Coração aberto

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— Você salvou a minha vida de forma sobrenatural quando nos conhecemos. E depois, simplesmente... voou pra me carregar quando torci o tornozelo na educação física. E no dia em que a gente invadiu a escola, você... Você pulou grades, me carregou de um lado para o outro e quebrou fechaduras com os dedos. Caesar, tudo isso poderia ter algum tipo de explicação que beirasse o ilógico mas me impedisse de pensar em coisas absurdas pra explicar a sua força e velocidade. Mas isso, isso aqui hoje... Não dá. Tem alguma coisa sobre você que eu não sei e que você escondeu de mim durante todos esses meses. E eu não quero que você minta mais pra mim.

— Serena...

— Não. Não chega perto — Ela deu alguns passos para trás — Não enquanto não for sincero e me dizer o que está havendo.

— Você tem razão. Eu estive mentindo pra você. E não faz ideia do quanto isso tem consumido, Serena. Tudo bem — Respirei fundo — Eu... eu não sou... humano. Não sou desse planeta. Cai aqui por acidente, fui acolhido pelos Wright e desde então, tentei encontrar um jeito de voltar pra casa. Mas não consegui.

A expressão de incredulidade em seu rosto dizia que ela ia precisar de mais do que palavras para acreditar em mim. Então eu fechei os olhos, abaixando a cabeça e tornando a erguê-la devagar com os meus olhos reais abertos. Não as íris humanas, azuis, com as minúsculas pupilas, mas com meus olhos de nawoniano, negros, com escleras pretas e grandes. Serena deu um passo para trás, instintivamente, e pôs uma das mãos sobre a boca.

— Caesar?

— Meu nome de verdade é Cesaysth, pra ser sincero. E... isso explica meu fascínio por Astronomia. Você estava certa quando falou sobre parecer que eu havia caído do céu e que sentia saudades de casa. Eu sinto, todos os dias.

— Isso é impossível — Ela riu, ainda nervosa.

— Não, não é. Você melhor do que ninguém sabe que tudo que eu tenho feito não poderia ser humano. Serena, eu sinto muito, muito mesmo, que tenha mentido pra você. Mas eu precisei fazê-lo, para me proteger, e proteger minha família... e pra que você não se assustasse também.

— Você mentiu pra mim.

— Eu sei. Eu sei, e eu odeio isso. Eu não queria.

O medo de perdê-la me atravessou como uma espada. Meus olhos estavam ficando úmidos e eu conhecia bem aquela sensação, porque depois de semanas de segurança após a experiência mais traumática da minha vida, eu estava perto de perder a coisa que mais importava pra mim e uma das maiores fontes de estabilidade que eu tinha naquele momento. A ideia de vê-la partir era simplesmente insuportável.

Principalmente porque era culpa minha.

— Os Wright...

— Eles são todos humanos. E sim, também foi chocante pra eles no início, menos pra Marie — Não contive um sorriso.

— É... É a cara dela.

Serena também sorriu, embora seus sentimentos ainda parecessem confusos. Porém, pela primeira vez naquele momento, eu percebi que ela se desarmou. Talvez estivesse ponderando, era difícil deduzir porque a expressão dela ainda era contida, mas eu sabia que não poderia desistir dela.

Respirei fundo e me aproximei, com passos lentos e cautelosos, e para o meu alívio, ela não se afastou. Parei a centímetros de distância de Serena e a olhei com apreensão enquanto fazia um esforço hérculeo para não tocar seu rosto.

— Você consegue imaginar o que aconteceria comigo se as pessoas soubessem o que eu sou, não consegue?

Ela fez que sim com a cabeça.

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