada e passamos para o outro lado, onde tudo parece mais cuidado e mais colorido. O chão, apesar de antigo, está tão bem polido que chega a brilhar. Há diversas mesas com diversos computadores e Zoe nos guia sempre em frente, passando por várias pessoas que nos lançam olhares e cochichos. Uma garotinha de aproximadamente uns dez anos arregala os olhos ao me ver. Eu a encaro sério e vejo o pânico em seu olhar. A mulher que a acompanha coloca as mãos em seus ombros e murmura algo para fazê-la se acalmar. Desvio o olhar.
Entramos numa parte onde há diversos monitores espalhados e várias pessoas digitando furiosamente em teclados. O lugar me lembra a Erudição, apesar de ser mais claro e nada aqui parecer estar escondido. Um homem mais velho, que suponho ser David, está usando uma roupa azul marinho como todos os outros e sorri abrindo os braços para nós.

— Vejam! — ele chama a atenção — Estamos esperando por isso desde o princípio. — ele sorri empolgado

Eu fico quieto e então embarco na maluquice que ele começa a falar, mas minha mente trava ao ouvir a primeira frase. Vou ter que pesquisar por conta própria, uma vez que não consigo entender nada do que ele passa exatos trinta minutos explicando. Olho para Quatro, que está tão torto que parece que vai desmaiar a qualquer momento. Maria permanece de pé, mas as mãos de Drew em seus ombros indicam que ela pode cair a qualquer momento. Estamos todos exaustos.

— Ok, acho que as explicações podem continuar depois que vocês descansarem. — o tal David diz — Vou levá-los.

David nos guia por todo o caminho de volta e passamos pelo posto de verificação e entramos numa outra parte do complexo. Tenho vontade de pegar minha arma e voltar pra cidade, onde sei que Evelyn me espera para me matar. De repente a morte me parece reconfortante.
Entramos num aposento grande, com chão de madeira, luzes amarelas e janelas grandes com cortinas elegantes. O papel de parede descasca em suas extremidades e as barras das cortinas estão puídas. As camas com baús estão feitas exatamente na quantidade de pessoas em que estamos.

— Este será o espaço temporário de vocês. — David explica — Até vocês decidirem se vão ou se juntam a nós, vocês ficam aqui. Boa noite.



***

Por trás das cortinas, vejo a noite estrelada. Caminho devagar para passar despercebido e saio dali, logo me sentando num corredor escuro e vazio. Preciso ficar sozinho.

— Estou feliz em te ver vivo. — a voz de Amah preenche meus ouvidos, mas eu não levanto a cabeça para olhá-lo — Imagino que esteja confuso quanto ao que acontece e que queira saber como eu vim parar aqui.

— Hoje não, Amah. — murmuro com um fiapo de voz e apóio os braços nos joelhos, logo escondendo o rosto

— Você está esgotado, Eric. Vá descansar. — sinto sua mão em meu ombro e sei que está abaixado na minha frente

— Eu quero ficar sozinho.

— Eric. — ele alerta

— Eu quero ficar sozinho. — digo com mais firmeza

O sinto se afastar e então ouço seus passos leves se afastando de mim. Fecho os olhos com força e puxo os cabelos.

Que merda está acontecendo?

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AquelaAutora

Danificado - Divergent FanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora