Café da manhã humano

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Acordei no dia seguinte com o corpo dolorido, provavelmente reagindo à tudo que eu havia passado no dia anterior. Levantei-me devagar e alonguei os músculos o quanto pude. Em seguida, ohei para a janela e reparei no dia, já amanhecido; era tão diferente do meu planeta. Em absolutamente todos os detalhes. O céu era azul, em um tom de turquesa, e o sol tinha uma luz amarelada, porém, bem clara. Era forte e aquecia com vigor o ambiente, deixando-o mais agradável. Algumas formações gasosas de tom branco se espalhavam pelo céu, mas eram poucas.

Aquilo era completamente diferente de qualquer coisa que eu já havia visto.

No instante em que eu estava prestes a me levantar para ir até a janela observar a paisagem de perto, alguém bateu na porta do quarto com notável cautela.

- Entra.

Era Marie. Ela sorriu, apesar de estar com os olhos inchados e com cara de sono. Com a visão um pouco turva por ter acordado há poucos minutos, esfreguei os olhos e olhei para ela novamente.

- Caesar?

- Olá, Marie. - Respondi, já acostumado ao meu novo apelido.

- Como dormiu?

- Bem... mas estou com o corpo dolorido.

- Será que analgésicos funcionam com você?

- Analgésicos? - Perguntei.

- Bom, sabe como é, não? Remédios, drogas, usamos para controlar a dor. - Ela sacudiu a cabeça, logo tratando de mudar de assunto. Notei que ela trazia algo em suas mãos - Eu lhe trouxe algumas roupas, imaginei que precisasse se trocar. São do meu irmão e parecem caber em você, afinal, os dois parecem ter a altura de um armário.

- Isso foi muito gentil, Marie. Obrigado.

- Não me agradeça.

Marie me entregou as mudas de roupas e eu as coloquei em cima da cama, automaticamente. Sorri para ela em agradecimento, que devolveu-me um singelo sorriso tímido. Alguns segundos depois eu as peguei, analisando cada peça. Era uma camisa de tecido flexível e fresco, de cor azul, e calças escuras de tecido grosso, que pareciam apertadas. Olhei para elas, e Marie riu.

- Jeans.

- O quê?

- São calças jeans.

- Ah!

Eu ri.

- Desculpe. Talvez eu esteja deixando-lhe sem paciência por ter que me explicar tudo o que eu não conheço.

- Não se desculpe, Caesar. Na verdade eu gosto, sinto como se estivesse na companhia de uma criança.

- Entendo.

- Ah! Não me leve à mal, por favor, eu... não disse como uma coisa ruim. É que é divertido.

- Tudo bem, eu entendi. Ensinar coisas novas à crianças é mesmo divertido.

- Então eu... Acho melhor lhe dar um pouco de privacidade.

- Tudo bem, só... Quer dizer, pode me esperar?

- Como assim?

- Não acho que eu esteja muito à vontade para sair sozinho e ir para onde sua família está, Marie.

- Eu espero você aqui fora - Ela disse, batendo com os nós dos dedos na porta. - Me avise quando terminar.

Assenti com a cabeça, confirmando, e dei um sorriso fraco para Marie quando ela saiu do quarto. Virei-me para um espelho grande que estava no fundo do quarto para me ver. Para alguém que havia atravessado a galáxia e caído de forma brusca - e fatal - em um planeta desconhecido, e quase foi atropelado, eu estava bem. Não perfeito, não feliz, não destemido, mas bem. Depois de uma longa análise no espelho, determinei que eu precisava me limpar.

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