Apenas Quatro

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Isso é real. Isso é real... Ou isso é um sonho e eu ainda estou dormindo na cama dele. Ai meu Deus! A cama de Matt!

Pare de sorrir. Pare de sorrir.

Eu não consigo parar de sorrir.

Um calor parecia aquecer tudo de dentro para fora. Não sabia mais se era o meu corpo ou se ainda era o cheiro do perfume dele - o qual roubei algumas gotas - que me deixavam assim, mas eu não conseguia parar de sorrir. Estava pela primeira vez onde queria estar. Nos braços dele, achada, em mim.

-Então é isso? - Abri os olhos. Sabia que seria ruim. Desde a decisão sobre ir à festa e principalmente voltar dela. Era melhor talvez que eu tivesse morrido por lá, assim não teria de encarar tudo isso. Encostada na porta e encurralada por meu pai eu não tinha mais pra onde correr. - Vai se tornar uma vagabunda como sua irmã!

-Pai. - O primeiro tapa estalou em meu rosto.

-João! - Minha mãe clamou. Outro. - Por Deus, pare com isso. - Voltava sempre a encarar os olhos dele.

-Responda! - Gritava. - Quer ser como ela?

-Eu só fui a uma festa. - Sussurrei, o que parecia o fazer ainda pior. O tapa seguinte me levou ao chão.

Já estive aqui antes por tantos motivos. Não me permitia chorar mais.

O estalar do cinto. Sua vontade determinada em punir. Um amor inexistente. Um ódio amargo. Uma magoa continua. Dor por dor.

Não houve e nunca haveria amor dentro dele. Suportava tudo buscando os olhos dela. Queria que minha mãe visse. Que enxergasse o que sua decisão em ficar com ele nos trouxe. Fiquei por ela e esse era só uma terça parte do preço que pagava a mais de duas décadas.

-Pare! - Ela pedia, eu não pedia mais. - Vai matar nossa filha.

-Esse pedaço inútil de merda não pode ser minha filha.

Senti o sangue queimar em mim.

Encarei os olhos dele. Fiquei em pé no último de todos os esforços corri escada acima e bati a porta do quarto.

Estava fervendo, mal sentia a dor. Queria matar ele e ela, ou quem sabe só a mim mesma. Queria gritar, pedir ajuda, queria berrar apenas, até explodir meus pulmões. Nunca teria fim. Eu morreria antes que tivesse a felicidade de ter um pouco mais de paz. Morreria antes de ver o corpo dele frio. Antes de salvar a minha alma. Ou a dela.

-O que está fazendo Clen? - Minha mãe rompeu pelo o quarto me assustando.

-Eu? - Tocava meu próprio rosto. Sentia o sabor amargo do sangue que escorria de mim. - O que eu estou fazendo?

-Sair dessa forma sem nos avisar e ainda volta aqui com aquele homem e...

-Eu estou vivendo a minha vida! - Berrei. - Vivendo mãe! Só isso. Que mal eu fiz. Olhe. - Apontei. - Olhe pra mim. Para o meu rosto, meu corpo. Veja. Estou sangrando mais uma vez e vem aqui defender ele.

-Não meu bem, mas...

-Mas a merda com o seu mais. - Ela engoliu em seco. - Escute. Ouça bem. Nunca mais isso vai acontecer.

-Luna...

-Não! - Gritei outra vez. - Saia daqui. Vá embora.

-Me deixe cuidar de você filha.

Uma Gota de Sangue - Ruth CostaOnde histórias criam vida. Descubra agora