Queda

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Pouco antes de eu ir dormir, ouvi alguém bater na porta do meu quarto. Tirei meus fones de ouvido e levantei-me da cama, indo até lá para ver quem era.

- Peter?

- Não.

Ele respondeu com sarcasmo enquanto ia passando por mim e entrando em meu quarto. Olhei para ele sem entender e fechei a porta, devagar.

- Algum problema?

- Claro que não. Será que pelo menos dessa vez dá para fingir que somos irmãos?

Assenti com a cabeça, sentando-me na beira da minha cama. Peter puxou a cadeira da escrivaninha, ficando de frente para mim.

- A gente não costuma conversar muito - Eu disse - Até porque, você... não gosta muito de mim.

- Não gosto - Ele respondeu - Mas... E você e a Serena?

- O que tem?

- Está rolando alguma coisa?

- Bem... Eu não sei.

- Como assim não sabe? Ou está, ou não está.

- A gente se beijou - Respondi - Hoje mais cedo...

- Quando ela estava aqui com você, né? - Peter deu um sorriso malicioso - Não deixou passar, não é, garotão? Eu achei que você fosse mais burro.

- Como assim?

- Acho que eu não devo ter sido o único a perceber que ela está bem a fim de você, Spock. E aí, vocês...

- Não. - Arregalei os olhos.

- Foi a primeira vez?

- Aham.

- Cara, você é um tremendo idiota.

- Onde está querendo chegar, Peter? - Perguntei.

- Só quero dizer que, se tem uma garota legal e bonita que está querendo alguma coisa com você, deveria ir fundo.

Eu não respondi nada.

- E é claro - Ele completou - ela atrai você. Vocês se gostam... Por que não a chama para sair?

- Não posso chamá-la para sair, Peter.

- E por que não?

- Olha, eu não sei por quanto tempo vou ficar aqui, não posso magoar ninguém.

- Escuta, E.T - Ele se aproximou - Seja sincero comigo: você acha mesmo que tem alguma chance de sair daqui pelos próximos dez ou quinze anos? E eu estou sendo gentil. A humanidade mal consegue projetar um foguete tripulado que alcance Marte.

- Às vezes eu penso que não. Mas é sempre bom manter a esperança.

- Nem sempre. Você vai acabar velho e solitário, se perguntando o que teria acontecido se tivesse tentado viver um pouco.

- Parece estar certo.

- Eu estou certo em noventa por cento das vezes. - Peter admitiu, nem um pouco modesto. - Dê uma chance à vida e a Serena. Tente ser um pouco mais humano, para variar.

Ele se levantou e foi em direção à porta, mas eu o chamei antes que saísse do sótão.

- Peter?

- O que foi, Guardião da Galáxia?

- Obrigado.

Peter deu de ombros, mas sob a luz eu ainda consegui ver um meio sorriso se formar em seu rosto. Quando ele saiu, me joguei de volta em minha cama, parando para pensar no que ele havia dito.

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