Capítulo 27

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"A vida é um naufrágio, mas não devemos
esquecer de cantar nos botes salva-vidas." Voltaire

Leonardo

Levantei meus olhos para ela, quando já estava abrindo a porta e a fechando, saindo do meu campo de visão.

Senti Patrícia se aproximar e segurar minha mão.

− Eu não sabia... sinto muito, mas da cozinha eu pude ouvir a conversa de vocês, me desculpe.

− Tudo bem, assim me poupa o tempo de ter que explicar. – respondi ríspido, retirando minha mão da sua.

− Puxa, me desculpe, não foi minha intenção ouvir...

Suspirei e a olhei.

− O que mais preciso agora, é ficar sozinho, preciso sair.

− Vou com você...

− Em que parte do "ficar sozinho" você não entendeu? Olha, Patrícia, eu entendo que queira me ajudar, mas realmente eu preciso ficar sozinho.

Dei-lhe um beijo na testa e sai.

Ainda pude ver o carro de Melody virando a esquina e senti um aperto. Precisava espairecer e colocar meus pensamentos em ordem.

Nas imediações do parque, pessoas caminhavam, crianças brincavam com seus cachorros, enquanto eu passava por elas em meu carro que há muito tempo não o dirigia.

Pedro o mantinha limpo e sempre o ligava para que o motor não travasse, enquanto eu vivia na escuridão física e da dor.

Precisava resolver aquilo, cedo ou tarde.

− Ahhhhhhhhhhh... – gritei batendo no volante, enquanto manobrava em frente ao prédio de Erick.

A princípio não tinha nenhum plano, nem o que diria àquele infeliz, mas estava ali e não podia recuar.

Apertei sem pestanejar o interfone do apartamento 22 e não demorou muito para que ouvisse sua voz.

− Sim?!

− Sou eu!

Ele demorou um pouco para responder, mas logo abria o portão para mim.

Comecei a sentir um leve tremor enquanto subia pelo elevador. Como reagiria ao vê-lo? Como resolveria nossas diferenças?

Apertei a campainha.

Erick abriu, estava sério.

− Olá garoto! Quanto tempo?

Descobri qual seria minha reação segundos depois.

− Hei! Você quase quebrou meu nariz! -disse limpando o sangue que escorreu, me olhando com espanto.

− Onde ele está? – gritei, massageando minha mão.

Ele ia dizer algo quando o ouvi.

− Estou aqui, filho.

Ele estava ali, encostado em uma parede do corredor, um pouco mais velho, cabelos grisalhos de óculos e usando um belo terno.

De repente senti dificuldade em respirar. Eu precisava de ar, então me dirigi para a varanda e tentei controlar minha respiração.

Aquilo não podia estar acontecendo, eu já o tinha enterrado em meu coração. Já havia me conformado com esta perda, que eu nunca mais o veria e agora ele estava ali, na sala.

Notas de Esperança (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora