Danificado - Divergent Fanfiction

041

• Eric •

Quatro está diferente.
Muito diferente.
Com o passar dos dias, agora que Maria e eu nos entendemos, todos fazemos tudo juntos. Vemos aviões, cálculos, observamos as pessoas da cidade e vimos que uma guerra civil está prestes a ser instalada, já que o confronto entre Evelyn e os Leais está mais próximo do que imaginávamos.
Mas tudo o que fizemos juntos, Quatro não estava presente. Está sempre se esgueirando pelos cantos, chegando tarde pra dormir. Ouvi as meninas consolando Tris sobre ele estar mais fechado, mas não me intrometi. Maria me disse que estava curiosa para confrontar o irmão, mas que não o faria porque achava que não daria em nada. Tinha medo que ele a afastasse por se sentir abandonado. No fundo, achei isso uma tremenda idiotice. Quatro estava diferente desde que descobriu que não é Divergente ou puro como as pessoas daqui gostam de falar. Isso é lamentável. Olha as coisas boas e engraçadas que fizemos essa semana e que ele perdeu por se achar incapaz.
Eu, definitivamente, não consigo entender o que Amah viu nele. Sinceramente.

Lavei o rosto e me olhei no espelho, vendo o mesmo limpo e sem barba de novo. Tirando o cabelo um pouco grande, parecia eu de novo. Finalmente. Encaro a navalha bem amolada que Logan me deu e, como num gatilho, começo a pensar nas pessoas que matei por serem divergentes. Minha mente logo me trai, fazendo-me ver na minha cabeça a imagem de Maria de joelhos na minha frente e eu com uma arma apontada pra cabeça dela. O que eu teria feito se Quatro não tivesse chegado a tempo na sede da Franqueza?

— Você tá encarando essa navalha como se ela fosse criar vida e fazer sua barba sozinha. — ouço o comentário do meu cunhado

Ergo o olhar para o espelho e vejo o reflexo cansado de Quatro nele. Ele têm os olhos cansados e envoltos em olheiras.

— Quer? — ofereço a navalha pra ele, ainda o encarando pelo espelho

— Onde conseguiu isso? — ele franze o cenho

— O pai da Maria me deu.

Quando termino a frase, Quatro faz uma careta esquisita. Acho que o fato de eu mencionar que o pai de Maria ainda está entre nós o incomoda.

— Toma, cara. — pego a navalha em mãos e coloco na pia do lado — Tá parecendo um mendigo sem facção.

— Bom, sou filho de uma. — ele rebate mal humorado e veste uma camisa limpa

Pode ter parecido que falei de propósito, mas não falei. Juro que não falei. Eu até esqueço que Quatro é filho da líder dos Sem-Facção. Pra mim, ele ainda é um Careta. Apenas isso.
Seco o rosto na toalha e visto uma camiseta preta limpa. Em silêncio, observo Quatro passar um pouco de sabão no rosto e começar a manusear a navalha para se livrar dos pêlos. Recolho minhas coisas de higiene, as coloco na bolsinha que ganhei e me sento no banco do vestiário, começando a calçar minhas botinas. Estamos só Quatro e eu aqui, e eu não posso mais ignorar a curiosidade dentro de mim.

— Maria comentou comigo que você se afastou. — digo amarrando os cadarços da bota esquerda — Ela sente sua falta.

— Sente mesmo? — ele pergunta e sua voz sai esquisita, por seu rosto estar retorcido pro melhor alcance da navalha — Não me lembro dela ter me procurado.

— Ela não fez isso porque achou que seria melhor te dar espaço.

— Ou porque estava ocupada demais transando com você.