Cicatrizes

18 . Aceitação

Meu pai levantou da mesa e saiu. Eu não entendi muito bem a reação dele mas eu sabia que não tinha sido boa. Minha mãe foi atrás, ninguém disse uma palavra. O silêncio tomou conta do espaço. Eu levantei e fui para o quarto, Jhon veio atrás de mim.

Eu sentei na cama e fiquei com a cabeça entre os joelhos. Lágrimas cairam mesmo eu não querendo. Eu tentava ser forte. Jhon ficou do meu lado, em silêncio, com o braço ao redor de mim.

Eu ouvi a porta se fechando, olhei para ver se havia alguma movimentação mas não havia nenhum sinal, talvez eles tenham ido atrás dos meus pais.

Naquele momento eu odiei. Eu me odiei por ser assim, eu me odiei porque era culpa minha estarmos aqui, eu me odiei porque havia perdido duas pessoas que amava muito. Eu ouvi um barulho, vindo do Jhon, acho que ele estava chorando também. Ele não merecia isso.

Alguns minutos se passaram e Maria voltou. Ela disse que conversou com meus pais. Ela disse que eles só precisavam de um tempo para digerir tudo aqui. Eu não sabia se deveria acreditar.

Eu deitei na cama, e só... chorei. Não sei quanto tempo se passou e  eu apaguei. Eu tive um sonho entranho, não era sonho e sim memórias. Dos momentos juntos que passamos, momentos felizes, rindo, momento tristes, porém que estávamos juntos, momentos que mostrava o quão amado eu era e eu me odiava por ter perdido tudo. Eu então ouvi alguém me chamar ao fundo, chamar meu nome, tudo virou fumaça e eu acordei.

_Lucas_ a voz chamou _Acorda_ um sotaque carregado de uma mulher, Maria.

Eu acordei com muita dor de cabeça, parecia que ia explodir.

_Oi_ disse um pouco tonto.

_Vem, vem comigo_ eu não tinha o costume de dormir à tarde então estava enjoado e um pouco tonto mas logo passaria, já a dor de cabeça...

Eu a segui até a sala. A mesa e já estava limpa e o céu estava escuro. Quanto tempo eu dormi? 6 horas? Talvez... quando cheguei na sala, vi meu pais, juntos. Eles pareciam ter chorado, principalmente minha mãe.

Sabe, esse é um momento importante na vida de um LGBT+ porque é o momento em que a vida muda. Quer dizer, parece fácil para um hetero dizer: se assumir é tão simples. 3 palavras e deu, ta assumido. Não é só isso. A partir do momento que citamos essas 3 palavras, passamos a entrar numa guerra, sem chance de voltar. Ou luta, ou se esconde e vive reprimido. Nenhum hetero saberá como é andar na rua de mãos dadas com quem ama, e se sentir ameaçado o tempo todo caso apareça algum homofobico. Quando você um casal hetero se beijando na rua ou talvez só uma troca de carinhos, você fica, nossa que fofo ou só ignora mas não sabe como é ser olhado de forma diferente, um olhar de reprovação das pessoas. Não estou dizendo 100% das pessoas mas muitas são assim.

Esses medos que eu enfrentaria por ter me apaixonado por um garoto. Mas eu não podia me preocupar demais com isso porque o pior era esse: lidar com a possível rejeição de quem ama ou com o apoio.

Minha mãe e meu pai estavam na sala, em pé. Eu estava com Maria, estava com medo mas tinha que encarar isso aqui e agora.

Minha mãe estava visivelmente emocionada. Eu não esperava que ela abrisse os braços esperando que eu fosse até ela e a abraçasse. Eu fui. E ela começou. Eu não acredito que isso realmente estava acontecendo. Ela olhou para meu pai. Ele exitou um pouco mas logo veio junto no abraço. Eu estava tão feliz que eles ainda me amavam.

_Nós vamos estar aqui, filho! Vamos te proteger sempre!_ disse meu pai.

César entrou nesse momento e viu  a gente abraçado e esboçou um sorriso. Caminhou até Maria e ficou observando a cena. Passou um braço em volta das costas dela e sorriu.

_Bom, gente. Agora que esta tudo resolvido, que tal fazer do almoço uma janta?_ disse César tentando tirar o clima um pouco melancólico do ar.

_Ótima ideia, César._ disse Maria.

Enfim, essa é uma das lembranças mais importantes que eu carrego comigo. Prefiro não entrar em detalhes, é uma coisa que prefiro guardar para mim mesmo.