A menina misteriosa

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Ela estava deitada sob algumas almofadas e parecia frágil. Seus pulsos estavam amarrados e havia um roxo grande embaixo do olho direito dela. Um soco. Seus cabelos ruivos estavam espalhados por todos os lados e ela o olhou com seus enormes olhos azuis no momento em que Abu entrou no recinto.

Não reagiu e também, como poderia? Ela tinha sido com certeza espancada. Havia raiva ali e falta de esperança. A mulher sabia que não voltaria para casa e não lutava mais. Talvez tivesse lutado, mais cedo, pensou Abu, mas não agora. Agora ela apenas o olhava, esperando que ele fosse o último a vê-la com vida.

Ele se abaixou perto dela, tentando manter o rosto firme e olhou para trás, para garantir que Ali estivesse longe dele, vigiando a porta.

- Meu nome é Abu Fahid. Como se chama?

Ela nada respondeu.

- Eu a comprei de Said e vou levar você comigo. Eu não vou te machucar e não vou te vender de novo. Tem minha palavra.

Ela o olhou, agora com muito mais atenção. As palavras dele eram gentis e ele cheirava bem. Será que ela já estava morta? Como ele poderia ser gentil com ela? Ele parecia diferente de Said... mas como?

- Você é um dos homens de Said. - Ela o acusou.

- Não. Não sou. Meu carro está na saída do mercado. Consegue andar?

- Você é da ONU?

- É melhor fazer as perguntas quando estivermos longe daqui. - Pediu discretamente. - Eu vou pegá-la no colo. Não fale nada e não me olhe com compaixão. Não aqui. Está bem?

Ela deixou ele a pegar nos braços, passando as mãos por baixo de seus joelhos e costas e fechou os olhos. Ele foi muito gentil e delicado, tomando cuidado pra não apertar demais. Ela não queria ver ninguém e nem saber o que aconteceria. Talvez ele fosse um dos homens de Said, e talvez ele a matasse. Ela bem sabia que Said a queria morta. O que importava? Ela sabia reconhecer quando tinha perdido. Era melhor que acabasse logo.

Os leves ossos dela agora pareciam flutuar e ela sentiu o sol em seu rosto quando abriu os olhos e viu Abu, e seu rosto mediterrâneo a colocando com cuidado dentro do carro de cor neutra. Ele a empurrou para dentro, se atendo depois às cordas em suas mãos e as soltando.

Ele mesmo entrou no carro, simplesmente e ordenou ao motorista que fosse para casa. Não...ele não ia matar ela e ela logo compreendeu isso. Ele soltava suas mãos, puxava nós e fazia isso com todo cuidado.

- Você é da ONU. - Ela quase sorriu ao dizer isso.

- Eu não sou da ONU. Meu nome é Abu Fahid, sou dono da companhia de petróleo local. Nasci e cresci nesta cidade. Eu sinto muito.

- Fahid? - Repetiu piscando os olhos azuis várias vezes. - Não é da ONU?

- Não, sinto muito.A ONU nada mais é do que uma piada aqui. Deve saber disso agora. A Arábia não é um lugar para mulheres como você. Homens aqui não tem respeito por mulheres como você. Como você se chama? Você ao menos tem mais de 18 anos? O que faz aqui?

- Sou Natasha. Natasha O'Hare. Tenho 26.

- Natasha. - Ele concordou sorrindo. - O que diabos estava fazendo com um homem como Said? Não sabe quem ele é? Como foi capturada?

Haviam muitas perguntas e havia dor, decidiu Natasha. Ela estava presa com um homem que não conhecia mas não ia morrer. Pelo menos não hoje. Se ele tinha a ajudado, seja lá qual fosse o preço, ela podia ser agradecida e demonstrar educação. Talvez, depois que se apresentasse, pudesse fazer perguntas também.

- Eu sou jornalista. - Respirou fundo, tentando processar tudo o que estava acontecendo. - Eu vim investigar o mercado de diamantes e pedras preciosas. Eu sei quem Said é e por isso o segui. Achei que tivesse gravado a reunião da minha vida, conversas sobre rotas e tráfico, gravei tudo e fugi com o gravador, achei que tivesse escapado. Foi quando me acharam. Ele disse que ia me vender...para algum homem rico que precisasse de uma escrava sexual. Ele disse que eu morreria. É isso que você é? Um homem rico que vai me matar?

Primavera em árabeOnde histórias criam vida. Descubra agora