Apenas Dezesseis

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Abracei a mim mesma antes mesmo de abrir os olhos. Segura embaixo das cobertas eu tentei evitar a sensação de frio. Tentei esconder que eu abriria os olhos para a pior realidade. Me sentia culpada e vazia. Tinha feito amor com ele e tinha sido deixada para trás outra vez. Quando abri os olhos pisquei assustada. Mamãe estava ao meu lado me olhando de perto. Ela colocou algo no criado mudo e me sorriu em melancolia.

-Oi princesa.

-Oi mamãe.

-Dormiu bem?

-Que horas são?

-Três, eu acho.

-Três da tarde?

-Isso. - Nós duas sorrimos. Por tantos anos eu tinha desejado aquilo. Aquela solidão que somente eu e ela partilhávamos e agora eu a sentia perdida. - Você precisava dormir então eu deixei.

-Obrigada. - Disse e sentei. A pequena caixa em vermelho chamou minha atenção, assim como o papel dobrado embaixo dela. Eu não sabia como encarar aquele novo fato, ser ou não amante de alguém. Eu só conseguia olhar para minha mãe e saber que ela já esteve aqui. Onde eu estou.

-Perdoar não é fácil Clen.

-Eu sei.

-Comece devagar então. Comece por si mesma e então pelos outros. Todos que estiveram envolvidos nisso talvez não tivessem controle. - Suspirei ao sentir seu beijo minha testa. - Vou preparar algo pra você comer. - Sorri e ela partiu. Apanhei o papel dobrado ao meio com um medo assombroso de ler o que estivesse ali. Seria mais uma vez adeus?

Minha amada Clen,

Há algum tempo conheci um homem que se viu completo ao dizer - sim - para a mulher que ama.

Creio que você também o conheça.

Então, hoje é minha vez de pedir que você diga - sim.

Diga - sim, eu vou esperar.

Diga - sim, pra essa nova promessa.

Sempre seu.

E ali sobre o corpo vermelho da pequena caixa jazia nós dois. Alianças em ouro com a data que eu o havia pedido em casamento. Matt queria o meu - sim - sobre a indefinição de quando ele poderia ser meu, queria um sim sobre as meias verdades, ele queria a confiança de que eu o esperaria voltar.

E eu?

Esperaria?

*~*~*

-Então sabe que ele foi me ver? - Fiz outra flexão enquanto Billy contava.

-Sim. - Respondeu vagamente.

-E não... - Parei e deitei no chão agora fazendo abdominais. - Não é horrível pra você saber disso? Quer dizer, você é muito amigo da esposa dele. - Senti suas mãos em meus pés, me ajudando a manter o ritmo.

-Não faça perguntas que não quer ouvir as respostas. - Disse outra vez.

-E se eu quiser?

-Não quer não. Você precisa encostar nos joelhos. - Ele forçou minhas costas. - Ter as respostas faria com que você pegasse um avião para o fim do mundo para nunca mais voltar. E eu sei que você ama todos ao seu redor para deixa-los.

Uma Gota de Sangue - Ruth CostaOnde histórias criam vida. Descubra agora