As cinzas de um passado

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"Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente."

- William Shakespeare


Callie queria voltar no tempo, a casa onde morou desde o dia em que nasceu agora se encontrava destruída devido ao incêndio da noite anterior. Os bombeiros disseram que ela tinha sorte em ter sobrevivido, mas o que fez o coração dela doer foi quando acordou na ambulância e viu dois corpos ocultos por sacos pretos, mesmo não querendo admitir sabia que eram da mãe e da avó.

Não conseguia se lembrar de todos os detalhes. Apenas que estava na cozinha ajudando a mãe, Phoebe, quando começaram a sentir um cheiro forte de queimado e logo em seguida vieram às chamas e os gritos de sua avó, Anastácia. Saindo de suas lembranças começou a tentar se levantar da maca em que a colocaram e as lágrimas vieram, mesmo que os médicos tentando a acalmar.

Seu pai, Evan, havia ido encontra-la no hospital, não se lembrava de muitos detalhes, ou pelo menos não fazia questão de se lembrar. Então seu pai a deixou novamente com a desculpa de que precisava acertar algumas coisas do enterro de Anastásia e Phoebe.

Um dia depois, teve alta do hospital, os policiais lhe disseram que o incêndio não foi causado por vazamento de gás, nem nada do tipo, e que desconfiavam que tivesse sido por conta do sistema elétrico que deu algum problema, mas Callie começou a pensar que talvez alguém pudesse ter começado aquilo, o fogo surgiu do nada e a polícia ia investigar, para saber qual foi a verdadeira causa.

Agora ela estava na frente dos restos da casa, usando uma calça jeans e uma regata branca que uma de suas vizinhas lhe deu e esperava seu pai voltar para busca-la.

Evan e Phoebe tinham se separado quando ela tinha oito anos. O pai saíra de casa levando o irmão mais velho dela, Thomas, que naquela época tinha dez anos. A imagem dela gritando com o pai implorando para deixar o irmão, e de Thomas tentando desesperadamente se livrar das mãos do pai, continuava gravada em sua mente.

Uma caminhonete preta entrou na rua e Callie não precisou olhar para saber que era Evan. Um homem de cabelos e olhos castanhos escuros saiu do carro, ele usava uma camisa de flanela xadrez e uma calça jeans desbotada. Olhando com atenção percebeu pai não mudara nem um pouco, não teve tempo de vê-lo e olha-lo no hospital, mas depois de nove anos sem vê-lo, Callie se lembrou de onde herdara suas características físicas

─ Oi, Callie. ─ disse ele se aproximando.

─ Pai ─ cumprimentou sem vontade. ─ Já estava cansada de te esperar.

Evan apenas sentou-se ao seu lado, Callie reparou que os olhos dele estavam fundos, pelo menos não foi a única que mal tinha dormido naquela noite.

─ Já estou aqui ─ disse pegando uma bolsa que estava aos pés dela e puxando para perto. ─ Isso foi tudo que sobrou?

─ Sim, como pode perceber perdi todas as minhas roupas no incêndio, isso são algumas coisas do meu armário do colégio ─ respondeu. ─ Eu não estaria usando uma sapatilha com um laço cor de rosa, se ainda tivesse minhas roupas.

Os dois riram, por um instante foi um bom contato com seu pai e se dirigiram até a caminhonete em silêncio.

─ Escute, Callie, eu quero que saiba que eu também estou mal com o que aconteceu ─ disse. ─ Phoebe e Anastácia não mereciam ter morrido desse jeito.

Foi aí que o momento bom com o pai acabou, se tivesse pelo menos manifestado o desejo de falar com ela durante esses anos, talvez a dor de perder sua mãe e sua avó, não fosse tão grande.

As Crônicas de Darkwood - A origem da Magia (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora