III

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- Tá tudo bem? - Josh me olhou com uma expressão confusa.

- Não está nada bem, Josh. - saí do carro completamente grogue, envergonhado e comecei a caminhar cambaleando.

Caminhei alguns metros tentando pensar no que acabara de acontecer, já que meus neurônios estavam lutando entre si.

Oh céus, eu não posso beber!

Por que Josh tinha que mexer tanto comigo? Como ele conseguiu mexer tanto comigo em apenas cinco dias?

- Ty. - um carro se aproximou e a voz de Josh saiu de dentro dele. - Entra no carro. Por favor. - neguei com a cabeça. - Tyler, por mim. - parei.

Olhei para dentro do carro e vi seus cabelos chamativos. A luz da lua batia em seus olhos e fazia com que eles brilhassem cada vez mais.

Me debrucei na janela.

- Não vou te fazer perguntas. Só me deixe apenas te levar pra casa. Está nevando. Não quero que fique doente por minha causa. - disse me olhando com dó.

Não respondi. Apenas olhei para os dois lados da rua e decidi entrar.

Diferente da ida, a volta foi silenciosa demais. Ouvir os barulhos do carro, mas não ouvir a voz de Josh estava me matando. Após algumas ruas, chegamos em minha casa.

- Tyler, me desculpa. - Josh disse com um olhar de culpa quando desci do carro. - Eu não devia ter te beijado sem seu consentimento.

Demorei um tempo para conseguir formular uma frase que não fosse soar idiota.

- Eu também quis, Josh. - disse seco e entrei.

Subi as escadas, destranquei a porta e me joguei no sofá. Como eu pude me render tão fácil à um beijo? Apenas um? Não foi a bebida. O álcool apenas nos dá coragem para fazer o que já queremos. Mas de qualquer maneira, por que Josh me beijou? Não éramos só "amigos"?

Tentando afastar qualquer tipo de pensamento relacionado à isso, decidi ler a carta que havia recebido mais cedo.

Caro, sr. Joseph

Lamento muito em avisá-lo, mas infelizmente terá que se retirar de sua residência em menos de vinte e quatro horas.
As faturas do aluguel não foram pagas corretamente e por isso o senhor está sendo despejado.
Amanhã (21/05/2019), até às quatorze horas, o apartamento deverá ser esvaziado com todos os seus pertences.

- AACC

Era só o que faltava para completar a minha noite.

Um ódio do meu pai subiu à minha cabeça. Meu sangue esquentou e fechei minhas mãos com força. Quem pagava a porcaria do aluguel do meu apartamento era ele. Então por que deixou de pagar corretamente?

Eu não tinha para onde ir. Ele morava em Nova Orleans e minha mãe em Washington. Não havia nenhum parente próximo que poderia me abrigar e o meu salário não era o suficiente para me manter.

Eu estava desamparado. Peguei meu celular e rapidamente disquei o número do Josh, que foi a primeira pessoa que passou pela minha cabeça.

- Alô? - ao ouvir sua voz, percebi o quão errado era o que estava fazendo e desliguei.

Pela primeira vez em toda a minha vida não vi uma maneira de como lidar com um problema.

[Josh]

Se eu dissesse que não queria o beijo, seria mentira.

Desde a primeira vez que o vi, senti algo diferente. Uma atração a qual eu gostaria de nutrir com abraços, beijos e até mesmo sexo.

Já perto de minha casa, meu telefone tocou e quando li "Tyler" no ecrã, não me recusei a atender.

- Alô? - atendi, ouvi uma respiração do outro lado e do nada, a ligação acabou.

Fiquei preocupado, mas achei que me ligou por engano, já que não queria mais olhar pra mim.

- Onde estava? - meu pai pergunta quando ponho os pés em casa.

- McLaren's. - respondi fechando a porta e subindo as escadas.

- Com quem? - ele perguntou ainda no mesmo tom.

- Será que tem como você parar de me encher o saco? Mas que merda! - disse alterado, pela bebida...e pelo Tyler. - Eu não tenho mais quatorze anos!

- Joshua William Dun! Eu... - o interrompi quando percebi que iria gritar.

- Você o que? É o meu pai? - ri sarcástico. - Mas o dono da minha vida sou eu! E eu já estou cansado de você sempre me dizendo o que eu tenho que fazer ou deixar de fazer! Você reclamando da minha aparência, dos meus gostos e até mesmo da minha sexualidade! - dei um ênfase na última parte e ele percebeu.

- Estava com um homem? Você estava com um homem por aí?! - perguntou alterado. - Você foi feito para casar com uma mulher, Joshua! Uma mulher!

- Para de ficar repetindo o meu nome! Eu já sei que me chamo Joshua e também já sei da sua puta homofobia! - gritei mais alterado.

- Enquanto estiver debaixo do MEU teto, não quero esse tipo de vocabulário! Não quero você trazendo homem pra dentro da minha casa! Não quero você chegando a hora que quer e não me dando explicações! - socou o corrimão de mármore que acabou rachando.

- E é por isso que eu vou embora desse inferno! - terminei de subir a escada e me tranquei no quarto, socando a parede.

O ódio me consumia naquele momento. Eu e meu pai brigávamos sempre, mas nunca dessa maneira.

Peguei minha mala em cima do guarda roupa e enfiei nela todas as roupas, sapatos, acessórios, perfumes e algumas decorações que eu gostava.

Olhei para os meus pôsteres na cabeceira da cama, passei a mão por eles e respirei fundo.

Fui até o meu guarda roupa e achei a minha caixa. Uma pequena caixa que guardava os meus bens mais preciosos. Duas baquetas autografadas pelo Tré Cool, que eu havia ganhado da minha mãe no meu décimo terceiro aniversário.

Coloquei ela dentro da mala, fechei e deixei sobre a cama. Tirei minha roupa e me joguei em baixo do chuveiro.

Mesmo com tudo o que acabou de acontecer, minha cabeça ainda estava no Tyler. Tudo o que rolou tão rápido entre nós. O tanto que bebemos. O olhar de desejo dele. A voz quente que saiu de mim. Eu não sabia o que seria de mim depois desse fim de semana.

Respirei fundo e soltei pela boca. Saí do banho, vesti outra roupa qualquer. Peguei minha mala, dei uma última olhada no quarto e fechei a porta.

Desci sem nenhuma dificuldade e quando cheguei na sala, meu pai ainda estava lá sentado em sua poltrona.

- Se você sair por aquela porta, não entrará mais aqui. - disse autoritário tentando segurar a lágrima que estava prestes a cair.

- Fique tranquilo. Aqui eu não volto mais. - assenti e saí de casa.

Abri o porta malas e a coloquei lá. Entrei no carro e finalmente me sinto livre.

my office boy • joshlerOnde histórias criam vida. Descubra agora