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Alison tentou falar por três vezes e tudo que conseguira foi que escorresse uma baba do canto da boca. O guerreiro havia saído para buscar por comida e água e Amut permanecia vigilante ao seu lado.

Quando enfim conseguiu pronunciar algo legível, balbuciou um, "obrigada" para o animal. De fato, ela estava agradecida. Apesar de que a palavra saíra como se estivesse com uma colher dentro da boca, ela sabia que o animal havia compreendido.

Pensou sobre as palavras de Anpu, até mesmo tocou sua testa em busca de qualquer marca. A jovem sabia que o guerreiro exigiria resposta, mas ela mesma não sabia o que pensar sobre aquilo. A mordida em seu corpo não voltara a doer e ela achou exagerada a urgência em ver um curandeiro.

No momento a única ameaça real para sua vida era o próprio guerreiro, que ainda não decidira o que fazer a seu respeito. Ela manteria aquela magia presa até que ele lhe prometesse leva-la de volta a seu mundo. A jovem se encolheu ao lembrar de Edward. Não conseguia imaginar como deveria estar reagindo diante do que havia presenciado, certamente acreditava que ela já estivesse morta.

Quando Anpu chegou, carregando algumas raízes, a jovem suspirou aliviada por não se tratar de nenhum animal asqueroso. Estava incerta que seu estômago aceitaria comer carne, depois de ter ficado coberta pelas tripas da tecedeira no dia anterior.

O guerreiro acendeu a fogueira na sombra da montanha, colocando as raízes sobre as brasas que se formavam. Havia tantas perguntas que a jovem gostaria de fazer, tantas coisas que gostaria de compreender. Ela sentiu o olhar do guerreiro sobre si, sabia que não era a única atrás de respostas.

- Você parece melhor.

- E estou. - Alison falou com a língua enrolada.

Eles comeram em silêncio e por mais que sua mente estivesse inquieta, evitou falar. Sentia-se anestesiada como quando saiu certa vez do dentista após arrancar um siso. Eles ficaram longos minutos em silencio depois da refeição deliciosa que o guerreiro havia preparado. - Anpu se voltou para ela.

- Você compreendeu o que eu disse mais cedo?

- Sim. Mas não creio que precise de um curandeiro. Estou me sentindo bem. E se está se referindo sobre as outras coisas, sei tanto quanto você. Talvez até menos, pois nunca vi marca alguma em minha testa. Tirando alguns sonhos esquisitos que se realizaram ao longo da vida, nunca pude levitar, abrir portais ou até mesmo me transformar em fumaça.

- Já vi uma mordida dessas antes, acredite. Vai precisar de um curandeiro. - Alison deu de ombro.

- Você mesmo disse que nunca encontrou ninguém que lhe impedisse de invadir a mente. Talvez eu seja mesmo diferente.

- Talvez seja. - Anpu se levantou indo até o limite onde a colina ficava íngreme. Onde a visão de Thórun era linda, perdendo apenas para aqueles que podiam admirar do topo da montanha.

Alison aproximou-se do guerreiro e Anpu apenas inclinou a cabeça levemente para o lado, reconhecendo sua presença.

- Quero que desenhe o que viu em minha testa. Preciso saber se já vi este símbolo em algum lugar. - Anpu se aproximou da jovem pegando o galho que ela trazia nas mãos e se abaixando, desenhou no chão uma lua minguante. Desenhou pequenos símbolos dentro da lua, que pareciam estar na língua do Egito antigo. - Alison deu de ombro.

De fato, já vira aquele símbolo milhares de vezes. Estava presente em diversas mitologias. Não sabia o que os símbolos menores significavam, mas a lua era comum. Inclusive a grande Deusa Wicca trazia como símbolo, as três fases da lua. O que mais se via em Nova Orleans eram colares e uma variedade de objetos com aquele símbolo.

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