Apenas Dezessete

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Um e dois. Escoro na suposta parede envolta por arbusto e volto a puxar o ar. Nunca fizera um treinamento tão real quanto esse e não importa as maneiras que posso usar para chamar a atenção dele. A arma pesa em minha mão como se tivesse o mesmo peso de um planeta. Mas a trava está aqui, eu estou segura.

Avanço devagar, passos em seu extremo silêncio. Preciso me concentrar em ouvir, ter paciência para achar e frieza pra finalizar. Preciso terminar depressa o que tenho a dizer. Missões quase impossíveis.

-Ontem. - Eu tentei. - Tudo que aconteceu ontem, foi o mais completo dos absurdos. E honestamente Adam, passar por mais isso não está em meus planos.

Ouvi o passo dele a sombra raspou de leve meu campo de visão. Me afastei da parede lentamente sabendo que assim como eu ele estava escorado ali. Virei como se o encarasse. Eu sabia que no final - eu - hesitaria, mas, e ele? Adam assim como eu compactuava da ideia de que isso era apenas um treinamento?

Ele esperou, totalmente quieto o que me fez entender que ele só havia chegado até ali porque queria me ouvir melhor.

-Nunca fizemos arranjos de união estável. Eu nem posso gostar de você e ontem, vi o meu amigo quase disparar uma arma contra o babaca que você sabe é o amor da minha vida. Nunca escondi isso de você, nunca foi um segredo o meu sonho de que ele fosse apenas meu. Ou será que eu vi tudo errado? Não reconheci você ontem, e isso foi o que me assustou.

-É por que você não me conhece. - Em fim ele respondeu. Sentia que ele estava se mexendo, mas de maneira alguma podia prever os passos dele.

-Se não conheço você nem ao menos um pouco sou mesmo uma idiota

-Que bom que entramos um consenso.

-O que você quer Adam? Namorado e namorada? Casar? Ter uma vida comigo? - Revirei os olhos como sabia que ele estava fazendo. - Não, você não quer nada disso comigo. Você nem ao menos quer ficar comigo.

-O que não indica que quero as mãos daquele verme em você.

-E por que? Por que tudo isso, se sabe da minha história com ele?

-Ele merece todo segundo de sofrimento que alguém pode proporcionar a ele. Não vê que é isso que ele espera de você Clen? - Odiava a maneira depreciativa com que ele usava meu nome. - Ser idiota é algo genético na sua família?

-Cala a boca! - Gritei.

-Estupida! - Rebateu. - Pobre Clementina, tão esperançosa que o pior dos babacas um dia vá querer algo dela. Cresça Luna! Aquele cara comia você a mesma medida que comia outras trinta simultaneamente. E o que foi feito de você? Um brinquedo usado. A menina que ele comeu o quanto quis e depois? Ah! É mesmo. Jogou fora.

-E o que você tem com isso? - Eu berrei pra ele. - Ah! É mesmo. Foi você que fez questão de comer os restos. Seu idiota egocêntrico.

-Precisa de sal querida! Precisa de sal.

-Vá para o inferno Adam. - Sentia todo meu corpo tremer. - Vamos lá querido. - Incitei. - Eu levo você ao psiquiatra mais próximo e ele pode tratar do seu trauma por ter sido deixado para trás até pela mamãe.

-Agora, eu acho melhor você calar a porra da sua boca.

-Foi por isso que ela foi embora Adam? Porque não suportou a completa falta de compromisso que seu pai tinha e que ao que me parece está entranhada em você.

-Você não sabe de nada querida. E se está realmente interessada em saber sobre minha família porque então não pergunta ao seu amado idiota? Garanto que ele é capaz de contar pra você o porque de toda essa merda.

-Do que está falando? Entrou outra vez em devaneio.

-Cala a boca Luna! Cala a porra da boca se não quiser sair daqui direto para um hospital.

-Está me ameaçando? - Perguntei indignada.

-Estou apenas avisando. Nem eu e nem os meus somos de ameaçar Luna. Apenas fazemos.

-Você é um filho da puta. Não acredito que dormi com você, não acredito que eu deixei que você tocasse em mim.

-O que? Do que está falando?

-Não vou mais trepar com você seu panaca!

Ele tinha sido mais rápido do eu. Quando pisquei ele já me segurava meu pelo pescoço, interrompendo minha passagem de ar e me fazendo completamente exposta.

-Não sou o tipo de homem que pode ser jogado fora querida. - Enterrava minhas unhas em seu braço e em seu rosto, me debatia querendo escapar, mas ele não parecia querer me deixar respirar ou... Viver. - Quer dizer então que voltou pra ele? Que vai deixar aquele verme socar em você até cansar outra vez. - Ele me largou fazendo com que caísse no chão. Arfava sem ar, as mãos no meu pescoço.

-Está l-louco!

-Sabe qual a diferença entre ele e eu? - Adam sacou a arma e a apontou pra mim. - Eu não acredito que o tiro seja a perda da guerra. Eu, acredito de verdade que o primeiro a atirar é quem ganha a guerra.

Fechei os olhos quando ouvi o disparo, querendo pensar em todos os que amavam antes de estar morta.

Uma Gota de Sangue - Ruth CostaOnde histórias criam vida. Descubra agora