Capítulo 30

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"Quando tudo parece sem saída sempre se pode cantar. Por essa razão escrevo."

Caio Fernando Abreu

Uma noite antes de embarcar para os Estados Unidos, meus avós fizeram um jantar delicioso e faziam questão de me levar ao aeroporto no dia seguinte.

− Ah vovó, vocês nem bem chegaram de lá e eu estou partindo. – a abracei, enquanto estávamos ajeitando o quarto que um dia fora meu, ainda com a mesma decoração infantil.

− Está em nosso sangue, querida... viajar. Me dá agonia de ficar muito tempo em um lugar, seu avô e eu somos eternos aventureiros – disse me dando um beijo na bochecha e rindo ao mesmo tempo.

− Sei muito bem disso, vovó. – sentei-me na cama macia pegando uma das almofadas sobre meu colo.

Vovó sentou-se ao meu lado, segurando minha mão.

− Sua mãe nos contou tudo... eu... sinto muito, nunca aceitei o fato de esconderem estas coisas de você.

− Está tudo bem, vovó, já superei. – suspirei.

− Mas ainda posso ver uma nuvenzinha pairando sobre sua cabeça, Mel... você o ama, não é? – olhei-a assustada. – O Leonardo, meu neto. – riu de lado.

Uma coisa que não tinha parado para pensar, que Leonardo era neto dos meus avós.

− Espero que um dia, vocês possam se entender, vovó, e recuperar o tempo perdido. – disse de todo meu coração a abraçando.

− Também espero por isso, querida. Bem, agora vou deixá-la descansar, pois amanhã a viagem será longa.

− Obrigada, vovó! Boa noite. – dei um grande beijo e me ajeitei debaixo do edredom.

Suspirei, o sono ainda estava longe de chegar, então peguei meu celular e verifiquei a caixa de mensagens.

Haviam várias mensagens de mamãe, me dando mil e uma recomendações durante a viagem, o que me fez rir.

Outra mensagem era do Erick, novamente me pedindo perdão e desta vez resolvi respondê-lo.

"Que o meu perdão o faça repensar em tudo o que fez e espero sinceramente que tenha aprendido algo e haja mudança de caráter. Fica na paz. Melody."

Quase um minuto depois ele respondeu:

"Obrigado pelo seu perdão, Mel... agora sim ficarei em paz, apesar de estar indo agora confessar meu delito. Tenha uma boa noite... com amor, Erick."

Como assim? Confessar delito? Do que ele estava falando?

Enquanto terminava de ler uma outra mensagem chegava, de um número desconhecido, mas ao começar a ler meu coração disparou:

"Mel, fui um completo imbecil com você, se ainda existe uma esperança... poderia vir aqui fora, por favor?! Leonardo."

O que?

Corri para a janela do quarto que dava para a frente da casa e o que vi fez meu coração derreter.

Ele estava maravilhoso! Vestido formalmente com um buquê de flores do campo nas mãos. Parecia muito nervoso, o que me fez rir.

Peguei meu celular, e espiando através da janela respondi:

"Lindas flores do campo, são as minhas preferidas. "

Depois de ler minha resposta em seu celular ele olhou para cima e me viu na janela. Sorriu, o sorriso mais lindo que aquecia meu coração e então tratei de trocar de roupa o mais rápido possível, pois estava fazendo muito frio aquela noite.

Sem fazer muito barulho, desci a escada, abri a porta com cuidado para não acordar meus avós e, uma vez lá fora, abri o portão eletrônico e não perdi mais nenhum segundo. Corri e me joguei em seus braços.

Nos beijamos como o tamanho da saudade e do amor que sentíamos um pelo outro, sem reservas, sem diferenças, sem pensar no passado.

O aroma pós barba que ele usava me inebriava. Toquei em seus cabelos sedosos o trazendo para mais perto e nos beijamos até que o ar quase nos faltou.

Nos afastamos alguns centímetros e ele me olhava com tanto desejo que senti vontade de chorar.

− Meu amor, sei que já recebi seu perdão, só pela forma como me recepcionou. – ri, corando imediatamente. – E como fica linda, vermelhinha.

Voltamos a nos beijar intensamente. Até que a luz da frente foi acesa.

Nos separamos e olhamos para a sacada onde meus avós nos observavam. Vovó com um sorrisinho e vovô de cara fechada.

− Por favor, entrem.

Ele disse em tom de autoridade. Olhei para Leo e ele piscou-me, como se dissesse: está tudo bem.

Peguei as flores e entramos.

Meus avós o cumprimentaram de modo cordial e fomos todos nos sentar no sofá da sala.

Meu avô estava muito estranho, ele sempre foi brincalhão com todos, mas com Leonardo ele agia com formalidades.

− Qual a sua intenção em vir aqui, Leonardo Mello?

Meu avô foi direto, recebendo um olhar de repreensão de vovó.

− A primeira delas, senhor, é obter o perdão de Melody e de toda sua família, por todos meus erros, por todos os danos que causei. A segunda é que amanhã acompanharei meu pai e meu primo até um advogado.

Olhei para Leo e segurei sua mão sentindo sua tristeza.

Meu avô o ficou analisando enquanto vovó limpava uma lágrima que escorria no canto de seu olho.

− Melody é muito preciosa para nós, você a fez sofrer, mas também reconheço quando alguém está sendo sincero.

Então, meu avô se levantou e caminhou até Leonardo. Olhei para vovó do outro lado, aflita, mas ela apenas meneou a cabeça para mim transmitindo segurança.

− Levante-se, rapaz!

Imediatamente Leonardo se levantou, ele era um pouco mais alto que vovô e então pude ver uma semelhança na fisionomia entre os dois.

Meu avô tocou no ombro de Leonardo e o trouxe para si em um abraço apertado, fazendo toda aquela tensão que eu sentia esvaecer.

− Esperei muito por esse dia. – vovô tocou o rosto de Leo e sorriu. – Você tem os olhos de Sarah. – disse emocionado e novamente o abraçou.

Minha avó se aproximou e abraçou os dois, deixando suas lágrimas escorrerem livremente.

E eu... bem, eu olhei tudo aquilo maravilhada.

Notas de Esperança (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora