Cicatrizes

9 . Que comecem os jogos

Eu cheguei em casa e ocorreu tudo normalmente. Almoço com minha mãe, trabalho para terminar e eu ia fazer uma boa limpeza na minha "casa"... enfim, coisas que pessoas fazem. Quando era mais ou menos 20:45h, minha mãe me chamou para jantar. Conversamos sobre a escola, o trabalho do meu pai (ele chegas 19h, lembra.(?) Mas não é importante. Tudo normal até que...

_Lucas, domingo a Família do Rafael virá aqui_ minha mãe disse feliz.

Meu pai parecia animado _Descobri que ele é um grande candidato à parceria da empresa, estou tentando fechar um negócio com ele faz meses. Se eu conseguir, vou ser promovido e nossa empresa vai expandir para 3 países nos próximos 5 anos!

_Nossa...! Que emocionante!_ respondi em pânico

_Pois é!_ minha mãe parecia bem feliz. _Naquele dia você nem conversou com ele, não é? Ele é inteligente, aposto que o Jhon também é_

_É, ele é..._ dei meu mais falso e convincente sorriso _Estou ansioso por isso _ EU QUERO MORRER!

Depois de sair da mesa eu subi quase que correndo e peguei meu telefone.

Jhon                       📞      📽       ○●●

Ta aí?

Sim

Minha mãe convidou seu pai para um maravilindo almoço. Parece que seu pai e meu pai são parceiros de negócios ou sei lá...

Maravilindo?

Esquece isso e foca no assunto: nossos pais. Se eles ficarem amiguinhos, vamos ter que aguentar a falsidade do seu pai e ele dentro da minha casa mas vamos ter mais tempo para ficarmos juntos. Quer dizer, isso é bom e ruim mas o problema é que eu não consigo olhar para a cara dele sem sentir vontade de vomitar. Eu não sei se vou conseguir ficar um dia com ele fingindo que está tudo bem.

Olha, não há nada que possamos fazer! Não podemos falar para ninguém ou algo pior que algumas marcas pode acontecer.

Vamos esperar... temos que pensar muito bem sobre isso... eu odeio aquele homem!

Ele ta aqui, tchau

Larguei o telefone na cama e comecei a pensar. Não naquele Rafalixo mas no Jhon. Acho que realmente estava gostando dele mas sei lá... é muito complicado! Há pouco tempo atrás eu estava vivendo uma vida chata que nada acontecia agora eu de um garoto que gosta de mim mas o pai dele simplesmente não aceita que gays existem e não vê que não vamos deixar de existir porque ele não quer! É uma situação difícil.

Quando chegou sábado, meu coração acelerava a cada vez que pensava naquele almoço. Pensando na sensação de ver aquele monstro rindo feliz à mesa e meus pais achando que ele é o ser mais impotante do momento. Me dá nojo. Mas eu não ia falar nada, não podia. Tinha que fingir bem o sufiente para ele não pensar que o Jhon tinha me contado algo.

Era 10h da manhã então resolvi chamar o Jhon para ir em um shopping aqui perto. Poderíamos ir no cimena e esquecer um pouco tudo isso. Felizmente a mãe dele deixou. Resolvemos almoçar lá e depois ver o filme. Infelizmente, estávamos ansiosos demais para comer então dividimos uma bolacha e conversamos sobre coisas aleatórias, tentando se preocupar o menos possível. Fomos ao cinema escolher algo  para ver. Escolhemos um filme e fomos à sala. Era aquelas salas grandes, dava mais ou menos 200 pessoas. Sentamos mais ou menos no fundo e ficamos vendo o filme.

Estava mais ou menos na metade do filme quando eu olhei para o lado. Jhon estava na minha esquerda e ele ficava realmente bonito sob aquela pouca iluminação da tela. Ele parecia estar se divertindo. Eu criei um pouco de coragem e segurei a mão dele. Ele tirou a mão mas depois voltou e segurou. Ele olhou para mim, estava visivelmente nervoso, meu coração estava muito rápido e forte. Nós dois nos aproximamos e selamos nossos lábios. Dessa vez sem medo. Sem medo de alguém ver, sem medo de alguém descobrir, apenas aproveitando o momento. Foi um beijo longo, despreocupado e sem dúvida o melhor beijo da minha vida.

_Quer namorar comigo?_ falei quase que sem pensar. 

Ele soltou minha mão e voltou a olhar o filme. Eu fiquei com o coração na mão. Ele não ia aceitar? Não, não, não, não! Que droga!

Finalmente o filme acabou e as luzes se ascenderam. Nós andamos até a saída e nenhum de nós dois disse nada.

_Vamos chamar um Uber?_ Falei enquanto pegava meu telefone.

_Pode ser...

_5 minutos

Ficamos na frente do shopping esperando o carro.

_O que você acha que vai acontecer amanhã?_ ele perguntou

_Eu não sei mas sinto que não vai ser coisa boa...

_Vamos esperar para ver.

_Aconteça o que acontecer, eu estarei aqui.

O carro chegou e entramos. 10 minutos depois chegamos à casa dele. O pai dele estava trabalhando então não havia problemas, mas a mãe dele estava em casa, ela o aceitava e o protegia do pai, ela impedia que as surras fossem piores mas era incapaz de evitá-las... não é nada tão simples.

Quando o carro parou, estávamos no banco de trás. Ele olhou para mim e me beijou, eu me assustei mas retribui o beijo.

_Sim, eu quero._ ele disse e saiu do carro, sem nem esperar resposta e entrou em casa. Eu saí e fui para a minha.