Homens de negócios

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Abu Fahid decidiu que ser pobre simplesmente não prestava e decidiu isso enquanto segurava seu precioso café servido em xícara de prata. O café de gosto forte, sem açúcar, tinha cheiro de terra, e ele gostava disso. Abu era um herdeiro, um Sheik em sua terra, mas isso não significava que ele não trabalhava muito. Não era um Sheik religioso, muito embora fosse um islã fervoroso, mas era um líder - e todos o reconheciam assim. Ele tinha habilidades como Sheik, e sabia prover para sua tribo, afinal ser rico era uma coisa, se manter rico era outra completamente diferente. Todo árabe tem negócios na veia, e mesmo agora, sentado em seu palácio em uma calma manhã de primavera, Abu estava ganhando dinheiro.

As letras na televisão anunciavam a cotação da moeda e gritava notícias do mercado global. Ele mal prestava atenção. Seus enormes olhos negros e seu físico atlético vestiam uma calça branca de tecido grosso, uma sandália de couro beje e uma camisa solta em tons de azul claro. Ele não fazia questão de andar de ternos finos só para mostrar que era rico. Todo mundo que importava sabia quem era Abu Fahid e isso o bastava.

Sorveu uma generosa porção de café e observou seu criado, Rashid cruzar o salão. Embora Abu estivesse sentado em meio a uma pilha confortável de almofadas no chão, em uma sala decorada com azulejos pintados à mão ele decidiu que não podia passar o dia admirando a beleza daquela casa.

- Rashid. Preciso ir ao banco hoje. Preciso conversar sobre uma remessa. O carro está pronto?

- Senhor Fahid, está sim, senhor. - Respondeu o homem com traços levemente indianos. - Eu ia visitar o mercado a pedido da cozinheira mas é possível adiar o pedido para...

- Bobagem. - Abu levantou a mão sorrindo. - Gosto de um passeio à cidade. Há um banco perto do mercado. E eu não preciso ir ao escritório hoje. Um passeio me fará bem. Mantemos os planos.

- Senhor. Claro! Podemos sair quando o Senhor estiver pronto.

- Neste caso... - Colocou-se de pé, exibindo o físico de um guerreiro belo.

- Vou buscar o carro para a frente da porta, Senhor.

Abu era acostumado a ter criados. Seus pais eram ricos, e ele era muito mais. Sua casa - um pequeno palácio de três andares e oito quartos, estava na família há quase 100 anos. Abu não tinha irmãos e morava hoje longe de seus pais. Seu pai estava velho demais e sua mãe não era muito valorizada pois havia dado a luz a apenas uma criança -pelo menos a criança era um menino, mas ele a via como uma Deusa. Muitos de seus amigos batalhavam por filhos homens, fazendo festas a cada esposa que lhes dava um menino, mas Abu compreendia a importância de uma família equilibrada, e isso incluía mulheres. Mulheres, na visão dele, eram o equilíbrio e a alma de uma casa. Ansiava por filhos, mas, que Alá lhe desse filhas!

Ele tinha 38 anos e não era casado. O último solteirão da Arábia Saudita. Infelizmente Abu não suportava as mulheres que lhe apresentavam - treinadas para serem esposas e desprovidas de amor próprio e auto estima. Era deprimente e ilegal e ele não queria aquilo. Abu era um homem árabe, e tinha seus princípios. Ele gostava do romance, mas gostava da conquista, queria alguma emoção em seu casamento. Queria alguém com quem pudesse conversar, trocar ideias... e ser ele mesmo.

Foi até o mercado em um carro sedan, sentado no banco de trás olhando as pessoas puxando carroças e vendendo bodes. O mercado sempre era pitoresco e cheirava a açafrão. Ele sabia que o mercado era um lugar para as pessoas pobres e turistas curiosos, não era um local o qual frequentava - até porque ele tinha criados como Rashid que faziam isto para ele. Abu achava curioso como as pessoas se comportavam, gritando por barganhas e agarrando os melhores vegetais para si. Ele gostaria de transitar ali, mas sua função tornava isso quase impossível.

Primavera em árabeOnde histórias criam vida. Descubra agora