Capitulo 7.

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Merlin explicara a eles sobre seus treinamentos, contando-lhes sobre seus dons.
— Ambos só despertaram esse poder uma vez, em uma situação que se sentiram ameaçados.— disse o mago.— ainda não sei exatamente quais são seus tipos de magia, então descobriremos com o tempo.
— Tipos de magia?— perguntou Faith, curiosa.
Já Hayden...
— Tempo? Não estamos providos de tempo, mago. Meu reino está sob comando Dela. Outros reinos já caíram! E ainda mais cairão! — o jovem príncipe se levantou da cadeira, exaltado. Com isso, apenas ganhou olhares neutros do Rei e Rainha daquele lugar.— Então não, não descobriremos com o tempo!
— Já passei por situações piores, Hayden.— disse o Mago, com tranquilidade.— Todos aqui já.— ele apontou para Ban e Nesryn. Em seguida, voltou o olhar para o príncipe.— Confie em mim, rapaz. Temos séculos de experiência em guerras, sabemos o que estamos fazendo. Agora sente-se novamente, por favor.
— Nós temos tempo. — Faith tomou a frente antes que o rapaz pudesse retrucar ao mago com palavras de baixo calão.— É pouco. Mas temos. Porém,— ela olhou para Merlin.— tenho sérias dúvidas de que há magia em minhas veias. Nunca a senti, ou a usei. Sem contar o fato de que a magia em minha linhagem se foi há muito, muito tempo.
— De repente está disposta a trabalhar comigo?— provocou Hayden, o gelo tecido de raiva ao redor de seu coração ficava maior a cada batida.— Vejo que muda de ideia rápido.
Ela olhou de soslaio para ele.
— A única coisa para a qual não temos tempo, príncipe— ela cuspiu o título como se fosse uma maldição, como se fosse errado. Aquele tom apenas deixou Hayden ainda mais estressado.— é para suas provocações fúteis.
Ele gargalhou. Mas não estava nem um pouco feliz.
— Você já viu a morte de perto, princesinha?— ele ignorou os olhares em cima dele, o peso que tinham em suas costas, embora não devessem ter. Apoiou as duas mãos na cadeira de Faith, uma em cada braço do móvel, e deixou o rosto bem próximo do da princesa.— Já sentiu o cheiro de sangue e poeira em seu reino? Em seu castelo? Ou ouviu os gritos de mulheres e crianças morrendo? Do seu povo morrendo?!
Ela o encarou em silêncio.
— Quando souber o que é isso, então discutiremos sobre minhas futilidades.— e se afastou abruptamente, se sentando novamente na cadeira. Um braço apoiado no móvel enquanto a mão se encaixava no queixo. Os olhos, frios como o pior dos invernos.
Ban e Nesryn conheciam aquele tipo de revolta, já passaram por aquilo uma vez. Com a mesma deusa.
— Entendo sua revolta, Hayden.— O rei se pronunciou, se inclinando um pouco para frente e apoiando os braços nas próprias coxas, deixando a postura formal que mantivera até o momento.— Já perdemos nosso reino, o primeiro. Avalon é o berço da magia, mas não é exatamente nossa terra natal.
Hayden continuou com o mesmo olhar, a mesma revolta dançando no raro tom de azul de seus olhos.
Mas dessa vez, foi Nesryn quem continuou.
— A terra natal dos Feéricos era conhecida como Askari. Mas haviam reinos, tal como há hoje. Benoic foi de onde Ban veio.— ela inclinou a cabeça para o lado, apontando sutilmente para o marido.— O maior império da época. Até ela chegar.
Faith prestava atenção em cada palavra, imaginando há quanto tempo atrás aquela história havia acontecido. Mas a julgar pelo tempo de vida dos feéricos, ela não duvidava que já fazia milênios.
— Ótimo, agora eles contam historinhas para dormir.— murmurou Hayden.
A arrogância do rapaz já estava deixando Faith irritada.
Nesryn virou seu olhar para ele, mas dessa vez aquele olhar doce estava mais firme, determinado. E com toda certeza pronto para perfurar a arrogância do príncipe de Oryoth.
— Você so pode enfrentar um inimigo de igual para igual se o conhecer, se for mais esperto que ele.
Hayden não moveu um músculo, ou sequer se preocupava em suavizar a expressão na frente de seres tão poderosos quanto os Feéricos.
A revolta do rapaz parecia já ter o consumido, a ponto de não mais temer a morte ou ameaças. De não mais temer coisas mais fortes que ele, apesar de suas habilidades físicas elevadas.
— Já conhecemos ela. — disse Ban. Os olhos azuis do rei estavam enevoados do que parecia ser pesar e culpa.— E acredite, ela já foi mais forte do que é hoje.
— Quer dizer que ela está fraca?— Hayden perguntou, erguendo uma sobrancelha. — nem imagino o que ela pode fazer com o poder todo, então.
— Askari foi destruída — Os olhos de Ban encontraram os do príncipe, dessa vez mais severos.—, por ela. Nossos exércitos não foram o suficiente para evitar que o país virasse ruínas e fosse inabitável. Amaldiçoado.
Silêncio.
— Foi então que a Dama do Lago encontrou o que restou de nossos exércitos e nosso povo. Estávamos na fronteira desse continente. E nosso país... — a rainha fez uma leve pausa. Então continuou.— Mas conseguimos prendê-la em um caixão de ferro abarrotado de feitiços de contenção.
— Como ela saiu depois de mil anos... não fazemos ideia. — Ban já estava andando pelo escritório, as mãos envolvendo-se e apertando-se. Ansioso. Preocupado.
— Mas está fraca.— mais uma vez a voz suave de Merlin ecoou pela sala, como se fosse grandiosa demais para caber naquele espaço.— Os feitiços sugaram a energia e a magia dela. Apesar de ser uma deusa, seus poderes não são ilimitados.
— Por que estão querendo ajudar?— perguntou Hayden. Aquele frio nos olhos havia sumido, e só restava a dúvida e a desconfiança.— Sei bem que aliados não vêm tão fácil, principalmente...— ele não continuou o resto da frase. Para ele, dizer que eram poderosos so inflaria o possível ego que cultivaram durante os milênios de existência e governo.
— Acredite, também sabemos como é difícil conseguir aliados, principalmente contra uma divindade. — o rei disse enquanto se recostava na mesa. Sua mulher havia simplesmente... desaparecido. Mas ele não parecia preocupado.
Faith pensou que se teletransportar seria o poder da Rainha Feerica. Ou um dos possíveis poderes dela.
— A princesa veio pedir ajuda. E iremos ajudar, temos um laço antigo com Camelot, com este continente. E para ser sincero,— um leve sorriso brotou no rosto etéreo do rei.— eu adoraria acabar com aquela deusa.
— Bem que ouvi dizer que são sanguinários.— murmurou o príncipe, tão baixo que apenas a princesa pôde ouvir. Bom, ele achava que só ela poderia ouvir. O que arrancou aos poucos a paciência de Faith.
Qualquer coisa idiota que ele dissesse, ela não garantia que seria educada. Ela explodiria.
— Não somos monstros, Hayden.— o olhar do Rei feérico se tornou tão afiado quanto a espada nas costas da princesa.— E não aceitarei que insulte o meu povo, e a mim, graças a amargura que adquiriu com a perda.
Silêncio pairou pela sala. Mas por pouco tempo.
A risada de Hayden reverberou no no cômodo. E Faith se viu pegando fogo, com o rosto próximo demais do dele e raiva queimando no peito.
— Você não se cansa?— disse ela, com a voz firme, sem o tom suave e doce que sempre tinha.— Está tão afundado no próprio rancor e culpa, que não consegue ser uma boa pessoa nem por um segundo sequer.
Hayden se mexeu, aproximando o rosto do dela e a encarando.
Ela pode jurar que os olhos dele brilharam com interesse, mas também raiva.
— Você é só uma princesinha mimada que não sabe como é uma perda. Como é perder seu povo e todos aqueles que você ama!— ele disse entre dentes, a voz gutural.— Eu tenho razões para estar assim, agir assim, e ser desconfiado. E não me importo com o que você, ou com o que eles pensam de mim.
— É isso que você pensa, não é? Para você eu sou apenas uma princesinha fútil, desesperada por ajuda. — Enquanto ela falava, Hayden pode ver o dourada dos olhos da princesa se tornarem fogo, crepitando intensamente naquelas lindas órbitas violetas.— Que sou fraca e impotente. Mas está enganado se pensa que não tenho força para enfrentar pessoas como ela. Como você. E não vou ficar calada enquanto você insulta as pessoas que querem nos ajudar.
Um sorriso selvagem se formou nos lábios do príncipe herdeiro.
Ela não tinha percebido que estava com ambas as mãos segurando os pulsos dele, prendendo cada mão nos braços da cadeira estofada.
Tanto quanto não percebera que havia um vento gélido envolvendo o rapaz, forte como uma barreira.
E ela estava em chamas.
A magia dela se chocando contra a dele, ambas se provocando e desafiando.
— Você está pegando fogo, princesinha.
O sorriso dele aumentou, o que fez as chamas — as chamas dela. Aquilo ainda não parecia ser possível.— aumentaram. Assim como a parede de vento invernal dele.
— E você está está congelando, príncipe.

Herdeiros das Cinzas (PAUSADO e em REESCRITA)Onde histórias criam vida. Descubra agora