Vinte e três

453 39 6
                                    

— fiz algo errado? - ele pergunta com um olhar confuso, eu respiro fundo e desço do balcão, fechando aquela maldita revista.

— você ainda está envolvido com a Claúdia, não quero fazer parte de nenhum triângulo amoroso doentio e também acabei de sair de um relacionamento, não quero emendar outro, muito menos num tão complicado como seria com você - volto o meu olhar para ele, a confusão deu lugar à tristeza. 

— pensei que já tínhamos resolvido isto no sábado, mas vejo que não confia em mim - solto uma risada fraca, por que para os homens as coisas sempre pareciam ser mais fácies? Segurando a revista com força na mão direita e levanto a cabeça para o encarar. 

— então conquiste a minha confiança - empurro a revista no peito dele e vou para meu quarto,  assim que fecho a porta meu celular vibra na cama e atendo.

— filha conversei com o Christopher hoje, ele ainda está muito abalado com tudo que houve, ainda é difícil de acreditar que você o traiu, você não faria este tipo de coisa - respiro fundo, nem eu saberia explicar como fui capaz de trair ele. 

— eu não sei o que deu em mim, eu jamais trairia o Christopher, mas o Alfonso me deixa descompensada eu não consigo compreender o que sinto e nem minhas ações, nem eu me reconheço - ouço ela suspirar no telefone. 

— você se apaixonou filha - soltando outro suspiro — sempre admirei o seu relacionamento com o Christopher, dava para ver a quilômetros que gostavam, mas não havia paixão - sinto meus olhos arderem e as lágrimas começam a descer, meu relacionamento estava fadado ao fracasso e até a minha mãe sabia disso. 

Pode parecer covardia, mas comecei a acordar e sair mais cedo para não me encontrar com o Alfonso, sabia que em algum momento iria nos encontrar, mas precisava evitar o máximo possível e para completar a ópera, tinha pesadelos com uma frequência assustadora com Cláudia o beijando e depois rindo de mim, repetindo a frase: acabou o conto de fadas princesa, sempre acordava depois desta frase com vontade de quebrar alguma coisa. 

Estava finalmente tendo uma boa frequência no hospital, aproveitava para pagar os plantões que perdi até mesmo no carnaval, mas assim que o carnaval acabou recebi minha escala do mês percebo quatro dias consecutivos em branco, solto um suspiro pesado, isto só poderia indicar uma viagem, solto um suspiro pesado quando ouço meu celular tocar no final do plantão, era a Fernanda.

— Annie você vai para Sorocaba na semana que vem, acabei de saber agora e te liguei para não ter surpresas - solto um suspiro pesado. 

— está bem, já esperava por isso quando vi a minha escala mensal - me despeço dela e dobro o jaleco o guardando num saquinho e o jogo na bolsa.

 Assim que chego à porta de saída do hospital percebo que estava chovendo forte, pego meu guarda chuva, mas assim que chego à calçada ouço uma buzina, paro em frente ao carro que estava com a luz interna acesa e o Alfonso dar um tchauzinho sorrindo torto, respiro fundo numa luta interna entre entrar no carro e sair correndo, porém resolvo agir como adulta e entro no carro.

— já está sabendo da novidade? - concordo com a cabeça encarando o guarda chuva molhado nas minhas mãos — Annie sei que está tentando me evitar, mas você pediu para eu conquistar a sua confiança e não me dar espaço para tal, percebi que estava se esforçando para me manter longe e te dei espaço, porém não suporto mais este clima entre nós. 

— sei que estou agindo como uma covarde, mas só estou com medo - volto a minha atenção a ele que me encara com o cenho franzido — eu estou descompensada por você e isto me assusta - ele sorri fraco encostando a cabeça no banco do carro. 

— esta é a sua forma de dizer que está apaixonada por mim? - abaixo a cabeça concordando — eu também estou "descompensado" por você, então não vejo do que tem medo - engulo o seco. 

— você tem o seu relacionamento conturbado com a Cláudia, ela está disposta a fazer qualquer coisa por você, aquela revista de fofoca é prova disto - ele se aproxima de mim segurando meu rosto com ambas as mãos. 

— eu não tenho mais nada com a Cláudia, no dia do jantar de caridade eu estava pensando que não significava nada para você, então acabei cedendo a ela - tentei abaixar o meu rosto, mas ele o manteve firme entre as mãos — mas me arrependi no exato momento que percebi como aquilo feriu você e respeitei o seu tempo. 

— queria esquecer este dia por muitos motivos - ele sorriu fraco e soltou o meu rosto. 

— você ainda sente a falta dele? - ele pergunta ligando o carro e dando a partida, coloco o cinto de segurança e respondo.

— nós namoramos por dois anos, sinto saudade dele, mas não do nosso relacionamento - ele concorda com a cabeça e liga o rádio, após alguns minutos de absoluto silêncio ele se pronuncia. 

— vamos ficar na casa do prefeito, então acredito que teremos que dormir juntos novamente - concordo com a cabeça, já esperava por isto — minha mãe me ligou umas cinco vezes hoje, segundo ela precisamos ser mais próximos, principalmente depois daquilo que aconteceu, não sou muito bom nisso você sabe, então se fizer algo errado me avise - ele falava com os olhos fixos à frente, já estávamos quase no prédio, mesmo depois de estacionar ele evitava me olhar. 

— Alfonso? - ele me encarou sério — não vai ser evitando me olhar que vai convencer alguém que estamos juntos, eu também não sou muito boa nisso, mas vamos deixar nossas incertezas aqui e lá seremos um casal feliz e super romântico - ele fez uma careta. 

— está bem, mas tem mais uma coisa que precisa saber, o presidente do partido também estará indo para Sorocaba - o que ele queria dizer por isso? Franzi o cenho confusa, o que o fez respirar fundo antes de falar — o filho da puta da festa do comitê - sentir meu corpo inteiro congelar, não poderia passar por aquela situação terrível novamente.


Oasis [Ponny]Onde histórias criam vida. Descubra agora