Eu não vou virar-me, eu não posso virar-me.
Encolho-me quando a sua mão repousa sobre o meu pequeno e magro ombro tentando despertar a minha atenção. Era quase como se estivessem a pousar um pedregulho em cima de mim, sentia todos os batimentos do seu coração, todo o peso do seu braço em cima de mim, do meu corpo magro e fraco.
"Catherine." Ele volta a falar, mas desta vez com uma voz mais agressiva. Não consigo decifrar se está magoado, triste ou apenas sisudo ao pronunciar o meu nome naquele tom.
"Vira-te porra, eu sei que me conheces." As suas palavras ecoam pelo jardim vazio e estremeço com a agressividade do som que saia das suas cordas vocais. Quase as mesmas palavras que o john me tinha dito quando me raptou.
Lentamente viro o meu corpo, milímetro a milímetro, e quando o consigo ver com clareza não evito um choro desesperado de sair dentro de mim. Estava muito escuro mas as luzes de presença iluminavam o seu belo rosto parcialmente fazendo-o ficar ainda mais bonito do que ele realmente era.
"Peter." A minha voz sai quase como um guincho entre os soluços e ainda não quero acreditar que tudo está a acontecer. Eu devia estar a delirar, talvez fosse melhor beliscar-me para acordar.
Faço-o.
Mas em vez de acordar fico com uma dor aguda sobre a minha pele que queima devido à força com que a apertei.
"Não pensei que fosses ingênua ao ponto de vir aqui, a esta hora da noite."
"Ingênua?" Pergunto claramente surpreendida pela sua escolha de palavras. Ele falava como se fosse um criminoso, ao invés o meu irmão que me deixara apesar de todo o apoio incondicional que tinha sido dado por ele antes se partir. Isto nao era definitivamente a forma como tinha imaginado que nos íamos encontrar.
"Muita coisa mudou, percebes?" Ele parece perturbado.
"Eu sei."
"Quando digo que mudou, é porque mudou totalmente."
Não estava a perceber a intenção dele. A sua voz era muito áspera, não doce como antigamente, por mais estranho que pudesse ser eu estava insegura, sentia o medo a fervilhar-me por entre as entranhas do cérebro como se pudesse prever que alguma coisa má fosse acontecer.
"Estas a assustar-me Peter, a serio." Murmuro na tentativa de lhe conseguir tirar aquela mascara terrível mas sem sucesso. A hipótese de ele estar chapado é a única que encaixa na minha cabeça para o Peter estar a reagir desta maneira.
"Tu não és mais uma criança, mereces saber a verdade."
Neste momento prefiro ser uma criança a ouvir o que ele tem para me dizer.
"Eu sei daquilo da mãe."
Uma gargalhada malvada e sarcástica ecoa e embate nas paredes do meu aparelho auditivo fazendo-me ficar tonta. Eu estava a sentir as coisas de uma forma demasiado intensa.
"achas mesmo que é disso que estou a falar? Por favor, isso não é nada comparado ao que tenho para te contar."
Permaneço calada. Tinha ficado bem abalada por ouvir aquela conversa entre a nossa mãe e tia e se era muito pior do que isso como era suposto sobreviver? Eu já não sabia o que dizer, o que fazer, como pensar... louca, eu estava a ficar louca.
Num piscar de olhos o Peter está sentado á minha frente no banco mas nenhuma parte do nossos corpo se toca, nem mesmo os joelhos que estão separados por meros milímetros que parecem prepositados. Sentia o calor do seu corpo perto do tecido das minhas calças, como fogo a queimar-me.
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unconditionally [a rescrever]
Fanfiction" talvez não esteja preparada para viver, talvez não tenha nascido para ser realmente alguém, talvez seja mais fácil se o mundo parar de girar, mas porquê? porque é que eu partilho estes pensamentos suicidas quando consigo encontrar pessoas que me a...