Quarenta e Dois

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- Alfonso -

Gostaria muito de poder ficar na cama com Annie até ela acordar, mas meu celular me acordou bem antes do esperado na segunda feira, era uma mensagem do meu colega o promotor William, com apenas uma frase "céu nublado", levanto da cama rapidamente e me arrumo o mais rápido que posso e corro até o tribunal.

"Céu nublado"

Para qualquer pessoa aquela mensagem não iria dizer nada e este era o intuito, porém aquilo para mim era algo urgente e muito ruim, eles devem ter descoberto alguma coisa grave da operação.

— Alfonso, ainda bem que você chegou logo, os PF descobriram algo muito importante, mas você precisa sentar - assim que me sento ele me entrega uma envelope com papéis da Fundação Raio de Sol, minha mãe era presidente e o partido do meu pai sempre fazia doações.

— É a fundação da minha mãe - ele concorda com a cabeça se sentando a minha frente.

— Lembra das imagens que você nos passou? A relação da sua mãe com o presidente do partido acionou um alerta na cabeça dos PF e da minha também, então tomei a liberdade de pedir para eles investigarem a fundação - começo a ler os papéis, as doações eram gigantescas.

— A investigação é sua William, estou apenas como um fantasma nela - digo ainda com os olhos grudados nos papéis, até que chega a um ponto chave que fez meu sangue congelar nas veias, William solta um suspiro pesado e se joga na poltrona a minha frente.

— Iremos precisar de mais provas que isso para pegar todos eles de uma vez, sem pontas soltas, os PF nem sonham com seu envolvimento nesta investigação, pois você é definitivamente uma ponta solta. Alfonso seus pais estão envolvidos com uma rede de prostituição, envolvendo até mesmo menores de idade, preciso saber até que ponto você estará conosco.

Não o respondo prontamente, estava em choque, pensava que meus pais estavam envolvidos em um esquema de corrupção grande, mas isto nunca passou pela minha cabeça, estava com vergonha, com nojo, o chão tinha literalmente se aberto aos meus pés.

— Estarei com vocês até o fim, não posso ser egoísta e agir em prol dos meus pais quando eles estão destruindo milhares de vidas, William pode ser estranho você me ver falando assim dos meus pais, mas eu estou literalmente envergonhado e enojado com isto.

— Só te peço que se controle, não deixe nada vazar desta sala, o meu maior medo é você explodir e acabar arruinando tudo, não é fácil prender políticos neste país - concordo com a cabeça soltando o ar devagar, não posso colocar tudo a perder, agora não é mais algo pessoal contra o crápula do Astolfo, estávamos falando de crianças.

Sinto meu celular vibrar assim que desbloqueio a tela vejo uma mensagem da Anahí.

"Aconteceu alguma coisa? Acordei e você não estava mais na cama, estou chegando ao hospital agora, bom dia, te amo."

Respondo brevemente "trabalho", até que algo imensamente insuportável chega a minha memória.

— William lembra daquela medida protetiva que você agilizou para mim? - ele concorda com a cabeça — Nas imagens que te passei mostra bem a minha namorada, naquela noite ela quase foi estuprada por ele, poderemos usar isto para pesar mais no tribunal?

—  infelizmente Alfonso a sua namorada não veio a fazer corpo de delito, nem as imagens mostra o ato, usando aquelas imagens os advogados poderiam reverter tudo contra ela, até mesmo a acusar de tentativa de homicídio - solto um suspiro pesado.

As imagens daquela maldita noite ficaram entre eu e o William, ele achou melhor não passar aos PF, se elas fossem anexadas ao processo iria envolver a Anahí, ela não queria aquilo e agora racionando melhor não posso me deixar ser guiado pela emoção, preciso deixar a razão tomar conta.

Quando a noite chega vou buscá-la no hospital, depois do dia fatídico no qual me dei conta que as coisas eram muito piores do que imaginava, passei a criar um monte de paranóias na minha cabeça, buzino quando a vejo descer a escadaria do hospital.

— Sua carona chegou princesa - ela nega com a cabeça entrando no carro e me beijando assim que se acomoda no assento.

— Por que não avisou que vinha? - dou de ombros e a abraço apertado, sinto suas mãos fazer carinhos leves no meu cabelo, a sentir em meus braços me fez sentir o quanto estávamos vulneráveis, quanto mais fundo a investigação estava indo, mais temeroso ficava.

Ela me olha com seus enormes olhos confusos quando nos afastamos, mas suas mãos vão até o meu rosto, fecho os olhos ao sentir um pequeno beijo no nariz, depois nas bochechas, testa, queixo e finaliza com um selinho demorado na boca.

— Só irei te fazer uma pergunta - temo ter que mentir para ela, por mais que eu confie nela, para sua própria segurança não posso contar nada — é coisa do seu trabalho ou comigo?

— Trabalho, estamos com um processo complexo - ela concorda com a cabeça —  por que achou que fosse contigo? - ela dar de ombros — vamos Annie!

— É que depois da noite que tivemos, encontrar a cama vazia foi um pouco frustante, então comecei a pensar um monte de besteiras e a única mensagem que recebi sua durante todo o dia foi "Trabalho" - ela olhou para as mãos — sei que estou sendo ridícula.

Merda!

Merda!

Merda!

— Me perdoa por favor, estava atordoado demais com a papelada que tinha recebido, se tem alguém ridículo aqui sou eu - levanto o seu rosto para que pudesse a olhar nos olhos — Eu te amo Annie, muito, só sou péssimo nisto de romantismo - ela nega com cabeça.

— Você foi muito romântico ontem - diz mostrando a correntinha, solto uma risada baixa ao lembrar da sua reação ontem.

— Posso te perguntar uma coisa? - ela assenti — o que pensou quando eu te pedir em namoro?

— Isto você nunca vai saber senhor Herrera - ela diz rindo fraco, me aproximo do seu rosto a olhando bem nos olhos — não vai adiantar tentar me seduzir assim! - suas mãos me empurram e volto a recostar minha coluna no assento rindo fraco.

— Péssima escolha Anahí, agora minha imaginação vai trabalhar a mil - ela simplesmente dar de ombros colocando o cinto.

— Isto parece um problema seu - abro a boca incrédulo, enquanto ela sorrir.

— Preciso te afastar da Angelique e da Fernanda com urgência! - ela rir ainda mais — Vamos jantar fora hoje - anuncio ligando o carro novamente e dando a partida até um restaurante que gostava muito de frequentar enquanto estava na faculdade.

Me sento com a Anahí na varanda do primeiro andar, aquela mesa sempre foi a minha favorita, fazemos os nosso pedidos e um sorriso brincalhão ainda dançava em seus lábios e como eu amava aquele sorriso.

Oasis [Ponny]Onde histórias criam vida. Descubra agora