Negócios são negócios

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Ele estava sentado em sua imensa escrivaninha de mogno. Uma figura peculiar. Vestia agora um terno, uma imagem quase ocidental de um homem belo e refinado. Abu era de fato refinado, pensou Natasha enquanto arrastava o vestido azul simples de malha pela sala dele. Haviam estantes de livros, almofadas pelo chão e tapetes persas. Outro cenário perfeito para um filme, pensou ela. Muito dinheiro e ouro para um homem poderoso.

Abu apontou para a cadeira na frente dele, esperando ela se mover e se sentar, e já mostrando que a conversa seria séria.

- Natasha, chamei você aqui por um motivo. Temos algumas coisas para acertar sobre sua presença nesta casa. Pedirei para não me interromper.

- Veremos.

Desafio. Sempre um desafio.

- Você quer ser util para minha empresa e não vejo problema nisso. Esta sala será sua sala de trabalho. Trabalhará para mim conforme solicitado por você, das 8 às 13, de segunda à quinta. Pagarei-lhe o equivalente a 10 mil dólares para redigir documentos e corrigir pautas de reuniões. Entendo que você é jornalista. Talvez isso seja adequado. É o suficiente?

- Por mês?! - Perguntou chocada com o salário alto.

- Por semana. - Disse surpreso por ela estar surpresa. - Se não for o suficiente...

- É suficiente, mas sou jornalista investigativa, Abu. Sabe o que isso significa?

- Suas despesas podem ser cobertas com seu salário, roupas e o que desejar. - Ignorou a parte em que ela explicou sobre sua profissão. Investigar ali certamente era problemático. - Quando quiser sair eu ou Rashid lhe acompanharemos. Peço que respeite apenas os horários das orações, eu as faço e Rashid também.

- Claro!

- Agora... sobre você na minha casa... e eu. Você e eu.

- Sim... - Ela prendeu a respiração, sabendo o ponto que aquilo provavelmente iria chegar.

- Talvez não goste desta parte, mas eu emiti um pedido de casamento entre nós dois. Quero que você tenha segurança e meu nome lhe dará isso. Responder como minha esposa será o motivo mais lógico para eu ter uma mulher ocidental em casa. Não nos conhecemos, mas estamos nessa juntos... - Tentou ser delicado. - Não quero que seja um mero acordo... quero que goste daqui.

Ela estava chocada e queria acertar um soco na cara dele? Natasha deixou o queixo cair, ficando pálida e começou a respirar pesado.

- É um preço alto, não é mesmo? Para mim... para você. - Tentou ponderar.

- Infelizmente há, Natasha. Alto mesmo, devo dizer. Sua vida foi salva mas temo ter tirado muito de você no processo. Sinto muito por isso.

- Terei que agir como uma esposa do islã? - Perguntou entre os dentes.

- Talvez.

- E o que isso envolve? Esse casamento? Já que você me comprou como uma mula no mercado... imagino que não deva ser complicado.

- Eu não compro mulas no mercado... - Ele levantou a sobrancelha sem entender nada e observando o punho dela se fechando com raiva. - Casamentos no meu mundo não são simples. Omar irá te examinar, para garantir a sua virgindade, ou alguma mulher. Após o casamento também, para garantir que ele foi consumado. Teremos 3 dias.

- Sexo? Com você? Em 3 dias? Seu grande....idiota...babaca... - Ela socou a mesa com força. - está falando sério?

- Vai precisar se adaptar, Nat. - Deu a Natasha um apelido quase carinhoso. - Não bata na mesa, é mogno.

- Abu, meu deus! Eu sou grata por ter salvado minha vida, mas eu não te conheço e certamente não pretendo casar com um homem que não conheço. - Ela se levantou, ficando vermelha de raiva e pronta para uma briga. - Mas que confusão enorme e... o que vamos fazer?

Primavera em árabeOnde histórias criam vida. Descubra agora