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Anpu ainda pôde ouvir a voz de Alison o chamando quando atravessou o portal. Sentia como se o coração estivesse prestes a sair do peito. Medo, ele mal se lembrava a última vez que sentira medo. De volta a montanha ele caminhou para os andares mais baixos, precisava pensar e organizar o turbilhão de teorias e especulações que se formavam dentro de sua cabeça. Ele estava decidido a falar com Osires e pedir um encontro com a anciã. O que ele havia visto em Alison não era bom e mesmo que não encontrasse uma explicação para sustentar o que vira, ele sabia. Alison não era humana. — Anpu socou a parede de pedra que formava o umbral do corredor abobadado.

Não havia regras contra ele tomar uma humana para si. Se quer, alguém pode imaginar tal coisa, para que regras fossem criadas. Mas reivindicar uma fêmea que não pertencia a seu clã era proibido por lei. Não uma lei que Hasani havia criado, era uma lei que existira desde de sempre. Criada pelos próprios Deuses para que as linhagens permanecessem puras.

O medo que percorria a espinha do guerreiro e invadia aquela escuridão que caminhava com ele, ia além do fato de não poder tê-la. Se ele estivesse certo, Alison corria um grande perigo que até mesmo ele, com todo seu poder seria incapaz de protege-la.

Anpu começou a ouvir os sons vindo do grande salão dos Hathor. O som do sistro podia ser ouvido a cada passada e a melodia parecia aplacar sua fúria. Anpu entrou no salão e observou o aglomerado de machos e fêmeas que dançavam ao redor de uma fogueira. Eles bebiam e sorriam enquanto pisoteavam sobre o chão de pedra cinza.

Um povo escravo, trancafiado naqueles corredores úmidos, enclausurados nas profundezas daquela montanha que mais parecia um labirinto de cavernas escuras. Ainda assim comemoravam, confraternizando uns com os outros.

Uma fêmea lhe entregou uma bebida. — Obrigada General, por não permitir que minha família se separasse. — Anpu olhou para a jovem curandeira forçando a mente para descobrir se a conhecia. — As crianças são meus sobrinhos, minha irmã contou que o senhor teria mantido a identidade do bebê em segredo. Mesmo após serem descobertos, permitiu que trouxesse as duas crianças que não possuem o dom. — Anpu fez um gesto com a cabeça em agradecimento e voltou a olhar para a fogueira.

O salão estava escuro, o reflexo da fogueira tremeluzia nas paredes de pedra. Casais dançavam e sorriam distraídos. Anpu olhou para além da fogueira e avistou Mica dançando. Ele se aproximou rodeando a fogueira e pode ver quando Mica beijou alguém, que se mantinha oculto nas sombras.

— Mica. — A jovem deu um sobressalto se colocando a frente de Osires.

— Por favor Anpu, não o machuque. Eu o amo. — Anpu estreitou os olhos para a sobrinha.

— Vocês estão loucos? — Anpu falou quase em um sussurro. — Juntos na frente de todos.

— Ninguém se importa com isso aqui. — Disse Osires com a voz firme.

— É verdade Anpu, olhe! — Mica apontou para um casal dançando nas sombras. Era um de seus guerreiros, com uma fêmea Rá-Seft. Não estavam apenas dançando, mas visivelmente apaixonados.

— Mica, isso pode ser perigoso. Não falo isso só por você, mas por Osires também.

— Sabemos nos cuidar. — Mica falou ríspida e Anpu fez um gesto com a cabeça.

— Não tenho o direito de me meter, mas é melhor que fiquem em alerta. Osíris eu preciso falar com você. — Mica revirou os olhos. — Não tem a ver com vocês dois.

Eles caminharam para dentro da escuridão, onde o som era mais baixo.

— Preciso que marque um encontro com a anciã.

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