Quatro Apenas

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-Bom dia. - Bia me entregou uma xícara de café depois de me convencer a acordar. Sentei na cama e tomei um pouco do liquido quente. Ela sentou no final da cama depois de um suspiro. Olhei pela janela e o céu não ajudou em nada. Quando a encarei outra vez reparei na caneca em suas mãos. Aquela do Mickey que comprei para minha Clen quando a levei ao parque. - Tudo bem?

-Tenho uma reunião importante hoje. - Disse ainda olhando aquele pedaço de porcelana barata que fez minha menina sorrir durante dias. - Preciso me preparar.

-Não parece bem amigo. - Encarei os olhos dela.

-Não estou bem há anos, Bia.

*~*~*

-Bom dia senhor. - Sam cumprimentou logo que cruzei o corredor. Cliff vinha atrás de mim esperando minhas ordens.

-Parece um bom dia? - Perguntei e a coitada se encolheu. - Traga um café até a minha sala em cinco minutos e a agenda também.

Abri a ridícula porta de madeira pesada e me arrependi outra vez de ter ido até ali. Era pedantismo achar que eu me manteria firme. Minha vida estava como a música de Edith Piaf - Hymne a L'amour. Tudo poderia desmoronar e eu ainda vou ama-la.

Me nego lembrar o modo em completa decepção que minha Luna me olhou naquela festa. Outra festa em homenagem aos mortos. Eu menti, enganei, fui covarde arrancando seu coração com minhas mãos. O pior dos venenos.

Se um dia a vida te arrancar de mim,

Se você morrer, se você estiver longe de mim,

Pouco me importa, se você me ama,

Pois eu morreria também.

Nós teríamos para nós a eternidade,

No azul de toda a imensidão.

No céu, mais nenhum problema.

Meu amor, você acha que a gente se ama?

Deus reúne os que se amam.

Deus reúne os que se amam.

Será que depois de viver esse inferno Deus poderia me honrar me dando a felicidade de tê-la. Só mais uma vez ser visto com os olhos de amor dela?

Minha vingança havia passado de todos os limites. Matei a vida prospera de uma menina jovem tudo em busca de um recomeço. Um recomeço que não mereço. Cliff pigarreou chamando minha atenção e eu tentei voltar a respirar com normalidade.

-Comece. - Eu disse.

-Sinto muito senhor. Billy nunca mencionou que o Buffet era justamente o dela então isso passou totalmente...

-Detalhes da sua incompetência não me interessam Cliff. E quanto ao Billy, eu mesmo tratarei disso. Contudo eu sei que você está parado a minha frente com algum proposito. Só não sei ainda qual seria.

-Tenho prestado os melhores serviços senhor e venho sendo leal, só espero que o senhor...

-Não o despeça. - O cortei outra vez. - Está aqui por que quer manter seu emprego, estou certo?

-Sim senhor. - Pensei sobre aquilo. Reiniciar todo o esquema de lealdade com outra pessoa seria difícil uma vez que quase não confio em ninguém e eu sabia que Billy podia ser ardiloso. Só nunca esperei que ele jogaria tão baixo.

-Cliff... - Ele assentiu em prontidão. - A senhorita Fort ficara afastada... - Engolia as palavras a duras pedras. - Ficara longe por um tempo. Acontece Cliff que se qualquer coisa acontecer com ela, se faltar algo pra ela, até mesmo se ela ficar resfriada eu pessoalmente culparei você. E não estou precisando mais do seu trabalho Cliff. Se torna agora sua maior responsabilidade a proteção dela. Perca a Luna de vista e eu mato você. Estamos entendidos?

Uma Gota de Sangue - Ruth CostaOnde histórias criam vida. Descubra agora