Criança amaldiçoada

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Amaldiçoado.

Nenhuma palavra definia melhor o nascimento de tal criança.

Um híbrido, aparentemente humano, mas com áreas de pele rígida, quase como escamas.

— O que é isso nas costas dele? — A parteira assustada havia perguntado de maneira nada discreta, sem considerar a presença da mãe da criança no quarto.

Em meio a aflição, a mulher inspecionou o filho notando elevações ainda indistinguíveis no recém nascido.

Prendeu a fala, sabendo exatamente do que se tratava.

— Não é nada — mentiu, talvez mais para si mesma do que para os presentes ali — Ele é perfeito.


***


— Então, a maldição é real — Não havia demorado muito para que algumas pessoas do clã chegassem a tal conclusão.

Kirishima Eijiro, embora saudável, a medida que crescia demostrava cada vez mais características inumanas.

Um híbrido, embora ambos os pais fossem humanos.

O resultado conclusivo após a quantidade de dragões que haviam abatido.

O clã em específico tinha como especialidade a caça de tais criaturas, mesmo quando estas pouca ameaça apresentavam ou quando o estoque de suprimentos se encontrava em boa quantidade.

O abate de dragões era desde um investimento vantajoso, a um esporte e uma forma de demostração de força pelo clã, até levar tais criaturas a beira de extinção.

Fora o pai de Eijiro, durante o abate do último dragão, a ouvir pela primeira vez a lamentação.

A fera, já imóvel em seu leito de morte havia rogado, em uma linguagem incompreensível, porém facilmente detectada como praga.

Embora de início não houvesse realmente entendido, seu peito apertou em pavor ao imaginar as consequências do que havia acontecido

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Embora de início não houvesse realmente entendido, seu peito apertou em pavor ao imaginar as consequências do que havia acontecido.

Jamais imaginou, no entanto, que tais palavras não teriam efeito sobre si e sim sobre seu filho.

Kirishima crescia, perfeitamente como qualquer criança, levando os pais a se questionarem qual o sentido de carregarem consigo uma maldição inofensiva.

— Uau... Parece um tubarão — As crianças notavam animadas, assim que os dentes de leite do menino haviam aparecido.

— Um tubarão não, um dragão. Você não notou as costas? — Outro perguntou, puxando a ponta do membro avermelhado, levando-a a se abrir um pouco — Ainda são pequenas, mas com certeza serão asas.

— Que sortudo — Outra criança se manifestava levemente invejosa, sobre o menino de pouco mais de dois anos.

Sorte era a última palavra que poderia ser atribuída a Eijiro.

 As pessoas só não haviam percebido isso ainda.



Fora as sete anos de idade que Kirishima se aventurou a primeira lição de voo.

Embora por vezes, desajeitado, tivesse tentado inúteis bateres de asas enquanto corria, foi por pressão imposta por outros que havia engajado em tal situação.

— Ele vai cair. Certeza — Uma das crianças apostava.

— Eu acho que ele vai planar um pouco — Outra debateu, aceitando a aposta.

Kirishima apenas estufou o peito de ar, em um claro sinal de buscar coragem, embora suas pernas trêmulas denunciassem seu medo.

Era tarde demais para admitir o quanto queria simplesmente sair dali.

— Eu aposto que nem pular ele vai — Um garoto se pronunciou entediado.

 Não seria surpresa afinal. Já era a quarta vez que o menino se posicionava em frente ao mesmo despenhadeiro, antes de desistir e descer envergonhado.

— Anda cara. Não temos o dia inteiro.

Eles estavam certos, não estavam?

A cabeça do menino se auto questionava, enquanto abria levemente suas asas.

Durante o início da infância, Kirishima havia sido realmente popular entre as crianças, mas pela curiosidade nas peculiaridades características do que por admiração ou companheirismo.

Quanto tempo sua "fama" duraria até que todos se entediassem e lhe enxergassem apenas como um covarde de asas estranhas, como o próprio se autodenominava.

Muito, se conseguisse realizar tal feito.

Deu um último suspiro, com as asas já totalmente abertas, antes de pegar impulso e saltar, surpreendendo a todos.

Fora surreal a quantidade de sentimentos que Kirishima tivera em poucos segundos.

Orgulho, da coragem que tivera.

Insegurança, quando o desesperado movimento das asas foi incapaz de diminuir a velocidade que caia.

Medo, ao admirar o chão cada vez mais próximo, sem que nada pudesse fazer.

Vergonha, quando as risadas soaram altas, antes do desespero de notarem sua asa esquerda quebrada.

Kirishima naquele dia deixou de considerar suas estranhas características como algo incrível e começou a associa-las a motivo de piada.

Mesmo com a dor que sentia, levantou-se com dificuldade sorrindo e acenando para aqueles que assistiam.

Então isso que era. Não tão diferente de um simples animal de circo, maquiado com um falso sorriso.


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Espero que tenha curtido.
Até o próximo capítulo :)

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