7 . Confissão

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No dia seguinte nós nos encontramos no ônibus de novo e ele parecia um pouco pior que antes. Seus olhos estavam vermelhos e ele parecia não ter dormido.

Ele sentou do lado eu vi uma lágrima cair. Eu não sabia o que tava acontecendo e só o abracei.

_Hey, yo estoy aqui... no lloras_ falei bem baixinho no ouvido dele, não queria que ninguém visse que ele estava mal.

_Ontem quando chegamos em casa, meu pai começou a gritar comigo. Falando que era para eu parar de falar com você porque eu ia te transformar em outro viadinho.

Eu o abracei com mais força.

_Vem, vamos pra aula...

Descemos do ônibus e fomos para a escola, enquanto caminhávamos, ele continuou.

_Ele falou que eu não pedi permissão para ele ir na sua casa e... ele ficou gritando e gritando... ya no puedo más_ ele falou a última frase tão baixo que eu quase não a entendi

_Vai ficar tudo bem, eu tô aqui!

Ele estava em silêncio. Não chorava mais mas estava de cabeça baixa. Quando entramos na escola, vemos um tumulto na frente do prédio. Segundos depois, a diretora e as professoras apareceram na frente da porta:

_Alunos, devido a um vazamento de gás no interior da escola, devemos evacuar a área, por favor, vamos todos calmamente sair do pátio da escola e vão para suas casas, hoje a aula será cancelada.

Que sorte! Não tava com cabeça pra isso, mas espero que não aconteça nada...

Nós saímos e fomos caminhando para casa, os dois em silêncio. Ele ia se separar de mim e eu o segurei.

_Não. Vem comigo!

Minha mãe não estava em casa porque ela tinha que resolver alguns compromissos e depois ia para a casa de uma amiga, iríamos estar sozinhos, o que era bom para evitar perguntas.

Ele ficou um pouco confuso mas apenas me seguiu. Caminhávamos devagar. Depois de um tempo chegamos, a casa estava vazia. Entramos e fomos para o quarto.

_Seus pais não precisam saber que você está aqui... eles pensam que está na escola.

_Mas e se eles descobrirem? E se meu pai descobrir?

_Ele não vai. Acredite. Agora fala, pode falar_ Eu segurei as mãos dele e o olhei nos olhos _Tudo vai ficar bem, eu estou aqui.

_Eu só não quero mais voltar para aquela casa. Eu não aguento mais ver o meu herói me olhando com nojo e agindo como se não fosse meu pai. Odeio minha mãe encima de mim, querendo minha atenção, querendo saber de cada coisa que eu faço. Ela me dá uma atenção que eu não preciso. Eu só não quero mais ficar lá, eu só não aguento mais...

Eu o abracei. Estávamos em pé e nós ficamos assim por um bom tempo, abraçados. Depois de alguns segundos, o que pareciam horas, eu sentei na cama com ele e olhei nos olhos dele. Passei a mão no rosto para secar as lágrimas dele e ele olhava mim mas ao mesmo tempo que não queria olhar. Eu chamei pelo nome dele e ele me olhou. No fundo dos meus olhos.

_Jhon_ ele olhou para mim com aqueles olhos escuros e brilhantes _Eu gosto de você.

_Eu sei_ ele sorriu meio triste

_Eu realmente gosto de você... desde nossa primeira conversa eu...

Em vez de completar a frase, eu avancei a frente e o beijei. Não foi um beijo longo, de cinema com lingua e saliva mas foi um beijo, devagar, sincero. Ele estava mais calmo, pensativo.

_Eu... eu tenho que ir.

Ele pegou a mochila e levantou antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele desceu as escadas. Eu fui atrás dele.

_Olha, desculpa pelo o que eu fiz, volta aqui, por favor!_ ele continou e saiu pela porta da frente _Eu sei que aquele beijo foi num momento errado mas eu só quero conversar..._ ele parou um pouco antes de chegar no portão.

Eu cheguei até ele e quando olhei para frente, vi o pai dele em pé, na frente do portão nós olhando sério.

_Jhon, ¡entra en ese puto coche ahora!_ ele quase gritou. Estava com muita raiva.

Que merda eu fiz! Que que eu fiz? Meu Deus! MEU DEUS!

_Jhon, fica.

Ele começou a andar devagar. Eu segurei a mão dele mas ele soltou e me olhou, depois continuou, devagar. Vi que caiam lágrimas mas nenhuma expressão no rosto era visível.

_É culpa minha_ ele disse baixo, quase que num sussurro.

_Por favor, fica

Lágrimas começaram a escorrer, isso era culpa minha.

_O que você vai fazer com ele!? Deixa ele em paz!

_Vamos a tener una buena platica cuando llegarmos en casa, maricón_ ele entrou no carro e saiu.

Voltei pra casa e liguei para ele mas ele não atendia nem via as mensagens. Merda.

Me joguei na cama e aquela cena não parava de se repetir na minha cabeça.

CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora