Capítulo 2.

172 39 1
                                    


Quando o rapaz virou totalmente o rosto em sua direção, foi como se o ar tivesse escapado de seus pulmões.
Lindo, ele era lindo além da razão.
Ela poderia ter admirado aquela beleza, caso os olhos não estivessem como o mais puro vermelho sangue. Caso não estivessem ardendo de raiva e, caso ele não começasse a correr na sua direção com uma expressão fechada, que estampava morte.
Ele era rápido, mais rápido que um humano comum deveria ser.
Mas ela também era.
Seus pés foram mais rápidos que seu impulso, quando viu, já estava correndo e guardando o arco nas costas. O capuz já havia caído e revelado seus cabelos loiro-mel, que agora se agitava graças ao vento.
As árvores não passavam de vultos ao redor.
Mas o rapaz havia a alcançado e corria ao seu lado, há poucos 3 metros de distância.
Precisaria correr mais para fugir dele, mas as pernas... elas não conseguiam ir mais rápido que isso.
Um piscar de olhos foi tudo que ele precisou para se posicionar na frente da garota. Havia um sorriso travesso em seu rosto. Mas esse sorriso não chegou aos olhos.
— Sabe, eu estava atrás daquele cervo.— Ele reparou na roupa, provavelmente em quão bom era aquele material, e que, não seria qualquer um que poderia comprar um traje daquela qualidade. Seus olhos percorreram o corpo da jovem, como se fosse algum banquete luxuoso e então seu olhar se fixou no colar em seu pescoço. Para a pequena pedra cor de fogo.— O que uma princesa está fazendo aqui? A floresta não é lugar para donzelas.
Ela exibiu os dentes.
— Continue na minha frente, que saberá o que uma donzela pode fazer.
Ele riu com escárnio, e apenas do couro da roupa ainda estar molhado de sangue, era possível ver que a pele já havia se curado. Quem ele era?
— Olha só, ela morde. — Aquele sorriso se alargou, se tornando viperino.— Você atrapalhou minha caça, nada mais justo que ir atrás da criminosa, não?
— Eu atrapalhei sua caça?! Foi você quem se jogou na frente da minha flecha! Aquele cervo era meu.— disse ela entre dentes, a voz firme.
Ele se aproximou dois passos e olhou para baixo, encarando a espada da garota, que fora desembainhada tão rápido que ele sequer notara o movimento até que a ponta da lâmina estivesse encostada em seu pescoço.
— Deveria prestar mais atenção ao seu redor.—ronronou ele.
Faith franziu a testa e antes que pudesse puxar o ar para os pulmões, sentiu algo gelado contra a pele do pescoço. Uma adaga.
— Sugiro que abaixe esta bela espada, mocinha.— disse outra voz masculina, uma voz mais velha e mais firme que a do rapaz.
Ela continuou segurando a espada.
— Está pedindo para morrer? Abaixe isso.— grunhiu o homem atrás de si.
— Não vai conseguir me matar.
O nariz do homem roçou contra sua orelha e ele disse, em um tom baixo demais:
— Não deveria dizer isto a um estranho com uma adaga contra seu pescoço.
Em seguida um grunhido veio do rapaz a sua frente.
Joseph segurava a faca de caça contra o pescoço do rapaz.
—Solte-a, ou banharei estas terras com o sangue dele.
O homem soltou um grunhido de raiva diante dos olhos severos de Joseph e do sorriso cruel que ele estampava.
Ambos pareciam ter a mesma idade, a mesma firmeza e fibra. Mas um teria que ceder, um teria que dar o primeiro passo e soltar seus respectivos reféns.
Permaneceram se encarando por longos minutos, dois muros rígidos e inquebráveis. Dois predadores prometendo a morte.
O homem a empurrou para frente, e somente os anos de treino não a fizeram tropeçar.
—Solte-o. A vadia já está livre.
Assim que Faith passou para o lado de Joseph, com a espada empunhada, é que ele soltou o rapaz de beleza exótica.
Ele riu e esfregou o pescoço com a mão, os olhos já haviam voltado para o azul-safira de antes.
E aqueles olhos estampavam luxúria quando olhou novamente para ela, analisando cada centímetro que o couro justo ressaltava. Então, seus olhos pararam nos dela, violetas com uma coroa dourada ao redor da pupila.
— Interessante.
Ele disse, com a expressão séria mas cheia de interesse, como se ela fosse um tesouro a ser conquistado futuramente.
Ela exibiu os dentes para ele novamente, mas a expressão sequer se alterou.
Ambos lhes deram as costas e começaram a caminhar.
A neve se agitou, formando um redemoinho branco ao redor dos dois, e quando se dissipou, eles haviam sumido.
— Por que os deixou ir?
Ela exigiu saber, mas o rei deu de ombros.
— Não faço ideia.
Ela o encarou, incrédula.
— Ora, não faça essa cara. Vamos, consegui alguns coelhos. Devem durar cerca de dois dias.
— Aquele cervo duraria sete.
— Então vá atrás.
Ela ficou em silêncio e o encarou.
— Irei.
Joseph suspirou e apoiou a mão no ombro da sobrinha esquentadinha.
— Precisa controlar esse temperamento, Faith.— disse ele a encarando nos olhos.
Ela abaixou o olhar, deixando que o sangue parece de ferver, como se fogo subisse de dentro dela pronto para ser libertado.
— Eu sei, desculpe.
— Venha, amanhã voltaremos aqui para caçar novamente.
Ela olhou para trás apenas uma vez enquanto caminhava, e pôde jurar que viu aquele rapaz montado em um asterion negro, a capa cinzenta ondulando sobre o vento.

Herdeiros das Cinzas (PAUSADO e em REESCRITA)Onde histórias criam vida. Descubra agora