Atmosfera

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Acordei com uma dor forte na cabeça, como se tivesse caído ou levado uma pancada forte no crânio. Senti meu corpo fraco e muito, muito dolorido. Não fiz esforço o suficiente para abrir os olhos, mas eu já estava aliviado por perceber que estava vivo, aonde quer que eu estivesse. Isto é, se eu realmente estivesse vivo. Tudo indicava que sim, afinal, depois de morto eu não deveria sentir dor. Eu parecia estar em uma espécie de floresta e estava sentindo muito calor, só então me dei conta de que estava muito preso à uma cadeira por cintos de segurança.

Minhas mãos estavam machucadas, mas mesmo assim eu as forcei a funcionarem e me libertei. Estava escuro, mas eu conseguia sentir cheiro de fumaça e o calor do fogo, sabia que a nave, ou o que restou dela, estava começando a se incendiar. Eu sabia que tudo ali estava praticamente perdido, mas por sorte, a única coisa que eu havia me preocupado em proteger e manter comigo estava à salvo. Seria difícil voltar para casa naquele momento, mas eu precisava me preocupar em sobreviver primeiro.

Os seres da Terra também deveriam ter naves, imaginei. Alimentando um pouco de esperança dentro de mim, andei por vários metros até chegar no que parecia uma autoestrada. Eu estava perdido. Todos aqueles veículos não eram tão velozes quanto os que haviam em Nawos, porém, estavam em quantidade suficiente para me deixar confuso e tonto. Com o corpo fraco e a cabeça girando, eu cambaleei até o meio da estrada e acabei atingido por um veículo. Cai no chão, e o carro que me acertou parou instantaneamente, o que fez com que o trânsito parasse. A dor de cabeça havia voltado com força. Não encontrei resistências em mim para me levantar do chão, por isso permaneci deitado. Provavelmente morrer de uma vez estava no topo da minha lista de maiores desejos naquele momento.

Alguém saiu do veículo, batendo a porta com força e correndo até onde eu estava. Era uma mulher, de estatura média, olhos pequenos, com íris ainda menores, verdes e brilhantes, pele e cabelos dourados. Ela me olhou, cheia de preocupação e tocou meu rosto, mas afastou a mão de mim em choque. A mulher respirou fundo, fechou os olhos e segurou-me pela mão, me ajudando a levantar do chão.

- Ah, meu Deus! Me desculpe!

Olhei para ela, sem saber o que dizer. Acima de tudo, eu estava muito assustado por entender o que ela estava falando. Eu queria lhe dizer que estava tudo bem, que não havia me machucado, mas tudo o que consegui fazer foi mexer os lábios como se estivesse tentando falar mas não fosse possível.

- Você está bem?

De repente, ela me encarou. E olhou fixamente em meus olhos por alguns segundos, antes de se afastar subitamente.

- Ai, meu Deus. O que é você?

Eu não respondi nada. Não consegui.

- Eu devo estar delirando... não devia ficar tanto tempo sem dormir...

Eu estava tão paralisado que não conseguia falar. A mulher olhou para os dois lados e, quando começou a ouvir as buzinas chamando-lhe a atenção e percebeu que as pessoas estavam começando a se aproximar, ela segurou a minha mão e me pôs de pé. Passou o braço em minhas costas e, mesmo sendo muito mais baixa que eu, me guiou até o seu veículo, abrindo a porta e me enfiando para dentro dele. Ela me acompanhou, acomodou-se no banco do motorista, ligou o veículo e deu a partida, acelerando com certo exagero.

- Tudo bem, eu atropelei você e peço mil perdões por isso, mas... O que é você? Me diz que não é alguma coisa ruim, por favor. Não parece ser humano.

Então "humanos" eram como aqueles seres se chamavam. Dado às nossas fisionomias, eu sabia à que ela estava se referindo. Diferente de seus olhos, os meus eram negros e um pouco maiores que o que parecia ser comum entre os terráqueos.

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