A Tempestade

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"O SÁBIO TEME O CÉU SERENO; EM COMPENSAÇÃO, QUANDO VEM A TEMPESTADE ELE CAMINHA SOBRE AS ONDAS E DESAFIA O VENTO"

- CONFÚCIO 


Ela se soltou dos braços de Thomas com agressividade e pegou a bolsa do colégio o mais rápido que pôde, tentando evitar que as lágrimas caíssem.

─ Callie, você não vai para o colégio ─ disse Evan.

Ela não o respondeu e continuou a arrumar suas coisas. Evan pegou seu braço com brutalidade virando-a para olhá-lo.

─ Pare de fingir que não está me ouvindo.

─ Me larga ─ disse ela puxando o braço. ─ Você não manda em mim.

─ EU SOU SEU PAI! ─ ele gritou. ─ E você é minha filha gostando ou não.

Callie olhava para o pai com raiva e ouviu o barulho de trovões dando início a uma forte tempestade. Ela se soltou do aperto dele e abriu a porta da cozinha virando-se para olhar para ele.

─ Tarde demais para tentar assumir o papel de pai ─ retrucou. ─ Não tentem vir atrás de mim.

Thomas a olhava com os olhos marejados. Deu um último olhar significativo a sua família, fechou a porta e saiu de casa no meio da tempestade sem fim.

***

A escola era o último lugar para onde iria. Callie andava pelas ruas sem rumo definido. Só queria ficar sozinha perdida em seus pensamentos, desejava encontrar um local que pudesse refletir sobre a briga e as palavras duras que Rachel disse.

Olhou ao seu redor e viu que estava se aproximando da floresta da cidade, que limitava seu território. Ela sabia que poderia se arrepender de entrar em uma floresta sombria que poderia ter os mais variados animais, mas no fim respirou fundo e entrou.

Não foi muito longe já que a chuva estava cada vez mais forte e era difícil se locomover pelo território lamacento da floresta. Ela caiu de joelhos em uma clareira e as lágrimas finalmente desciam pelo seu rosto.

─ Callie ─ ela levantou o rosto e viu Maya seguida por Ava, Zoe e Freya. ─ Tem que se acalmar.

Ela as olhou confusa, não percebera a presença de ninguém. Maya disse para se acalmar, mas era impossível já que estava vivendo com uma família formada por pessoas hipócritas.

─ Desse jeito ela vai acabar alagando a cidade ─ disse Zoe. ─ Callie, me escuta. Está tudo bem.

─ Não, está nada bem ─ Callie soluçou. ─ Eu estou sozinha.

─ Não, você não está sozinha ─ Ava pegou a mão dela, ajudando-a a se levantar.

Maya pegou sua outra mão e depois Zoe e Freya se juntaram a elas formando um círculo.

─ Respire até seu coração desacelerar ─ disse Freya.

Callie seguiu as orientações e seu coração foi se estabilizando assim como a chuva que foi reduzindo a uma fina garoa.

Para seu espanto as suas mãos assim como as de suas amigas brilhavam com uma luz branca. Assim que soltaram as mãos o brilho despareceu, apenas as mãos dela continuavam brilhando.

─ Callie? ─ Freya a chamou.

Ela as olhou assustadas, não conseguia responder. A última coisa que lembrava foi suas amigas vindo para perto dela e depois Callie caiu na escuridão.

***

Em uma casa velha e antiga localizada nas profundezas da floresta de Darkwood, um homem observava a chuva diminuir aos poucos. Ele achava que tivera a ideia perfeita, ninguém percebeu que um grupo de moradores peculiares que acabaram de se mudar para a casa que todos acreditavam estar abandonada. Estavam a salvo de olhares curiosos.

Seu nome era Matthew Hale, um homem de meia idade, líder da Sociedade da Flecha Dourada, uma associação de caçadores de criaturas sobrenaturais que tinha um único objetivo de destruir a Irmandade da Rosa Mística, a organização dos bruxos.

Matthew tinha um sorriso e um olhar iguais aos de um psicopata, com seu cabelo preto grisalho, seus olhos verdes e com seu impecável jeito de vestir igual ao de um homem de negócios. Ninguém desconfiava o quanto seu coração era sombrio.

─ Pai? ─ ele se virou e viu seu filho Nicholas encostado no batente da porta. ─ A chuva parou.

─ Percebi, Nicholas ─ respondeu secamente.

Nicholas, era a sua versão mais nova. Matthew sabia que o garoto foi uma das poucas coisas realmente boas que fez na vida. Mas Nicholas tinha tantas cicatrizes em seu coração quanto ele, ser abandonado pela mãe aos dez anos fez o garoto mudar da água para o vinho.

─ O que eu faço? ─ perguntou ele. ─ Todos querem saber o que Matthew Hale acha sobre essa tempestade.

─ Diga que a Sociedade da Flecha Dourada está de volta ─ respondeu.

Ele e Nicholas trocaram um sorriso cruel. Nicholas se virou para sair com uma expressão de vitória no rosto.

─ Filho? ─ ele o chamou.

─ Sim?

─ Prepare minha besta ─ disse e voltou-se para a janela. ─ A caça começou.

Ele olhou por cima do ombro e viu que o sorriso de seu filho tinha aumentado. Assentindo, Nicholas se retirou

─ Hora de queimar as bruxas ─ disse ele e olhou para o mural onde se encontrava a foto de quatro garotas. ─ Eles mal sabem o que os espera.

As Crônicas de Darkwood - A origem da Magia (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora