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Mica aproveitou que Jeisan comandava o treino naquela manhã, para sair sem ser notada. Não era a primeira vez que a jovem fazia aquilo. Ela ainda podia se lembrar de quando desceu até as profundezas daquela montanha, para fugir das ordens de seu pai. Podia lembrar do espanto que acometeu seu semblante quando se deparou com os curandeiros reunidos, munidos de armas Itemus, treinando como se fossem guerreiros.

Foi naquele dia que Mica olhou verdadeiramente para Osires, vendo no jovem muito mais que um curandeiro. No mesmo momento ela soube que havia mais em comum entre eles, do que poderia imaginar. Desde então, há um pouco mais de um ano, ela descia até as profundezas sempre que podia. Aquele clã queria aprender a lutar e ela os ensinaria, porque carregavam o mesmo ódio no peito, marcados por um julgo desigual.

Hasani nunca descobriu o sumiço das armas, antes guardadas em um depósito cobertas de poeira. Quem se preocuparia com armas Itemus, quando não existia mais nenhum guerreiro para empunhá-las?

Osires sorriu ao ver a jovem entrando no salão profundo. Um lugar pouco visitado, tão próximo da prisão dos Neterus, que poucos se arriscavam indo até lá.

- Que bom que conseguiu vir hoje.

- Anpu saiu e meu pai está ocupado demais, para notar minha ausência.

- Vai ser bom ter você por aqui. - Osires se aproximou da jovem e risadas vindas da primeira fileira, onde as curandeiras mais jovens estavam, puderam ser ouvidas.

- Não posso demorar, mas quero ajudar no que for preciso.

- Aqueles que não tem força para empunhar espada, estão treinando arco e flecha.

- Arco e flecha? - Mica estreitou as sobrancelhas.

- Usamos metal das armas em péssimas condições para fazer as pontas das flechas. Agora que está aqui podemos testar. - Osires sorriu com malícia.

- Estou impressionada. Você é um macho muito protetor.

Osires abriu um sorriso largo.

- Sou um curandeiro, prometo curar você antes que uma gota do seu sangue caia ao chão.

Mica apertou os olhos.

- Está bem, serei a sua cobaia. Mas quero alguém com uma boa mira. Não quero acabar com uma flecha cravada na minha bunda.

Osires se aproximou e sussurrou em seu ouvido.

- Adoraria curar sua bunda.

Mica o afastou com o cotovelo envergonhada. A jovem guerreira se posicionou contra a parede de pedra e olhou para o grupo de curandeiros diante dela.

- Posso saber quem vai atirar a flecha?

- Kéfera.

A menina deu um passo adiante, conforme Osires chamou seu nome.

- Mas ela é só uma criança.

- Você disse que queria a melhor.

Mica engoliu seco.

A menina posicionou os pés e preparou o arco respirando fundo, mirando a mão da guerreira que estava estendida para o alto. Antes que Mica pudesse se arrepender, uma flecha havia atravessado sua mão, passando através daquela barreira mágica de proteção.

Mica xingou, se curvando sobre o corpo ao sentir a dor aguda que irradiava pelo braço. Osires segurou a mão da jovem, quebrando a parte traseira da flecha. Em um movimento brusco a retirou, iniciando imediatamente o processo de cura.

- Como se sente?

- Um lixo. Mas feliz por ter funcionado.

- Isso pode nos dar uma vantagem.

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