Um

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Encarar a mala abarrotada de roupas à minha frente me fez sentir um frio na barriga, ainda não conseguia acreditar que estou indo para São Paulo para passar dois longos anos, a minha salvação foi que conheci uma garota no dia da prova ela é médica e está concorrendo a uma das vagas destinadas a medicina, o nome dela é Angelique uma loira muito bonita. Ela conversou comigo sobre a república que mora com mais três pessoas e disse que tem uma vaga com um custo muito bom para o valor da bolsa.

Duas semanas depois da prova recebi o resultado por email, estaria na segunda fase, que foi bem mais assustadora por se tratar de uma entrevista, tentei ficar mais calma possível ou pelo menos parecer calma, quando sair da sala da entrevista encontrei a Angelique, ela estava muito triste sentada num banco no final do corredor.

— está tudo bem? - perguntei me sentando ao lado dela, me perguntava quais problemas alguém como ela poderia ter, mas logo repreendi estes pensamentos, não deveria julgar alguém pela aparência, afinal ela mora em uma república não deve ser rica.

— estou bem, só problemas familiares - diz mostrando o celular e fazendo uma careta.

— família é complicado, mas tudo vai ficar bem... - o silêncio dela me incomodou bastante depois desta frase e me sentir mal por isso, então mudei de assunto — sabe quando estava chegando aqui vi uma sorveteria não quer ir comigo, pode ser divertido.

Em resposta ela deu de ombros, porém me seguiu até a sorveteria na qual conversamos besteiras, rimos juntas de vídeos toscos da internet e quando chegou o final da tarde decidi se eu passasse na entrevista ficaria com a vaga na residência dela.

O email da minha admissão chegou uma semana depois, confirmando minha vaga no Hospital São Paulo, minha família está apoiando a minha decisão, meus amigos estão fazendo falso drama dizendo que vão me esquecer e nem irão me reconhecer quando voltar e tem o Christopher meu namorado, estamos juntos há um ano e ele é um super nerd que honra sua classe de óculos, cabelo cacheado na testa, camiseta de animes, calça jeans surrada, adora matemática e joga vídeo Game muito bem.

O momento da despedida chegou de forma assustadoramente rápida, fiquei observando minha cidade pela janela do táxi a caminho do aeroporto. Seria minha terceira vez num avião, mas desta vez era diferente, seriam dois anos distante e observar a expressão facial de todos no aeroporto não me ajudava muito a me animar.

Meus amigos a Dulce e o Christián estavam me olhando com uma expectativa enorme a espera de eu fraquejar a qualquer momento, o Christopher tentava esconder a tristeza que estava estampada no rosto dele e a minha mãe estava a ponto de me levar de volta para casa, porém não poderia, se eu não fosse passaria o resto da vida idealizando como poderia ter sido, é chegado o momento de cortar o cordão umbilical.

— Quando chegar lá me ligue, fale como foi e se elas foram realmente te buscar no aeroporto - minha mãe sempre superprotetora, acredito que na cabeça dela eu ainda sou um bebê recém nascido.

— Está bem mãe eu prometo ligar e a senhora tome cuidado também, não gosto de saber que ficará só! - e esta é a minha principal preocupação, me angustiava pensar que ela ficaria sozinha, mesmo não sendo idosa isto ainda me incomodava bastante.

— fique tranquila tenho o Ricardo, ele sai comigo nos finais de semana - esse é meu padrasto, um amor de pessoa, um super fã da franquia 'star trek' e para tudo tinha uma referência que me arrancava muitas gargalhadas todas as vezes que nos encontrávamos nos almoços em família.

— está bem, dona Isabel - sorrio e a abraço, logo em seguida encaro meus amigos e eles estavam merecendo ir para Hollywood pelo drama das carinhas tristes, eu precisava os abraçar bem forte e foi isso que fiz.

— mulher dê notícias de todas as novidades - solto um sorriso de leve para Christián, sempre querendo saber da vida dos outros, não é atoa que vive assistindo programas de reality show na TV.

— irei te contar tudo - ele sorri satisfeito e volto a minha atenção a Dulce — amiga se cuide e nada de cair nas conversinhas desses babacas de boate - ela sorri torto e me abraça apertado.

— não irei, tenho o Christián para me proteger - finjo estar chateada por ser substituída tão rapidamente, mas não resisto e os abraço novamente.

Christopher estava encarando o chão e ajustando o óculos na face, meu coração doeu em saber que mesmo tendo feriados prolongados, seriam poucos que iríamos nos ver, ele estava estudando não poderia viajar e eu não poderia voltar, seria a prova de fogo do nosso relacionamento.

— eu irei voltar para você - digo o beijando na bochecha, o fazendo sorrir fraco — pensou melhor na proposta que te fiz? Eu irei entender se você ficar com outra pessoa enquanto estiver fora - ele negou com a cabeça.

— não quero mais ninguém além de você, irei te esperar o tempo que for necessário - dou o meu melhor sorriso e o beijo, mesmo ele não gostando de me beijar em locais públicos não resisto.

— eu te amo - o seu rosto ficou completamente vermelho e sorrio da situação, ele estava complemente envergonhado pela demonstração de afeto em público.

— eu também te amo sua maluquinha - levando sua mão ao meu rosto e fazendo um carinho no meu queixo, como sentiria saudades dos carinhos sutis dele, ele parecia um príncipe de tão fofo.

Conheci o Christopher há mais ou menos dois anos atrás numa festa de aniversário de um amigo da Dulce, ele estava bêbado e após nos beijarmos ele vomitou no meu pé, eu fiquei com muita raiva, mas muita raiva mesmo! Ele conseguiu meu número com a Dulce e me pediu desculpas, começamos a conversar por mensagens de texto, depois marcamos para sair e nos tornamos amigos, eu não queria namorar com ele e nem ele comigo, pelo menos era o que eu pensava. 

Depois de quase seis meses saindo com grupos de amigos, saímos juntos sozinhos pela primeira vez e ele me beijou no cinema, foi inesperado e muito bom e a partir deste dia começamos a namorar e  esta seria primeira vez que nos distanciamos. Não queria dizer adeus, mesmo que não fosse definitivo, mas sabia que a distância poderia nos mudar e ele também sabia disso, meu voo foi anunciado, abracei a todos e embarquei dizendo adeus a minha cidade e a minha antiga vida.

Ao chegar em São Paulo, fui direto esperar minha mala e fui para o saguão onde avistei Angelique, com outra garota loira e um rapaz moreno, me aproximei e ela segurava uma plaquinha com o meu nome com um enorme sorriso no rosto.

— eu iria te reconhecer - disse rindo ao observar a placa, ela sorria tão abertamente que seu rosto estava completamente vermelho.

— eu sempre via isto em filmes e sempre quis fazer - dando pulinhos e me abraçando — essa é a Fernanda minha namorada e esse é o Alfonso meu irmão.

— Anahí Portilla - os cumprimento com a mão, e calculando tudo o que havia escutado, jurava que a loira era irmã dela (por ser loira), mas era a namorada! Eu não tenho preconceitos, mas estava torcendo para ele ser o namorado de alguma delas. Eu amo o meu namorado antes que pensem que estou querendo agarrar o irmão da Angelique, mas a beleza dele beirava o absurdo era praticamente impossível não o comparar aos príncipes da Disney e me xingo mentalmente por associá-lo a um príncipe Disney.  

— pensei que era uma pós graduada, não esperava uma colegial de franjinha e tudo - disse rindo e que sorriso, mas naquele exato momento foi como receber um grande balde de água fria, ele até poderia ser bonito, mas é um tremendo de um idiota.

— e eu pensei que tivessem só mulheres na república, já que a Angelique me disse que só aceitava mulheres, você é gay? - não resisti, se ele falasse que sim o meu sarcasmo seria em vão, mas pela careta dele vi que acertei em cheio.

— eu não sou gay, por que tá interessada? -  eu rolei os olhos e cruzei os braços, a Angelique entendeu na hora que a situação não estava nada boa, eu estava prestes a dar uma joelhada bem nas áreas nobres do irmão dela!

Oasis [Ponny]Onde histórias criam vida. Descubra agora