Seis Apenas

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Descemos do carro e enquanto eu vestia o casaco pra evitar o frio, Bia parou ao meu lado. Ela parecia grávida há mil anos e ainda assim insistiu pra que fizéssemos isso. Tive que respirar fundo treze vezes apenas no caminho até aqui. A animação dela beira ao ponto de me deixar assustado. A fila muito mais que notória vai até a metade do quarteirão e continha desde criaturas da noite a pessoas com a pior falsificação de uma carteira de identidade. Deus, o que estamos fazendo aqui?

Billy nos viu e abriu os braços para receber à amiga que já corria pra ele. Padrinho de Colin há tantos anos atrás eu me via tendo de engolir tudo que ele fez em nome dessa amizade que virou irmandade sobre a tragédia de uma morte sem precedentes. E eu sabia que se Bia não tivesse me conhecido por certo teria casado com ele, por isso era mais compreensível essa veneração um pelo o outro. Quem diria que aquele dia de trabalho mudaria a vida de todos?

Ela falava coisas em voz alta pra ele que ria sem parar quando cheguei perto. Eu ainda não ouvia. Estava focado em olhar tudo ao redor e tentar ter a garantia de que estávamos seguros, o que só se mostrava cada vez pior sempre que alguém esbarrava em nós.

-Tem certeza de que isso é uma boa ideia? - Perguntei outra vez.

-Quando foi que ele se tornou esse cara tão chato? - Bia perguntou a Billy que riu antes de entornar um gole de cerveja e depois passa-la pra mim.

-Tenho certeza que foi em algum momento entre descobrir o que você é de verdade e a perda do filho e depois a perda da mulher mais perfeita que ele poderia ter encontrado. - Billy respondeu.

-Ah! - Bia exclamou. - Agora faz sentido.

-Já estão de porre? - Questionei.

-Fala sério, nosso primeiro encontro foi em uma boate bem parecida com essa e dançamos a noite inteira. - Bia disse me empurrando. Bebi a cerveja gelada e fiquei na minha sabendo que não poderia rebater.

-Agora, falando sério. - Billy completou. - Está tudo bem de estar aqui, nesse estado? - Eu e ele rimos.

-Eu não sou o único. - Zombei.

-Ainda falta três semanas pra esse bebê nascer e eu me sinto ótima. Quero dançar, e me divertir.

-Mas por que aqui? Por que hoje? - Perguntei. Ela e Billy trocaram a porra do pior olhar conspiratório do mundo o que me fez tremer. - O que acham que estão fazendo? - Falei assustado, mas Bia já olhava além de mim. Sorria amplamente. Olhei para trás para ver Clara quase perder o compasso ao dar de cara comigo.

Clara trazia balões cor de rosa em uma mão e equilibrava um bolo e uma sacola que sem dúvida carregava um enorme presente. Era obvio que eu tinha perdido alguma coisa no meio do caminho e estávamos ali pra comemorar alguma coisa.

Billy apanhou o bolo de sua mão depois de beija-la, mas Clara estava com olhos presos em mim. Queria gritar alguma coisa, mas o que seria, eu não tinha ideia.

-Eu sei que você não esperava por nós. - Bia gritou beijando o rosto ainda em choque de Clara. - Sinto muito, mas eu queria muito vir. É importante pra mim.

-Não tenho dúvida. - Clara respondeu de maneira arrastada.

-Amor, está tudo bem. - Billy incitou.

-Eu só não quero confusão. - Clara rebateu. Levantei ambas as mãos em completa rendição.

-Prometo não estragar a sua noite Clara. - Eu disse a ela. - E, parabéns. Não sabia que iriamos comemorar seu aniversário, sinto muito.

Uma Gota de Sangue - Ruth CostaOnde histórias criam vida. Descubra agora