Roda-gigante

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Sentados em uma das mesas de madeira que ficavam do lado de fora do Nathan's, o lugar mais antigo de Nova York a vender cachorros quentes, Serena me observava com expectativa. Ela estava com os cotovelos apoiados sobre a mesa e as mãos sob o queixo, me olhando ansiosamente com seus olhos verdes e superatentos. Entre nós, estavam nossos copos gigantes de refrigerante e um recipiente cheio de batatas fritas com bacon e molho. Eu assenti com a cabeça, tranquilizando-me, e olhei para os lados. Peguei o cachorro-quente que estava no prato sobre a mesa, diante de mim, e observei-o com cautela. O olhar da garota à minha frente analisava cada movimento que eu fazia. Devagar, levei o hot-dog até a boca e mordi. Enquanto mastigava, arregalei os olhos. Serena se aproximou de mim com mais expectativa. Minha reação tinha sido positiva.

— Isso aqui é o melhor cachorro quente que eu já provei a minha vida inteira.

Ela riu, feliz com a minha avaliação. Pegou seu copo de refrigerante e o estendeu na minha direção para "brindarmos".

— Eu te disse, Caesar.

— Eu acho que é a salsicha. Ela é suculenta no ponto exato. E macia. O pão tem um gosto bem adocicado, mas ele casa bem com o salgado da carne.

— Tá, agora eu me senti no Masterchef.

Eu ri.

— Preciso pedir outro.

Eu falei enquanto terminava de comer aquele, o que não demorou nada. Talvez umas três mordidas. Eu tinha que comer com calma para saborear o cachorro quente. E pra ser honesto, ainda tinha muito espaço no meu estômago intergaláctico pra comida alienígena. Serena me olhou como se estivesse contendo uma risada.

— Você comeu esse cachorro quente em quê, um minuto? 

Dei um sorriso desajeitado.

Ela esfregou a própria barriga e eu entendi o que ela quis dizer. Afastei minha jaqueta e levantei uma parte da minha camiseta, deixando minha barriga à mostra. Depois abaixei, ainda sem jeito. Serena gesticulou incompreensão com os braços e a expressão.

— Como?

— Acredite, eu não faço ideia.

— Santa genética, Caesar.

Ela estava certa. Meus pais biológicos tinham um tipo físico considerado atlético. Eu e minha irmã, Sherin, não fugíamos à regra.

— Olha quem fala.

Provoquei, e Serena me deu a língua em resposta. Eu me levantei, sorrindo, para pegar outra rodada de hot-dog para nós dois. Ela o pegou da minha mão e sorriu em agradecimento. Percebi que, antes de começar a comer, Serena conferiu o pequeno relógio que estava preso em seu pulso esquerdo. Não era a primeira vez que eu a via fazer isso. Ela ia dar a primeira mordida no cachorro quente, mas hesitou ao perceber minha expressão.

— Ah, é que... só estou planejando o resto do meu dia. Não é nada, eu gosto de planos.

— Sério? Por quê?

— Assim eu consigo controlar melhor o meu tempo e ai fazê-lo render mais. Geralmente eu estudo à essa hora, mas eu estou bem mais feliz de estar aqui com você, acredite.

— Ah... Desculpa, Serena. Eu teria sugerido outro horário ou outro dia. Não quero...

— Tá brincando? Esse é o meu horário favorito do dia. E você me trouxe nesse lugar lindo. Com esse monte de comida gostosa e essa vista do mar. Eu não consigo pensar em um lugar melhor pra se estar, acredite.

— Gosta de tardes?

— Sim. Eu gosto de como a luz do sol reflete em mim. Me sinto parte dele. — Ela riu.

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