Capítulo 4 - Um dia diferente

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  • Dedicado a Tânia Santarém
                                    

Eram cinco da manhã de sexta-feira e eu acordei com o telefone celular tocando. Li quem era, Arthur (precisava ser a essa hora?) e atendi:

–Cara, tenho uma proposta muito loca pra ti fazer. – disse e estava bem animado.

–Fale agora ou cale-se para sempre. – respondi.

–Isso foi muito gay, mas como eu dizia, hoje é sexta, são dois períodos de matemática, dois de inglês, um de espanhol e outro de geografia, igual o dia seria muuuito chato se fossemos pra escola, concorda? – falou tentando me convencer.

–Fale logo. – disse sem muita paciência, (pow eram cinco horas da manhã) eu queria dormir 

–Que tal matarmos aula? – completou – Só hoje.

– ... – estava pensando – ãh... tá, só hoje porque a aula ia ser muito chata mesmo. – concordei.

–Ebaa – ele estava mesmo feliz – Ok, chega ai no ponto de ônibus perto da igreja que eu tô te esperando com a Gina.

–Com a Gina? – perguntei – Vamos pegar um ônibus? – culpem minha lerdeza de pensamento pelo fato que são cinco da manhã, eu acordei agora e não entendo metade do falam.

–É, vamos nós três pegar um ônibus e passear lá numa pracinha, tem uma coisa que a Gina precisa te contar.

–Claro, claro, tô ai em dez minutos – falei atropelando as palavras, desligando o celular e pulando pra fora da cama.

A Gina queria falar comigo, com certeza percebeu que eu queria ajudá-la e vai me contar o que ninguém me disse até hoje sobre ela ficar “excluída” na sala de aula, nos trabalhos em grupo e tudo mais que ela esconde (como os cortes nos pulsos). Me arrumei rapidamente, peguei a mochila do colégio e umas moedas e sai sem tomar café nem nada.

Chegando lá vi que ela estava rindo com ele. (Gina... rindo?)

Gina estava muito bonita, de vestido lilás (detalhe, nunca a tinha visto de vestido), cabelo solto (sempre usava o cabelo preso em uma chiquinha) e rindo (nunca a tinha visto sorrir, muito menos rir). Ela ficava bonita feliz, nunca tinha visto ela assim.

–Oi gente. – eu disse.

–Oi – eles responderam juntos.

–Por que estamos matando aula? – indaguei.

–Não está na hora da aula, então tecnicamente não estamos matando – disse Arthur.

–Sério? - retruquei. – Por que “vamos” matar aula?

– A vida é curta, precisamos aproveitá-la – disse Gina e vi que Arthur entristeceu ao ouvir aquilo. – Ei, desculpa Arthur, não foi de propósito...

–Eu sei. – Arthur.

–Não vai ficar chateado, né? – perguntou Gina.

–Não vou. – disse – olha o ônibus.

Subimos no ônibus e só depois percebi que não fazia ideia de pra onde íamos.

–Onde vamos?

–Em uma pracinha, eu já disse. – Arthur (eu tinha esquecido, é ele já tinha dito) – Eu e Gina costumávamos ir lá quando os pais dela quando... eles nos levavam.

–Ei, Arthurzinho, deixa eu ficar na janela? – perguntou Gina

–Claro onne-chan. – (Onee-chan é irmã em japonês, não? Eles não são irmãos mesmo, né?)

Sentamos no fundo, Gina na janela à direita, Arthur do lado e eu do lado dele. Ficamos conversando por alguns minutos, ela ficava bem divertida quando não estava no colégio, nunca tinha conversado de “verdade” com ela e o Arthur parecia ser muito amigo dela (o que eu achei estranho, afinal na escola eles nem se falam).

Alguns minutos se passaram e descemos em uma parada onde não tinha ninguém, andamos um pouco e chegamos na pracinha. Lá era um lugar calmo, com árvores e uma lagoa. Eles ficaram se revesando no balanço e eu fiquei sentado na grama observando-os e ouvindo o som dos passarinhos.

–Estava com saudade desse lugar – Gina.

–Eu também – concordou Arthur – Podemos voltar sempre que você quiser.

– … Acho que não vai dar onii-chan – ok, ela ficou triste (estava muito bom pra ser verdade).

–Gina eu já disse que isso não vai acontecer! Agora fala pro Oliver logo. – disse.

–Oliver... – (é agora)

–Fale – (estou curioso, nervoso e ansioso)

–Preciso mesmo fazer isso? – ela estava olhando para ele esperando uma resposta.

–Ai, como você é chata! – Arthut – Eu sei que é difícil falar disso, mas ele vai nos ajudar.

–Ele se parece com o Érick, Arthur. Ele não vai me ajudar – ela disse meio baixo,  foi meio estranho, não temos nenhum colega chamado Érick e ela obviamente não queria que eu escutasse isso.

–Olha para ele Gina, ele não é como Érick, lembra que eu te avisei sobre ele? Você não me ouviu, mas Oliver é diferente, confia em mim. – Arthur falou. –Conta para ele. – pediu.

–Pode ser na segunda-feira? – ele viu que Gina ia começar a chorar então ele abraçou ela.

–Tá pode ser na segunda. Só diga “obrigado” por ele se importar e ter matado aula e vindo até aqui.

–Obrigado Oliver – ela se afastou do Arthur e veio até onde eu estava.

–Obrigado por querer ser meu amigo e por se importar comigo, mesmo eu tento sido má com você, me desculpe. – Gina falou.

E nessa hora aconteceu a última coisa que eu ia imaginar: a Gina me abraçou. Era um abraço gostoso e apertado.

–De nada, não precisa se desculpar, e saiba que eu vou esperar quanto tempo for preciso. – falei e vi o Arthur “admirando” uma árvore... Eu acho que ele estava com ciume dela. Será que ele gosta da Gina?

(…)

Fomos para a casa da Gina, eram só oito horas. Jogamos no playstation2 dela, depois almoçamos umas dez da manhã e ficamos conversando e vendo televisão por horas, já era uma da tarde quando sai de lá. O Arthur disse que ia ficar mais um pouco com ela. Eles parecem ser muito amigos, não entendo porque ele não fala com ela no colégio.

O resto do dia eu fiquei mexendo no computador. Ela tinha me dado o número do celular dela. Estava tarde e lembrei que estávamos fazendo um trabalho juntos, então eu decidi ligar porque (não estou apaixonado, claro que não) eu queria ouvir a voz dela, sei lá, é uma voz maneira.

–Alô Gina. – falei.

–Oi. – ela atendeu – Oliver?

–É, sou eu. – eu disse meio atrapalhado – Liguei porque a gente se esqueceu de combinar a apresentação do trabalho de biologia.

– É mesmo – Gina – Você pode vir aqui em casa no final de semana?

–Claro, umas duas horas? – perguntei.

–Pode ser. – ela respondeu.

–Hoje foi legal... – é eu não tinha mais nenhum assunto e não queria desligar ainda.

–Foi sim, espero que possamos fazer isso mais vezes – ela parecia realmente sincera.

–Claro –respondi – … Bem, até amanhã – não tinha mais nada para puxar conversa.

–Até amanhã, beijo – Gina. – Boa noite.

–Beijo, boa noite, tchau. – desliguei.

Posso dizer que hoje vi um lado da Gina que eu não conhecia. Sim, eu não descobri o segredo que ela guarda, mesmo assim parece que o dia valeu a pena.

Um pedido de socorroOnde histórias criam vida. Descubra agora