O colo de Abu

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Ela estava sentada em seu colo, coberta só com um grosso lençol de fibras, e estava nua por baixo dele. Era assim que Abu queria. Agora, depois de tudo, ele a balançava na cadeira de balanço rezando para ela dormir enquanto seus próprios pensamentos estavam ultrapassando os mil por hora.

Natasha era sua, mas ele não sabia como cuidar dela para ela se dar conta disso.

-Vai ficar tudo bem. - Disse Abu beijando seus cabelos ruivos.

Ela estava magoada. Claro. Como não estaria depois daquilo? Abu era duro com ela, mas ele tinha que ser. Natasha se adaptar era essencial e Abu compreendia isso em níveis que Natasha podia apenas imaginar.

-Vai mesmo? - Ela respirou cansada. - Parece que já faz uma vida. - Abaixou a cabeça, olhando para as mãos de Abu a sustentando no colo. - Suas mãos em mim não parecem mais tão estranhas.

-É mesmo? - Ele achou curioso o comentário e por isso, apertou-a mais ali. - Está se acostumando comigo.

-É estranho dizer que sim? - Recostou a cabeça nele, esquecendo-se um pouco do excesso de pudor que sempre tinha com ele. - Acho que me dei conta esses dias que não tenho exatamente para onde ir.

-Isso não precisa ser ruim.

-Não. Não precisa. - Ela concordou pela primeira vez, e levou sua mão até o peito dele, fazendo-se um travesseiro para deitar. - Você é uma pessoa boa.

Era o primeiro elogio tão sereno que ela lhe fazia.

- Eu serei sempre o que precisar que eu seja. - Garantiu, balançando os dois com carinho. - Hoje, você precisa de um pai. Amanhã, quem sabe? Cuidarei de você hoje.

- O sexo é bom. - Confessou. - Se quer saber... eu nunca achei que...

- Eu também gosto de fazer sexo com você. - Ele riu da honestidade dela. - Eu sinto muito por ter te batido, Nat.

- Eu mereci. - Admitiu. - E como você mesmo disse, me dá o que preciso.

- Isso, eu dou. - Ele sorriu amplamente, começando a se sentir quente por dentro de amor. - Fico feliz que reconheça isso.

- Eu estou cansada. - Respirou pesado. - Pode me por na cama?

- Durma aqui. - Ele determinou, gentil, mas nem por isso deixava de ser uma ordem. - Eu te coloco na cama quando adormecer. Quero sentir seu corpo junto ao meu mais um pouco.

- Estou nua por baixo disso. - Ela falou o que os dois sabiam.

- Eu sei. - Apertou-a mais ainda. - Não se preocupe com isso. Está segura comigo.

- Suponho que estou mesmo. - Admitiu, encostando-se nele.

Ela relaxou o corpo tanto ali que ele teve vontade de beija-la. Ela assim, tão mole e tão entregue o fazia enlouquecer de um jeito terrível. Ela seria sua perdição e ele sabia disso. Ele sabia que já era mais escravo dela do que ela jamais seria capaz de ser dele. E ele seria tudo que ela precisasse que ele fosse. Seu emprego. Seu amante. Seu pai. Seu fornecedor. Seu maior amigo. E ele desejou pelo menos ser capaz de expressar parte disso.

- Eu te amo. - Ele falou, simplesmente, e sentiu a mão dela apertar o peito dele, com força.

- Eu estou chegando aí. - Ela disse. - Estou chegando. - E adormeceu no peito dele.

Abu chegou em pensar em deixar a menina dormir ali, simplesmente, mas ela ficaria dolorida. E ele lamentou por isso. Lamentou ter que tirar ela dali, de onde ela pertencia - nos braços dele. Levantou com cuidado, vendo-a respirar mole no seu colo, e a levou totalmente enrolada no cobertor para a cama.

Deitou-a ali, e começou a afastar o cobertor dela.

Assim, adormecida e sem defesas, ele deu-se conta do que ela realmente era - uma mulher que precisava de um lar. Era bom ver ela assim, toda pelada, sem se cobrir dele. Quando é que ela ia entregar o corpo dela sem reservas para ele? Ele desejava tanto isso que chegava a doer.

Porém, não se alongou ali. Pegou uma camisola dela, e começou a vestir como uma criança sonolenta. Vestiu ela toda, cobriu-a de novo e deu-lhe um beijo nos cabelos vermelhos.

- Como ela está?

A voz de Nima perguntou, da porta. Abu olhou para ela e sorriu, passando a mão pelos cabelos vermelhos dela.

- Ela está bem. - Disse, sabendo que era verdade.

- Ela deve estar magoada, pelos tapas e pelo banho.

- Ela vai se acostumar, temos que cuidar dela, não temos?

A voz dele foi tão possessiva, e tão amorosa ao mesmo tempo que Nima chegou a se preocupar. Então, percebeu.

- Você está apaixonado por ela. - Falou em voz alta. - Realmente apaixonado.

- Devia ser um crime. - Riu de si mesmo. - Se apaixonar por algo tão... livre. Puro.

- Ela te ama, só não é capaz de demonstrar isso ainda. - Nima falou, mas sabia que Abu não acreditava ainda. - Ela vai ficar.

- Vai. Mas quero que esteja aqui. E isso tem uma diferença. - Compreendeu.

- Ela é sua esposa, Abu.

- Não quero só o corpo. Quero a mente dela. - Admitiu. - Quero tudo que ela puder me dar, e mais. Acha que sou tolo por isso?

- Acho que você está experimentando o amor. E ele sempre nos faz tolos. - Riu dele. - Seja esposo dela. E deixe-me ser a mãe.

Abu a olhou com curiosidade e vi-a mordendo os lábios.

- Você a ama também. - Ele sorriu para Nima. - Não é mesmo?

- Não seja idiota. - Repreendeu, com uma cara de quem tinha sido pega. - Deixe essa criança dormir. E venha comigo, vou lhe preparar um banho. Você está cansado.

- Arram. - Ele riu mais ainda. - Vamos lá, Nima. Vamos lá. - Concordou. - É melhor que ela descanse mesmo. E eu quero que faça aquele pudim de frutas, que você faz tão bem. Assim, teremos algum tempo de conversar.

Primavera em árabeOnde histórias criam vida. Descubra agora