Spectrum

Sangria

— Eu sei que digo isso vezes demais pra parecer saudável entre uma relação fraternal, mas Caesar, você está um gato! Eu fiz um bom trabalho, é claro, mas o modelo ajuda bastante também.

Arqueei uma das minhas sobrancelhas e fui para o espelho do meu quarto para me olhar. O resultado não estava mesmo ruim. Marie tinha me entregado uma pilha de roupas dobradas e apenas uma ordem: vista. Eu resolvi seguir e parecia que tinha funcionado. Eu estava usando uma blusa de cor caramelo, de mangas longas e malha tricot; jeans ajustados e escuros, botas e uma jaqueta de couro preta, não muito grossa, que pertencia a Colin, meu "pai". Meus cabelos estavam úmidos, penteados para o lado com os dedos. Estavam um pouco grandes demais; acho que já estava na hora de visitar um salão.

— É... — Comentei, enquanto me observava no espelho — Acho que fez mesmo um bom trabalho, Marie.

— É óbvio. Fui eu que fiz. — Eu ri — Então, você vai de quê pra festa? — Ela perguntou.

— Ethan vai passar para pegar o Sam e depois vai passar aqui.

— Ah, ótimo, eu espero com você então.

No momento em que estávamos falando, ouvimos um som de buzina.

— OK, então eu te levo até a porta...

— Tá parecendo minha mãe, sabia? — Eu ri.

— É, eu sei. Vamos lá?

Eu e Marie descemos as escadas e abrimos a porta. Ethan e Sam estavam ali, parados, mexendo nos celulares enquanto aguardavam por mim. Eles também estavam bem arrumados; Ethan estava vestindo uma camiseta escura, uma jaqueta num tom escuro de verde, calça de sarja cor de caramelo e sneakers, enquanto Sam estava mais básico, usando uma camiseta branca, jeans skinny preto, uma jaqueta jeans com lavagem clara e calçando botas.

Ethan bloqueou o celular e o pôs no bolso, mas levou um pequeno susto ao ver Mary Jane ao meu lado. Ele limpou a garganta e sorriu para ela, lhe lançando um olhar divertido.

— E ai, rapazes? — Marie os cumprimentou — Bem, o Caesar tá aqui — Ela me empurrou pelas costas para fora de casa, em tom de brincadeira — Divirtam-se!

— OK, obrigado por nos expulsar da sua casa, Mary Jane — Ethan brincou também, fingindo estar ofendido — Tá, lembra que você combinou de almoçar comigo na segunda-feira.

— Eu não esqueço compromissos, Ethan, relaxe. Boa festa! Se cuida, Caesar.

Eu me aproximei de Marie para lhe dar um beijo na testa, mas ela fechou a porta praticamente em nossa cara. Sam franziu a testa e olhou para nós dois.

— Tá tudo bem com ela?

— Há alguns minutos estava.

— Tudo bem — Ethan jogou as chaves do carro no ar e as agarrou antes que caíssem — Vamos lá?

Eu assenti com a cabeça, com um pouco de confiança que foi se esvaindo no caminho. Aos poucos, percebi que eu devia ter me preparado melhor. Podia ter perguntado para Marie, mas eu sabia que ela não era muito de festa. Será que era como nos filmes? Aquele era o "padrão" dos seres humanos de fazerem festas? O que eu devia fazer lá? Será que eu ficaria bem no meio de um monte de adolescentes conversando, bebendo e brincando?

Respirei fundo e notei que minha mão estava um pouco trêmula. Eu estava no banco do carona, mas felizmente, Ethan estava superconcentrado no trânsito à sua frente, então talvez não notasse.

— Então, Ethan... — Sam apareceu entre os bancos, mais próximo de nós — Qual o lance com a Mary Jane Wright?

— Quê?