Meia-noite

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Nosso projeto de Química acabou sendo um sucesso. Nós o apresentamos na sala, explicamos o processo da corrosão do ferro – depois de vários dias estudando minuciosamente e demonstramos como acontecia, através de um pequeno experimento com tubos de ensaio e alguns pregos. Eu e Clint recebemos um dez, o que me deixou satisfeito.

Eu só precisava ser sincero com relação em uma coisa: estava começando a ficar enjoado de escola. Igual em Nawos. Acordar cedo e passar o dia fora de casa era exaustivo e, honestamente, eu preferia estar fazendo outra coisa. Como tentar voltar para o meu planeta.

— Como tá indo?

Marie me perguntou sem desviar os olhos da HQ do Desafio Infinito que estava segurando. Estávamos na sala enquanto eu assistia uma série de drama e com médicos, mas, para ser honesto, não estava muito concentrado nela.

— Bem, aparentemente os destroços da minha nave em Chicago desapareceram.

No dia seguinte ao que eu havia caído na Terra, eu e Adele voltamos ao local da queda, mas não havia mais nada lá. As únicas evidências de que um corpo estranho tinha estado ali eram os galhos arrancados das árvores e as marcas de fogo e terra queimada pelo chão. Como uma nave espacial gigante poderia desaparecer em algumas horas?

— Eu não tenho nada aqui comigo exceto...

— Aquele tablet espacial.

— Isso. — Confirmei — E a sua tecnologia...

— É obsoleta demais.

Suspirei.

— Honestamente, Caesar — Marie abaixou a revista e olhou para mim — Eu acho que talvez demore um pouco.

— É...

— Mas sabe o que é esquisito? A nave, os destroços, terem desaparecido. Quer dizer, talvez algumas pessoas possam ter roubado, mas essa altura já saberíamos de algum acidente, alguma descoberta incrível sendo noticiada ou então teríamos visto algum anúncio no eBay.

— Mas a gente não viu, certo?

— É. E olha que eu pesquisei. Então... Quais são as chances de sei lá, o governo ter pego isso? E se todo esse papo de Área 51 for mesmo real? Quer dizer, agora que eu sei que você é real, eu acredito em qualquer coisa. De verdade.

— Até em um cara gigante e roxo com umas pregas no queixo? — Brinquei, rindo, e Marie também começou a rir.

— Vai saber se o Thanos não é real mesmo — Ela sacudiu a HQ em suas mãos. Depois, fechou a revista e se aproximou de mim, passando um braço pelos meus ombros — Vamos dar um jeito, Caesar. A gente pode tentar investigar para onde os destroços da sua nave foram parar. Deve ser tipo, super difícil, mas se alguém sabe de alguma coisa, nós vamos encontrar alguma evidência, uma hora. Mas até lá, não se preocupa. Vamos cuidar de você.

— Eu sei...

Segurei a mão dela e sorri. De repente, alguém abriu a porta de casa e entrou; era Peter. Ele estava usando fones de ouvido, carregava uma bola de basquete debaixo do braço e estava rindo, com o celular com a tela ligada na outra mão. Na mesma hora, notei que Marie parou de sorrir e fez cara de brava.

— Hum?

— Peter...

— O que foi? — Ele mexeu no celular para pausar a música.

— A gente literalmente acabou de chegar na escola nova e já tem meninas da minha turma cochichando por aí que o "garoto alto de Chicago do terceiro ano" é um embuste. O que você aprontou?

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