6 . A razão

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Ta, não me matem! Eu tô aqui de volta, 5 horas depois, cansado demais mas vou continuar!

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_Isso aconteceu a mais ou menos um ano. Nós estávamos morando em Madrid e meu pai tinha um cargo público importante. Para ele, imagem era tudo. Ele não me aceitou depois que... que...

Esse momento lagrimas rolavam pelo seu rosto, eu apenas ouvia.

_Eu disse a ele que eu sou gay e ele surtou. Ele começou a gritar comigo falando que isso não era de Deus, que eu era uma infecção pro mundo e que tinha vergonha de mim. Disse que isso estragaria sua imagem, ter um filho que não era natural. Sabe... começo a pensar que ele esta certo. As vezes eu só queria... desaparecer

Ele estava chorando e eu o abracei. Pus a cabeça dele no meu peito e o abracei. Vou admitir eu estava preocupado com ele mas eu gostei da sensação de tê-lo em meus braços.

_Minha mãe nunca concordou com ele mas ela não tinha muita escolha. Ou ela continuava com ele ou morava na rua. Ela não tinha emprego, não tinha para onde ir, muito menos eu. Ela conseguiu convencê-lo a pensar sobre isso. Ela ajudou ele a abrir um pouco a mente dele mas ainda..._ ele fez uma pausa um pouco longa, talvez procurando palavras_ nós estamos aqui, não estamos? A nossa relação era tão... perfeita. Nós dois gostávamos de sair nos finais de semana, jogávamos futebol na praça perto de casa depois íamos à sorveteria. Ele me ajudava a estudar para as provas e sempre que tirava um A, ele me levava no cinema.

Eu comecei a acariciar a cabeça dele enquanto ele falava. Minha camisa estava meio molhada por causa das lágrimas dele. Eu o abraçava forte. Queria estar do lado dele e queria que ele soubesse disso.

_Tudo isso acabou. Com 3 palavras, minha vida toda mudou. Ele não fala mais comigo e todo tipo de contato que ele comigo é porque minha mãe o obriga ou é algo sem importância...

Ele se sentou e ficamos um do lado do outro, os dois encostados na parede de novo. Ficamos em silêncio por um certo tempo até ele se acalmar e de repente ouço a voz dele:

_E para piorar, eu ainda tô gostando de um menino...

Meu coração parou; meu estômago virou uma coisa unicelula e as mãos suavam. Não sei de onde saiu a coragem para falar:

_Serio?... quem?

_Isso importa... não tenho chances com ele.

Não, não poderia ser eu. Eu não! Eu não aguentava de curiosidade.

_E por que você acha que não?

_Ele é hetero, com certeza. Seria estranho ter um relacionamento com ele e ele é o...

_Filho...!

Minha mãe começou a chamar enquanto subia as escadas. Eu sequei as lágrimas dele pela última vez e as minhas antes de ela aparecer. Dei o meu melhor sorriso.

_Oi, mãe_ sentei na cama

_O pai do Jhon está lá embaixo... veio buscar ele

_Nós ja vamos descer.

_Tudo bem, mas não demora_ ela desceu.

Eu levantei e me alonguei. Senti até meus músculos estalarem. Jhon soltou uma leve risada.

_Vai lavar o rosto, não quero que seu pai descubra que você estava chorando...

_Tudo bem...

Ele levantou e foi até o banheiro lavar o rosto. Depois descemos juntos. Ele na frente. Minha mãe estava no sofa com o pai dele tomando um cafezinho, bem íntimos eles... mas são dois BR's, faz um café que qualquer um vira amigo.

Ele tinha um leve sotaque. Ele é brasileiro, eu já disse antes mas deveria ter vivido muito tempo na Espanha. Era engraçado mas eu só queria dar um soco na cara dele mas eu me fiz de quem não sabia de nada e dei o meu mais forçado e convincente sorriso que podia e...

_Então esse é o pequeno Lucas?_ ele sorriu e apertou minha mão

_Boa noite, senhor...?

_Rafael.

Minha mãe percebeu o clima estranho entre a gente e salvou a noite.

_Bom, está ficando escuro na rua, não? É mais seguro enquanto tem sol._ ela deu um grande sorriso e um abraço no Rafabosta _Se quiser pode voltar aqui mais vezes... Nós podemos fazer um almoço, o que acha?

_Claro! Seria uma ótima idéia, é bom que Lucas já esteja fazendo amigos, principalmente um como o teu filho.

Minha mãe um grande sorriso orgulhosa e olhou para mim.

_Mas agora nós temos que ir_ ele disse caminhando em direção à porta. Minha mãe abriu e ele saiu_ Obrigado pelo Café, Sabrina, até outro dia!

Jhon me olhou e depois saiu caminhando rápido para o carro com o pai dele. Minha mãe fechou a porta e me questionou:

_Aconteu alguma coisa para você estar tão nervoso?

Aconteceu sim, eles estão aqui porque o teu queridinho Rafael é homofóbico que não aceita o filho. Por isso ele ta se automutilando e só eu sei disso. Obrigado por perguntar!

_Não, só estamos um pouco cansados do trabalho e da escola mas está tudo bem...

Ela me abraçou toda amorosa e me enchendo de elogios e coisas do tipo, vergonhoso que se fala? As 19h meu pai chegou.

CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora