Vulnerável

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— Caesar... Você vive suspirando de cansaço pelos cantos dessa casa. Está anêmico?

— Não sei o que é anêmico. 

Meu entendimento do vocabulário humano melhorou consideravelmente desde o meu primeiro dia naquele planeta, mas eu ainda deixava escapar uma coisa ou outra. Como anêmico. Bem, de fato, eu estava mais cansado que o normal. Sobre a mesa da sala de jantar, Adele riu e, antes de se virar para me olhar, fechou a aba aberta em seu notebook que era bem clara nas letras garrafais de uma manchete bem assustadora. 

A AMÉRICA ESTÁ SENDO INVADIDA POR ALIENÍGENAS? 


— O que estava lendo? — Perguntei enquanto encarava a aba de um site de Psicologia que agora estava sendo exibida no aparelho.

— Aproveitando os tempos de paz antes do meu filho mais velho chegar pisando fundo em casa como tem feito nos últimos dias pra estudar. Esse basquete não está fazendo bem pra esse garoto.

— Não, mãe. Antes de eu chegar. 

Meu psicológico não estava no melhor de seus estados mesmo. E por mais que minha família tentasse ser sutil, os jornais e sites estavam recheados de notícias  sobre excessivas aparições de OVNIs no céu dos Estados Unidos e em outros países. Minha família dizia a todo instante que não era nada. No máximo satélites caindo ou algum teste de aviação feito pelo governo. Eu sabia que eles só queriam evitar que eu tivesse uma crise de ansiedade ou algo do tipo - e sim, eu já lidava melhor com a percepção de que havia desenvolvido uma patologia humana, o que, por pior que fosse, fazia com que eu me sentisse menos deslocado por ser muito "super" no meio de todos aqueles terráqueos comuns. 

Além disso, estávamos dando início à primeira leva de provas na escola, e mesmo que eu fosse ligeiramente mais inteligente e mais ágil para aprender do que meus colegas, eu ainda precisava dedicar tempo para estudar, para os trabalhos e as atividades extracurriculares. Eu não queria ver a Terra sendo invadida pelo exército de algum planeta, tampouco gostaria de enfrentar uma prova de cinco páginas de História, e pensar em todas essas coisas me esgotava. Como consequência, eu estava perdendo o domínio sobre as minhas habilidades, especialmente em manter meus "olhos humanos". E não tinha a menor possibilidade de eu sair de casa ou ver Serena com a minha real forma. Não se eu não quisesse parar em algum laboratório subterrâneo do governo sendo fatiado por razões da ciência. 

— Querido, era só uma página sensacionalista... Você sabe como é a internet nos dias de hoje — Ela desconversou com a mão sobre a testa, e ajustou os óculos de leitura no rosto — Eu nem sei porque abri isso, deve ter sido um lapso. 

— E é só uma coincidência que tudo isso esteja acontecendo agora que eu estou aqui? Não tem como isso ser mentira e você sabe disso.

— Filho, os estereótipos que temos de pessoas de outros planetas é o de invasores destrutivos, o que honestamente me soa como um exemplo perfeito da projeção de Freud, mas você está aqui e comprova que tudo o que sabemos sobre esses seres pode estar muito longe do real. Não quero que se preocupe de forma desnecessária sendo que você já tem enchido sua cabeça com muita coisa.

— De forma desnecessária? — Eu repeti, atordoado — Tem algum tipo de exército de sabe Deus de qual parte dessa galáxia que pode estar vindo pra cá com objetivos ruins e eu posso ter atraído eles, e é desnecessário eu me preocupar?

Não era meu plano explodir daquela forma com a mulher que eu considerava como uma segunda mão, principalmente porque ela tinha a melhor das intenções para comigo. Mas não pude evitar. Aquele planeta havia passado por milênios de paz sem a interferência de qualquer ser e, agora que eu estava ali, de repente mais civilizações se sentiram convidadas para a festa no planeta azul. Como não ficaria desconfiado?

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