Não podemos evitar

2.6K 163 10
                                    

Natasha estava sentada na escrivaninha que ele havia lhe indicado, lendo sob pilhas de documentos escritos em pelo menos três línguas diferentes. Havia muito trabalho a ser feito mas ela só conseguia pensar em Abu e no que ele havia lhe dito mais cedo. Sua cabeça girava e embora tudo que ele falou fizesse sentido ela não se sentia consolada ou se quer convencida. Claro que havia um preço para ela ali, ela não era ingênua e sabia disso. Abu era um homem rico, de sociedade e com certeza p casamento era a melhor opção para ambos - mas isso não tornava a ideia mais fácil.

Casar com Abu não era o que ela queria ou tinha em mente mas também ela não sabia como sair dali ou o que deveria fazer para ficar viva. Por um momento ela pensou na cabeça de Abu e como ele deveria estar se sentindo, mas não conseguia. No momento, ela só conseguia avaliar a situação por seu lado. Nima havia a examinado, a deixado nua no meio da sala, e agora, mesmo sob pilhas de documentos e cheia de trabalho, Natasha ainda não se sentia melhor. Talvez, depois de algum tempo fosse melhor, talvez ela pudesse fazer as coisas serem melhores.

Abu tinha salvo sua vida, mas o preço era alto. Infelizmente, ele também não havia mentido para ela. A ignorância poderia ser uma benção, mas Abu foi muito sincero desde o início. Um país como aquele, com aquelas regras, exigia muito de um homem como Abu. O preço dela era o preço dela e ele tinha se metido no problema tanto quanto ela. Porém, ele era um homem em sua terra e ela era apenas uma estrangeira de cabelos vermelhos.

Ela espalhou mais documentos sob a mesa, apanhando uma caneta azul nas mãos e foi quando percebeu que Abu estava parado na porta, de braços cruzados, a observando.

- Não te vi aí. - Declarou suspirando. - Está aí tem muito tempo?

- Menos de um minuto. - Ele falou, sorrindo. - Não quis te interromper.

- Eu estou só organizando uns papéis. Você tem vários deles e estão uma bagunça, não posso trabalhar assim. Queria pelo menos organizar o que fazer primeiro e catalogar tudo.

- Não precisava começar agora. - Abu entrou no recinto, sorrindo com gentileza. Era estranho ver uma mulher cheia de trabalho assim, mas a ideia o agradou. Natasha cercada de papéis e sentada numa posição de poder o deixou encantado. - Não está no seu horário de trabalho.

- Não, mas não é como se eu tivesse muito mais para fazer, a além disso, eu precisava me distrair depois de tudo que aconteceu hoje.

Ele concordou com a cabeça, puxando uma cadeira e se sentando na frente dela. Ver uma mulher trabalhando era raro e ele se deliciou com a ideia. Raramente ele se sentava na posição de cliente, e raramente havia outra pessoa na cabeceira da mesa que não fosse ele.

- Como foi com Nima?

- Ela deve ter te falado. - Natasha respondeu ríspida, já puxando mais documentos para frente de seu corpo.

- Sim, mas desejo ouvir de você.

- Foi horrível, está bem? - Declarou sem olhar para ele. - Eu não me senti confortável e ninguém nunca havia me visto sem roupas assim.

A movimentação dela o incomodou, então Abu projetou o corpo para frente e segurou a mão dela com força, passando carinho. Ele precisava fazer ela pisar em seu mundo e ela pareceria querer correr. Como poderia casar com uma mulher que queria correr?

- Eu não sou o monstro que você pensa que eu sou. E eu sinto muito pelo exame. Não pense que o fiz por capricho meu...

- Eu nunca disse isso. - Ela tentou puxar a mão de volta. - Eu só não... não foi bom....

- Se houvesse outro jeito, eu o faria, e acredite, eu também não queria que tudo fosse assim, mas acho que o destino nos pegou. - Sorriu. - Você está presa aqui, mas não precisa ser uma prisioneira. Eu não quero que seja.

Primavera em árabeOnde histórias criam vida. Descubra agora