Natasha engolia um pouco de mingau com pressa, enquanto lia as manchetes do jornal por cima da mesa. Já fazia quase três dias agora, e ela se sentia renovada, totalmente recuperada. Abu estava sendo relativamente gentil, e Nima estava na cola dela, mas não tinha sido menos delicada também. Embora ela soubesse que os dois tinham seus limites, ela também tinha deixado claro que precisava ficar boa antes deles acertarem os ponteiros de novo.Ela tinha coisas para resolver, afinal, ela queria mesmo pegar o desgraçado. Ela queria poder tomar decisões sozinha e agora Abu estava na cola dela e ela sabia que não seria tão fácil voltar a investigar o tal Said. Os dois tinham um acordo e ele rezou para poder apelar para o acordo quando ele fosse duro demais com ela.
Ela vestia um vestido creme que ia até os pés, que deixava seus braços de fora e seus cabelos vermelhos caindo pelo tecido como fogo. A visão não era nada menos do que incrível, pensou Nima vendo-a comer depressa. E ela sentiu profundamente por ter que ser a portadora de más notícias.
- Natasha. - Ela falou suavemente. - Abu quer vê-la no escritório dele.
As palavras sairam tão amargas e tão pesadas que Natasha parou de comer no mesmo momento, colocando a colher de lado e ficando vermelha. Ela sabia no fundo que Abu queria ter uma conversa séria com ela e temeu o que ele pudesse querer falar ou fazer.
Empurrou o prato e levantou-se, passando por Nima e indo até o escritório dele. Passou por todos os corredores, passou pelas almofadas e o cheiro de incenso e foi até a sala que era onde ela sabia que ele estava. E ele estava mesmo lá, sentado em uma poltrona preta, como uma majestade, com um rosto familiarmente furioso, olhando para ela.
- Abu. - Ela o cumprimentou.
- Entre, Natasha. E feche a porta, por favor.
Ela obedeceu, porque queria mesmo levar um papo com ele, mas ela sabia que ele era bem inflexível e que seria um transtorno até conseguir apelar para acordos e suposições. Os dois estavam em maus bocados desde que ela havia ficado doente e por isso, ela tinha que usar bem aquela língua dela.
- Sente-se. - Abu apontou para uma almofada posicionada na frente dele.
A almofada estava no chão, percebeu ela, na frente da cadeira dele - o que faria ela parecer pequena, menor em relação ao corpo dele. Ela sentou-se ali, e juntou as mãos, sem falar muita coisa. Ia ser delicada, até onde pudesse.
- Abu, nós...
- Eu vou começar falando e você vai responder o que eu perguntar. - Cortou-a, sério. - Diga-me, Natasha, tem alguma coisa no seu corpo que eu ainda não vi?
- Não... eu... - Ela corou imediatamente. - Eu acho que não....
- Eu já vi suas partes mais íntimas, não concorda?
- Viu. - Ficou vermelha e abaixou os olhos da visão dele.
- Seios, vagina, ânus... e o que mais você considerava privado, eu acho que já vi. Precisa ter vergonha de mim?
- Precisar e sentir são duas coisas diferentes. - Usou a voz da razão, mas não olhou-o nos olhos.
- Eu perguntei se precisa. - Rebateu firme.
- Eu sinto. - Insistiu.
- Você ao menos entende que é uma mulher? Que eu sou responsável por você? Aqui. Nesta casa, neste país... e que você é minha esposa, a quem eu genuinamente quero proteger?
- Sabe que eu entendo. - Confirmou.
- Então porque grita comigo e chora quando preciso te olhar ou cuidar de você?
- Porque eu sinto vergonha, sinto medo. Você tem regras e mais regras... e estamos na sua casa. Poderíamos conversar pelo menos! - Acusou colocando as mãos no rosto, tentando manter a sanidade.
- Eu fui injusto com você? Ou quebrei alguma promessa minha?
- Não. - Respondeu amargamente. - Só está sendo duro demais.
- Eu fui injusto ao te bater? Ou ao te segurar e colocar remédios em você?
- Eu... estou constrangida. - Virou o rosto pro lado.
- Nós dois não vamos chegar à lugar algum, rodando um atrás do rabo do outro. - Abu admitiu. - Eu tenho sentimentos fortes por você, Natasha. Eu sinto que preciso cuidar de você e proteger você... tínhamos um acordo e agora... isso vai além para mim. Eu quero te engravidar... quero cuidar de você e de nossa família... e sei que sente pelo menos um pouco de prazer comigo. Diga-me... por quê não podemos fazer isso de uma maneira mais delicada? Confie em mim... confie em Nima, deixe-me te guiar.
- Desculpe se fui birrenta, Abu, mas você raramente me deixa alguma opção. - Olhou para ele, finalmente. - Está sendo tudo tão difícil para mim. Eu sou de longe...eu não entendo seus costumes... ninguém nunca tinha me visto nua, ou tocado em mim e agora o mundo são regras e mais regras.... e você me chamou aqui porque quer me bater... porque eu fui mau criada com você. Eu não sou sua filha...
- Não, não é. - Concordou. - E por isso que vai me doer fazer o que vou fazer agora...ir atrás de Said tem riscos, Nat e você sabe disso. Porém, enquanto você for incapaz de me deixar cuidar de você... com os riscos que isso tudo tem... você está proibida de caçar Said e ou de sair de casa sem minha presença ou a de Nima. - Ele viu a menina ficar branca. - Quando for capaz de assumir os cuidados... e eu estiver seguro que estamos bem entre nós... poderá fazer tudo mas...
- Espere! Não pode quebrar essa promessa... NÃO PODE!
- Eu estou quebrando enquanto eu tiver uma menina gritando comigo no banho. - Avisou. - Quando for capaz de mudar isso, eu te dou essa liberdade de novo.
Natasha encheu os olhos de lágrimas. Abu estava duro e cortando o que tinha prometido.
- Se eu não vou sair... então não vai mais me comer. - Avisou.
- Vou sim. - Avisou também. - Eu sou seu marido e eu não quero birras comigo, Natasha. Será que vai entender em algum momento que você não está mais no seu país? Eu estou tentando ser compreensivo, mas eu não posso abrir mão das minhas regras também... eu não posso deixar você pensar que você está no seu lugar de conforto agora. Eu sinto muito, Natasha, mas essa é minha palavra final.
Os olhos dela vazaram, totalmente magoados pelas palavras dele. E não só por ele estar tirando privilégios dela... mas também porque ela sabia que ele tinha razão. Ela não estava mais no seu país, estava no dele e era esposa dele... na casa dele, sob as regras dele.
- Vamos acabar logo com isso... - Ele suspirou pesado. - Fique em pé, Natasha e venha pro meu colo.
Ele ia bater nela, ela percebeu. De novo, ia lhe dar uma surra.
- Não me bata. - Pediu. - Por favor, Abu, eu não quero apanhar.
- E o que você está merecendo agora? Depois de tudo que aconteceu?
- Eu deixo você me dar banho! Deixo cuidar de mim! Eu deixo Nima! Por favor... eu não quero ficar presa em casa... nem apanhar de novo! Eu prometo!
Ele suspirou, ouvindo o tom infantil dela mas também compreendendo todas suas dificuldades.
- Você não vai ganhar autorização para sair sozinha hoje... - Avisou. - Vai sair apenas quando eu achar que está merecendo sair. E se eu ouvir uma birra que seja, vai apanhar, está me entendendo?
- Sim. - Prometeu. - Sim, Abu.
- Eu pensei em uma coisa... que talvez lhe coloque algum juízo na cabeça... - Abu respirou fundo. - Vá e peça para Nima te arrumar... nós dois vamos te fazer ver as coisas sob minha perspectiva.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Primavera em árabe
RomanceEsta á uma história para maiores de 18 anos! Contém nudez, violência, forte distorção de valores, fantasias fetichistas e uso de linguagem imprópria (erótico)! Pense antes de ler se achar que o conteúdo te ofende. Controlem seus filhos na internet...