Sem pistas

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O relógio bateu meio dia quando Natasha olhou para dentro do galpão do mercado. Sozinha, ela tentou imaginar onde Said estaria, mas tinha certeza que havia mercadoria ali - afinal, ela conseguia ouvir. Ela precisava de fotos, imaginou, coisas para conseguir apoio para combater Said. Com o movimento certo, talvez, pudesse acabar com o negócio. Natasha tinha os contatos certos e ainda podia usar eles - sendo ou não casada com Abu. Afinal, esse tinha sido o acordo, não era?

Ela ouviu dois homens falando. Vozes e risos. Um deles se vangloriando sobre ter encontrado uma mulher jovem que ia lhe parir filhos. Quando ela imaginava alguém na situação que ela tinha estado, ela lembrava do horror. Lembrava de ser esticada nua enquanto um dos homens olhava sua vagina para constatar sua virgindade. Lembrava dos dedos sujos e grossos mexendo nela, e o medo, constante, de que um deles ia a estuprar e matar - ali mesmo.

Ela agracedeu por Abu, mas agora, tinha que ser focada.

Com cuidado, ela inclinou-se o suficiente para conseguir um ânglo. Mirou a única câmera que tinha, e tirou algumas fotos do galpão.

Sorriu. Seria o suficiente. As fotos sujas e imundas, que mal tinham iluminação mostravam o lugar horrível o suficiente para fazer a ONU ou alguma outra autoridade enfiar o nariz ali. Com denúncias, o negócio de Said ficaria exposto - ou ele seria preso, ou teria que sair de circulação. Era isso que ela queria.

Natasha sentiu o revólver na cintura, e pensou. Podia entrar ali e matar todos eles. Podia... mas não devia. Ficou feliz pelas fotos e sabia que era hora de voltar. Tinha muito trabalho para fazer.

Virou-se, pronta para ir embora, com calma, pelas ruas do mercado, quando viu Said, parado atrás dela, com as mãos nos bolsos.

- Natasha Fahid. - Ele sorriu, dizendo o sobrenome de Abu. - Está um pouco longe de casa, não é mesmo?

Ela gelou, completamente, agarrou a câmera mais para si e a levou, discretamente, para trás do corpo.

- Eu... vim fazer compras.

- O mercado é para lá. - Ele apontou para longe do galpão, para onde pessoas tinha sacolas e cestas cheias de frutas. - Fico impressionado com sua... determinação. Não achei que voltaria para esse galpão.

- Eu não... - Ela engoliu seco. Não, ela não poderia parecer frágel. - Eu já terminei aqui, eu preciso voltar para casa, meu marido está me esperando.

Natasha deu um passo determinado para frente, e sentiu a mão de Said em seu braço. Ela sentiu um gelo na coluna.

- Essa câmera é minha. - Ele falou, frio, olhando-a nos olhos.

- Me solte. - Ela ordenou. - Me solte agora mesmo.

- Uma mulher, sozinha no mercado, vindo atrás de assuntos de homens. - Said falou, com os olhos pingando de soberba. - Me diga, Natasha...você não é mais virgem, não é mesmo? Ele já lhe usou... em todos os buracos. - Ele respondeu, passando a língua na boca de forma nojenta. - Ele já comeu seu cú?

- Me solte agora mesmo ou eu vou gritar. - Ela ordenou, nervosa.

- Grite... eu adoro quando mulheres gritam. - Sorriu para ela, frio. - Mas eu acho que você precisa de uma boa lição, para aprender a ficar longe dos meus assuntos.

Natasha puxou o braço com força e viu Said olhando para seus colegas, com firmeza.

- Levem a senhora Fahid para minha sala, nós dois vamos conversar.

Primavera em árabeOnde histórias criam vida. Descubra agora