Capitulo 6.

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Em um minuto Merlin estava falando em sua mente, no outro, ele ja não estava mais no chão, ou com amarras para lhe segurar.
Estava em um castelo, onde exatamente é que ele não sabia. Até ver a garota.
Seu peito se encheu de diversão. Aquilo seria muito interessante.
Com um tom de voz que ele supôs que a deixaria ainda mais irritada, dado ao fato de seus olhos estarem transbordando fúria, ele a cumprimentou usando um diminutivo para o título real da mesma.
— Ele?! É sério?
Merlin acenou com a cabeça.
— Sei que tiveram suas desavenças ontem. Mas, princesa, suponho que não haja ninguém melhor para lhe ajudar. Ele tem um lar, que quer muito pegar de volta. E você tem um reino que quer proteger.
— Será um prazer trabalhar com você, princesa.— disse Hayden, piscando para ela de modo galanteador.
— Ban, Nesryn— disse o mago aos dois indivíduos atrás da princesa.— Este é Hayden, príncipe de Oryoth.
Ela apenas estreitou os olhos para ele e em seguida levou-os até Merlin, depois Ban e Nesryn. Os últimos apenas deram de ombros e olharam para o mago.
— Sentimos muito pelo que aconteceu.— Disse o homem de cabelos loiros. Ban.
— Não acho que eu e... esse...— seja lá o que ela iria dizer, repensou e se conteve. Para a diversão de Hayden.
— Concordo com a princesa.— todos se viraram para ele.— Como sequer vou trabalhar com alguém que não consegue terminar uma frase?
Ira brilhou naqueles olhos violetas.
— Vou terminar é com a minha mão empurrando seus dentes pela garganta!
Hayden gargalhou. Ignorando os olhares que caiam sobre os dois.
— Olha só... esquentadinha não?
— Seu...
— Basta.— a voz de Ban reverberou na sala. Escritório, na verdade, percebeu Hayden ao finalmente observar o local onde estavam.— Vocês não se gostam, isto está mais que claro. Mas suas divergências não são nada importantes comparado ao inimigo a frente.
Aquele olhar era forte o suficiente para fazer Hayden baixar a cabeça. A princesa sabiamente permaneceu calada.
— Se provoquem o quanto quiserem, se matem se quiserem. Mas só depois de fazerem o que tiverem que fazer, entendido?
Pelo canto de olho, Hayden pode ver quer Merlin sorria levemente.
— Ela destruiu meu reino com muita facilidade. Acha mesmo que teríamos algum tipo de chance? Que ela,— Apontou Hayden para a princesa, que apenas ergueu o queixo e o encarou com forte determinação.— terá alguma chance? Vai morrer antes de se aproximar daquela... coisa.
— Como se você fosse muito mais capaz, não é ?— Ela disse com a voz mortalmente calma e estreitou os olhos para ele.
Hayden abriu a boca para protestar e provavelmente xinga-la, mas ela já estava falando novamente.
— Jamais culparia você pela queda do seu reino. Mas jamais me diminua, independente se me conhece ou não. — Não havia nada além de determinação fria naqueles olhos. E preocupação. Não com ele, mas com o reino dela.
— Acha que consegue enfrentar aquela coisa?— Hayden disse se aproximando dela.
Ban fez menção de intervir, mas Merlin apenas ergueu a mão em sinal de espera e o homem parou onde estava, se recostando novamente em sua cadeira.
— E você? Acha que consegue? Com toda essa raiva acumulada e sede de vingança?
— Talvez eu consiga.
Antes que ela pudesse retrucar, o mago tomou a frente.
— Já terminaram?— Disse o mago, erguendo as sobrancelhas e ganhando um olhar um pouco envergonhado da princesa. — Nenhum dos dois estão aptos no momento. E agir como duas crianças não vai melhorar isso.
A calma daquele homem deixava Hayden com os nervos a flor da pele.
— Portanto, sentem-se e escutem. Podem fazer isso, crianças?
O príncipe quis retrucar, mas alguma parte ainda civilizada e calma de si venceu dessa vez. Então ele apenas olhou de relance para a princesa que ignorava sua existência nesse momento, e se sentou em uma das cadeiras dispostas no escritório e aguardou.
A jovem caminhou até a cadeira de frente para ele— a única sobrando— e se sentou. Mas seu olhar sequer se moveu em sua direção.
— Pois bem, agora sim podemos começar. — Disse o mago olhando para ele.— Chá?

***

Fazia cerca de doze horas desde que Faith sumira do castelo. Sequer deixara um bilhete.
Isso fazia com que Joseph ficasse imensamente preocupado com a sobrinha, principalmente com os últimos acontecimentos.
Ela jamais havia feito isso, em momento algum. Jamais saira escondida em qualquer que fosse a situação.
Mas Joseph suspeitava que fosse culpa do temperamento que ela puxara do pai.
A princesa não era fácil de lidar em alguns momentos, mas com o passar dos anos o Rei aprendeu a lidar com sua sobrinha e o temperamento muitas vezes inconsequente da menina.
Mas ainda sim, jamais esperou algo assim dela.
— Alguma notícia dela, Maya?
Maya, a melhor amiga de Faith. Para quem a princesa contava tudo e um pouco mais. Se nem mesmo ela sabia...
Poucos segundos depois, Jason entrou no escritório com uma expressão fechada, como se fosse matar alguém.
Ele sempre ficava com aquela expressão quando estava furioso, e, preocupado. Ainda mais quando estava preocupado.
Na maior parte das vezes, aquela expressão era suficiente para colocar os soldados indisciplinados na linha.
— Os jardineiros disseram que viram ela indo em direção a Floresta Encantada. — disse ele fechando levemente os punhos.— Procurei o quanto pude, mas não a encontrei. A neve provavelmente já encobriu as pegadas dela.
A Floresta... pelos deuses, como ele não pensara nisso?
— Ela foi atrás de ajuda.— Joseph se jogou na cadeira e esfregou as têmporas.
— Que tipo de ajuda ela teria lá?— disse o capitão da guarda, com o cenho franzido e os braços cruzados.
— As antigas lendas dizem que o povo Feérico vive na Floresta Encantada, e que a entrada para o mundo deles é uma árvore sagrada.— disse Maya, também com os braços cruzados.
— Isso não parece ser muito possível.
Maya olhou de canto de olho para Jason e ergueu uma sobrancelha.
— Disse o cara que consegue manusear o ar.
— Você também tem magia, espertinha.
— Que bom, assim posso jogar blocos de pedra e terra em você.— disse ela estreitando os olhos.
Jason sorriu para ela de modo maroto e ficou a encarando, em desafio. Ela não recuou um centímetro.
Mas o silêncio de Joseph pareceu ser o suficiente para tirá-los daquela conversa silenciosa que eles sempre tinham.
— Perdão, majestade. — Maya abaixou o olhar, levemente envergonhada.— esse ser consegue me tirar do sério.
— Minhas palavras são as dela.
Joseph sorriria diante da situação e do rubor nas bochechas de Maya, mas a preocupação não deixava.
— As lendas dizem — continuou Joseph.— que um mítico Rei Feérico governa o povo das fadas. Um rei ha citado nos mitos do Rei Arthur.— Como ambos ficaram em silêncio, o rei regente prosseguiu.— Todos aqui conhecemos o mito do Grande Rei, mas sabemos que, embora nosso reino tenha o nome daquele da lenda, ela não passa de histórias para encorajar guerreiros e encantar meninas. Mas a magia é real, e talvez, aquele rei das fadas realmente exista.
— Apesar de racional, a Faith sempre acreditou nas lendas.— comentou Skyfury, se recostando em qualquer coisa que estivesse ao seu alcance.
— Ela dizia que lendas eram histórias, que foram sussurradas ao redor de fogueiras e em lares para nunca serem esquecidas. — Havia admiração na voz de Maya, e pesar, pela amiga não estar ali.
— Se os Feéricos existirem de fato, se, esse tal Rei das Fadas for real, por que ajudariam? — perguntou Jason, franzindo a testa.— Eles moram em um mundo isolado, que, de acordo com as lendas, só entra naquele reino quem a Árvore Sagrada permitir. Se ela não conseguiu entrar, pode estate mor...
— Não se atreva a dizer isso.— Com a voz reverberando pelo escritório, Joseph cortou a fala de Jason antes mesmo que aquela palavra maldita saísse da boca do cavaleiro. — Você conhece a sua princesa, ela jamais morreria facilmente. Principalmente com a espada que carrega nas costas.
— O que a espada dela tem de tão especial?
— Aquela é Caliburn, Jason. A Espada da Esperança.
Jason franziu o cenho.
— Pensei que essa espada só existisse nos mitos de Arthur.
— Caliburn foi nomeada como Espada da Esperança por que foi a espada que Arthur retirou da pedra. Nas lendas, quem conseguisse tirar a espada da pedra, seria o salvador da Bretanha, que traria esperança ao povo. Esperança de libertação contra Vortigein, o tio de Arthur e Rei tirano de Camelot.— Disse Maya, ganhando de Joseph um sorriso de aprovação.— Diferente da Excalibur, a Caliburn não contém poderes, mas é feita do metal mais resistente que já existiu, o Oru.
— Você não se cansa de se exibir?— disse Jason, apenas para provocá-la.
Mas ela o ignorou.
— Sendo a espada mais resistente e afiada já existente, Faith cortaria uma pedra como se fosse manteiga. Ela não está morta, seu idiota pessimista! Se ela não retornou, é por que conseguiu entrar.
— Exatamente.— disse o rei, internamente agradecendo a jovem por ter deixado o Skyfury tão sem graça com tão poucas palavras.— Mas de toda forma, precisamos...
Antes que pudesse terminar a frase, uma carta simplesmente apareceu em sua frente, pendendo no ar e se abrindo sozinha.
Joseph se inclinou e leu a carta.

Peço que não se preocupe, meu caro rei. A Herdeira está a salvo com os Feéricos, e será preparada para a ameaça que infringe o país.

Merlin.

— Merlin...— sussurrou Joseph, e uma memória lhe açoitou a mente.
— Isso só pode ser algum tipo de pegadinha. — novamente Skyfury jogou sua negatividade para cima deles. Sua desconfiança exagerada.
— Merlin já foi chamado de Pai dos Magos, Alto-Feiticeiro, Mago Supremo e O Homem que Nunca Viu a Morte. Considerado uma ameaça para os deuses das trevas. — Maya não desviou o olhar da carta pendida no ar, que agora se desfazia enquanto ela falava.— Não acho que mandar uma carta exija muito esforço dele.
— Também acredita nas lendas, Maya?— Jason olhou para ela, incrédulo.
— Vivemos em um mundo onde a magia está em cada átomo do ar, não acreditar nas lendas e no que meus próprios olhos veem, é ignorância e burrice.
Jason apenas a encarou.
— Não me olhe desse jeito. Você tem magia nas veias, você a sente a todo momento. E não acredita na existência do Mago mais poderoso do mundo.
— Não acredito naquilo que não vejo, Althidon. Não vi o mago, mas sim a carta. Isso não quer dizer que tenha sido o mago mítico que a escreveu.
— Foi ele.
Ambos olharam para Joseph assim que ele se pronunciou.
— Desculpe?
O rei olhou para o cavaleiro e esfregou as têmporas.
— Eu conheci Merlin, há muito tempo.
Maya brilhava em curiosidade e admiração ao perguntar.
— Onde o conheceu?
— Aqui, em Camelot. Na noite que Faith perdeu seus pais e incendiou o quarto com o próprio poder.
— Isso é...— Jason não ousou terminar a frase.
— Bizarro? Incrível? Talvez. Não sei como exatamente definir isso.
— Por que nunca nos contou?
Joseph olhou para Maya, e deixou que o ar preso em seus pulmões se libertassem.
— Por que quando Merlin apareceu, sua boca trouxe o que eu nunca quis, o que eu mais temia.
O olhar questionar e o silêncio dos jovens a sua frente expunham a pergunta presa em suas línguas.
— Uma profecia.

Herdeiros das Cinzas (PAUSADO e em REESCRITA)Onde histórias criam vida. Descubra agora