Capítulo 1 - Luto

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Sem amor, sem dor! Mas em compensação uma vida abstrata e sem cor.

Jorlanete Batista

O despertador toca insistentemente e faz um barulho insuportável, abro os olhos sem querer, mas que droga de vida, quem ligou a porra desse alarme? Acho que foi minha mãe, quer fazer-me reagir.

Eu só quero morrer! Não quero levantar! Não quero comer! Não quero tomar banho e muito menos fazer a barba.

Preciso ir ao banheiro, vou por necessidade, não vou dar esse trabalho a faxineira e fazer xixi na cama como uma criança. Olho-me no espelho e sinto repulsa, credo! Pareço um mendigo.

Se já fui bonito, não me lembro. Tenho 23 anos e pareço ter 50, não me importo só quero ficar no meu quarto com as cortinas fechadas e curtir minha escura solidão.

Minha vida sempre foi de regalias, mas meus pais sempre me ensinaram a valorizar as pessoas, valorizar o que tenho, e que deve ser agradecido pela minha sorte em ter tudo o que a maioria das crianças brasileiras não têm. Desde que meus pais vieram de Londres, moramos no Leblon.

E na minha adolescência ajudava nos projetos sociais na comunidade do Cantagalo, conheci muita gente legal, pessoas honestas que são desvalorizadas pela sociedade, somente pelo fato de viverem em favela. Lá conheci a Sophie e logo começamos a namorar.

Ela era uma negra linda e de  um coração bondoso. Meus pais nunca interferiram em minhas escolhas. Mas depois que apresentei ela para eles, simplesmente me obrigaram a ir morar em Nova York com minha tia.

Prometi a mim mesmo que iria me formar e não depender de um centavo do dinheiro deles. Mas antes de viajar já tínhamos terminado o Ensino Médio, Sophie e eu nos candidatamos a várias bolsas nas Universidades de Nova York.

Já que estávamos encurralados e sem opção pra ficarmos juntos, fizemos todas as tentativas para que pudéssemos ao menos não nos separar definitivamente.  Fui aceito na University of the New York e Sophie na University of Long Island Brooklyn.

No fim deu tudo certo, ainda provei pra meus pais ser capaz de conseguir uma bolsa de estudos para Administração em uma das melhores Universidades privadas dos Estados Unidos.

Viajamos no começo de janeiro, porque as aulas começariam no fim do mês.

 Meus pais não sabiam que Sophie viajaria comigo e nem que organizamos tudo em segredo para continuarmos juntos.

Durante o tempo que fiquei morando com minha tia  em Manhattan, me dediquei por completo aos estudos e depois de me esforçar muito na faculdade, consegui indicação para trabalhar na Bolsa  de Valores de New York, conseguindo meu primeiro milhão no primeiro ano de pequenas aplicações, compra e venda de ações.

Sempre fui bom com números e descobrir meu talento. Mas já no fim do meu curso Sophie ficou grávida, resolvi torná-la minha esposa oficialmente e cuidar do nosso bebê.

Aconteceu a pior tragédia da minha vida que endureceu meu coração e me tornou o que sou hoje, focado nos negócios e sem liberdade para nenhum tipo de relacionamento.

Depois dessa catástrofe, só esperei alguns meses para concluir meu curso e voltei ao Brasil, meus pais me apoiaram, mas eu estava péssimo.

O luto custou demais, minha mãe ficou terrivelmente preocupada. Então um belo dia eles entraram no meu quarto e me deram um ultimato:

— Henrique ou você reage e volta a ser aquele jovem alegre e com objetivos ou vamos buscar uma forma compulsiva de ajudá -lo. — disse minha mãe.

— Não quero nada! E já sou adulto. — respondo gritando!.

— Sabemos disso, e 23 anos não é tão adulto assim — questionou meu pai.

— Não vou fazer nada obrigado. — respondo sem vontade.

— Então reaja! Não aguentamos mais ver você neste estado.

— Que estado? — papai estava revoltado.

— Queria que você tomasse a frente dos negócios da família. — disse meu pai — por isso você estudou administração.

— Você nem toma banho, parece um mendigo,  não deixa a faxineira se quer limpar seu quarto. — disse mamãe decepcionada.  

— Se for pra vocês me deixarem em paz, vou dar uma saída e rever meus velhos amigos.— respondo exaltado.

— Mas você nem quer recebê - los quando vem te visitar.

— Mas eu vou procurá — digo decidido.

— Está bem vamos ficar  de olho.

Depois dessa conversa nada ameaçadora com os Frateschi, hoje eu posso sorrir daquela situação, pois D. Norma e Sr. Edward Frateschi  não são fáceis. As vezes eu os reprovo por algumas atitudes, mas com o tempo eles melhoraram muito em relação as minhas decisões.

Depois desse dia, procurei meus amigos de infância, Cláudio, Joseph e Gabriel conversamos, rimos, falamos de nossas aspirações para o futuro. Me disseram que também já tinham se formado, mas que estavam querendo fazer uma extensão em hotelaria pela UFRJ, me interessei logo, pois queria investir meu dinheiro em um ramo lucrativo e nada melhor do que o turístico.

Pois o Brasil é lindo e tem belezas arrasadoras, fora que o potencial é gigante. Resolvi fazer o vestibular e não sou soberbo, mais sou um cara inteligente por natureza, tenho muita facilidade para aprender.

Passei em segundo lugar e o período ia começar na próxima semana. Me joguei de cabeça nos estudos, duraria apenas 3 anos e enquanto fazia o curso resolvi montar meu projeto para iniciar o negócio.

Chamei Cláudio para me acompanhar em uma assessoria de empreendedorismo e colocar o projeto pra sair do papel, já que Joseph era o arquiteto.

Fizemos tudo do zero, o primeiro hotel no Rio, o segundo em São  Paulo, o terceiro no Paraná e o quarto no Nordeste, especificamente no Maranhão.

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OITO ANOS DEPOIS
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Escolhi Barreirinhas por ser um destino internacional de grande potencial e depois de oito anos focado nas construções e tendo pessoas de minha confiança nas administração dos hotéis Frateschi, me senti na obrigação de estar em todas as etapas deste projeto em particular.

Concluí o curso de hotelaria, fiz parcerias com quatro rede de restaurante em cada estado em que eles estavam, uma para cada hotel. Enfim mudei - me para o Maranhão que é um lindo e ao contrário do que os meus disseram é um lugar rico em beleza e diversidade.

Um Deserto Com Oásis de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora