Spectrum

Manhattan

— Então Caesar não pode tirar uma carteira de motorista porque ele literalmente não existe pro sistema? 

Serena perguntou. Ela estava ao meu lado no banco do carona do carro do meu pai, com Mary Jane no banco de trás, enquanto aguardávamos por Clint para um passeio em Manhattan. Marie se aproximou de nós, com o corpo entre o vão dos assentos dianteiros do carro, e riu.

— Eu já falei que adoro essa versão da Serena que sabe de tudo?

— Nesse caso, como você conseguiu fazer sua matrícula na escola? Como suas notas nos anos anteriores do Ensino Médio vão ser contabilizadas pra você conseguir entrar na faculdade? — Eu e Marie arregalamos os olhos e nos entreolhamos rapidamente, mas Serena acabou respondendo a própria pergunta — Ah, o homeschooling é uma opção. E sua personalidade pode deixar o álibi mais crível.

— Você quis dizer o fato de eu ser... recluso?

— É. Só que de um jeito fofo.

Nós paramos de falar quando Clint surgiu e abriu a porta traseira do carro para se acomodar ao lado de Marie. Ele ainda não sabia da verdade sobre mim. Depois de ajustar seu cinto de segurança, o irmão de Serena sorriu para minha irmã, que lhe retribuiu com um sorriso tão gentil quanto, o que me fez arquear uma das sobrancelhas enquanto os olhava pelo espelho retrovisor.

— Desculpa a demora, gente. 

— Sem problemas, Clint — Respondi enquanto dava a partida no veículo — Tudo bem?

— Fora as provas na escola, sim — Ele riu, e olhou para Mary Jane — Você tá legal?

Ela sacudiu a cabeça, respondendo positivamente.

— A gente meio que já sabia que as coisas estavam estranhas entre vocês, então... É legal que já estejam se falando.

— Sem espantar pessoas legais sendo gratuitamente grossa — Marie levantou a mão.

— Embora eu entenda que seja seu instinto, eu agradeço. Mas... podemos deixar isso no passado, né? — Clint pediu.

— Claro — Serena concordou.

Era legal que minha irmã reconhecesse que, embora o fizesse por instinto para se proteger, afastar pessoas boas daquela maneira era negativo. Clint a havia assustado algumas semanas atrás com a história de estar a fim dela, mas meio que não justificava. Ele era um cara legal, e sensível, de certa forma; pelo que ouvia de Serena, era um irmão tranquilo, embora às vezes fosse infantil demais para ela. Eu gostava de tê-lo por perto e gostava de saber que Mary Jane o tinha por perto da mesma forma. Ela não estava pensando em romance naquele momento, então, também era legal que Clint a compreendia e ainda estava interessado em sua amizade. 

Me senti em um filme enquanto guiava o carro na estrada em um dia ensolarado com o rádio consideravelmente alto e trazendo outros três adolescentes cantantes comigo. Eu ainda não dominava bem todas as letras dos hits do ano, mas de forma alguma impedi minha cabeça de sacudir ao som das batidas inconscientemente. Chegando em nosso destino, não foi tão difícil encontrar um lugar privado para estacionarmos o carro - embora não tivesse sido tão barato. Valeria pela praticidade, de qualquer maneira. Encontramos uma Manhattan de ótimo humor naquele sábado; o céu estava azul, com poucas nuvens no céu, e o clima ameno estava bem agradável para uma manhã de outono.  

— Pausa pra foto!

Fui surpreendido com Serena me cutucando para me entregar um celular, indicando que seria eu o responsável pela selfie - provavelmente por causa dos meus braços compridos. Registro feito, seguimos para nossa primeira parada, no Rockefeller Center, e eu me surpreendi. Aquele complexo com incontáveis prédios parecia não ter fim. Era colorido, e chamava a atenção pela arquitetura e seus detalhes que conseguiam trazer vida para prédios que, em um olhar mais desatento, pareciam iguais uns aos outros. Ainda no térreo do local, passamos por uma área enorme cheia de mesas e cadeiras a qual descobri que, no mês seguinte, receberia a pista de patinação no gelo mais famosa de Nova York. E certamente teríamos que voltar ali para conferir.