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A vida de Edward havia se transformado em um verdadeiro inferno. Seus pais já estavam em estado de alerta, cogitando algum tratamento para filho. Embora todos fossem muito ligados a Alison, era Edward quem não estava lidando bem com a situação. Quem poderia culpa-lo?

O desaparecimento de Alison completava uma semana. Edward havia perdido as contas de quantas vezes teve que ir naquela delegacia prestar depoimento. Sua postura havia mudado, não havia mais determinação ou qualquer traço de esperança no jovem.

Era o terceiro dia que ele passava sentado de frente para aquela parede nos diques. Aquele jovem alegre, bonito e tão cheio de vida, se tornou uma sombra. Depois de três dias acampando no subsolo sem tomar banho e sem se alimentar, ele poderia facilmente ser confundido com um mendigo.

Se não fosse pelas mensagens que mandava aos pais, avisando que estava bem, a essas alturas a polícia já estaria a sua procura. Ele cogitou falar a verdade que o dilacerava por dentro, para qualquer miserável que se prontificasse em ouvi-lo. Tudo que ele iria conseguir era se tornar mais suspeito do que já era. Na melhor das hipóteses, seria levado a um sanatório.

Aquela criatura iria voltar, em algum momento iria retornar e ele estaria a sua espera. Por mais bizarro que a situação pudesse parecer, Edward sabia o que tinha visto. Lá no fundo, bem no íntimo de suas entranhas, onde o espectro da alma sondava juntas e medulas, ele sabia. Algo inexplicável ressoava em sua mente, tão sobrenatural quanto a criatura que a levou, tilintava como um sino intermitente. Alison estava viva, precisava estar.

Que Deus o ajudasse, porque ele rasgaria aquele mostro no meio. O jovem amolava uma faca, depois conferia as balas de um revolver 38 que havia levado para os diques. Então repetia o processo de novo e de novo . Desta vez estaria preparado.

***

Alison ainda não compreendia como o humor do General podia oscilar tanto. Horas antes, ela o viu gargalhar como nunca e agora estava cuspindo fogo pelas ventas. A jovem ignorou os resmungos do guerreiro que batia na porta da sala de banho, ordenando pela décima vez, que ela saísse da banheira. Ela imergiu naquelas águas revigorante abafando toda a gritaria.

De olhos fechados e braços abertos ela relaxou, quase como se pudesse respirar dentro d'água. Sorte do guerreiro que ela não podia ou não sairia nunca mais dali. Alison boiou, tomando o cuidado para que suas orelhas ficassem dentro d'água. Assim não ouviria as ameaças de morte vindo de trás daquela porta.

Ela desligou seus pensamentos se rendendo a calmaria das águas. Ela merecia aquele banho longo, só pelo fato de não saber o que esperar de seu futuro. Por não saber se sobreviveria naquele mundo. Que Anpu fosse para o inferno, porque ela só sairia dali quando se cansasse da banheira.

As águas correntes da banheira passavam pelo seu corpo, massageando sua pele, fazendo com que ela gemesse ao sentir cada músculo relaxar. Ela movimentou suas pernas e braços lentamente sentindo cada bolha escorregar pelo seu corpo, até que sua mão encostou em algo. Alison afundou, buscando com os pés o fundo da banheira, enquanto se virava assustada.

- Estava aqui pensando quando ia começar a se tocar. - Anpu sorriu com escárnio. - Por favor fique à vontade não quero atrapalhar.

- Seu, seu... tarado idiota. A quanto tempo você está aí? - Alison falou entre dentes enquanto cobria seus seios com as mãos.

- Dez vezes eu ordenei que saísse. A banheira é minha e se quer passar metade de sua vida insignificante dentro dela, vai ter que dividir comigo. - A jovem grunhiu jogando uma porção de água no rosto do guerreiro. - Anpu gargalhou se divertindo com o descontrole da jovem, que agora apresentava uma coloração avermelhada nas bochechas.

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