Capítulo 9 - Reação exagerada

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Sai impetuosamente do Bar, ando na beira do rio, admirando a paisagem silenciosa com poucos transeuntes. Fico imerso em pensamentos, muitas perguntas afligem meu íntimo. Por que eu não consigo seguir em frente? Esquecer ou apenas aceitar o que foi arrancado de mim, de forma tão grotesca que chega a ser uma crueldade sem fim. Depois de nove anos ainda não consigo ao menos beijar alguém sem me sentir culpado por a estar traindo-a. Eu estava tão bem cuidando da minha vida e de meus negócios, tinha que aparecer essa garota,  parecida com ela e que despertasse meu lado sentimental à muito tempo enterrado. Saio de meus devaneios ao ouvir alguém chamar-me.

— Henrique….. Henrique… espere-me. — ela corre em minha direção. Tenho vontade de fugir dela, mais nunca fui de fugir de ninguém, então vou deixar as coisas bem claras entre nós. Paro e espero ela me alcançar.

— O que você quer? — falo sem rodeios. — já não basta fazer-me de seu escravo. — digo sem pensar.

— Não me interessa o que você pensa. — diz ofendida. — quem você pensa que é para me deixar no meio da festa, sem uma explicação?

— Não sabia que deveria explicar-me porque não quero beijá-la. — respondo com sarcasmo.

— Nunca fui rejeitada antes, e não será um dono de um hotelzinho barato que me fará passar por essa humilhação. — replicou com fúria nos olhos. Mesmo com pouca iluminação dava pra ver seus olhos brilhando de raiva.

— Sinto muito querida, mas esse “dono de hotelzinho barato” como acabou de dizer, não está interessado em uma garota mimada e fútil. — falo fazendo gestos com as mãos, mostrando a ela o quanto a estava desprezando por suas atitudes.

— Qual é o seu problema, seu mauricinho ridículo? — esbraveja, não acreditando nas minhas palavras.

— O meu problema no momento é suportar uma garota chata, mimada que não sabe se comportar. — respondo aumentando a voz, fazia tempo que não me exaltava dessa forma, essa garota me tira do sério.

— Não sei o que vi em você, seu prepotente arrogante. — sua boca não para, com os  insultos. Não sabia que a rejeição fazia isso com as pessoas. Às transformava em monstros.

— Por que não volta para junto de seus amigos e me deixa em paz? — cansei de tanta discussão que não vai nos levar a nada.

— Não me diga o que fazer, não pedi a sua opinião? — joga os cabelos de lado, segurando seus cachos. Já notei que ela os enrola no dedo quando está chateada.

— Ok! Então eu irei, só não fique sozinha na beira do rio, que aparece uma serpente gigante que pode devorá-la. — Não consigo deixar de sorrir e isso a irrita ainda mais. Sai andando e ela vinha atrás me dizendo as palavras mais bonitas que aprendeu em português.  

— Seu idiota, imbecil, jamais irei gastar meu tempo com você novamente. — não revido, apenas acelerei meus passos para chegar rápido ao bar.

Não demorou dois minutos,  entrei no bar, depois desta discussão um tanto revigorante, sinto vontade de dançar. Avisto Alice dançando sozinha e não penso duas vezes e fui até ela e a convidei para dançar.

— Claro que aceito, mais com uma condição? — diz sorridente, acho que ela já bebeu o suficiente por uma noite, mais o que me surpreende é que eles apesar de encherem a cara, não parecem prontos para cair, muito pelo contrário estão numa empolgação sem fim.

— Que seria? — questiono imaginando loucuras, o que pode se esperar de pessoas bêbadas?

— Que me ensine a dançar um forró de verdade, igual a que os meninos estão dançando com as garotas da região. — diz apontando para os garotos que estão grudados em meninas lindas.

— E se eu lhe disser, que não sei dançar tão bem, mas prometo tentar? — ela me dar um sorriso e me puxa para ela.

— Está bem, mais que fique bem claro que só aceito porque você é o homem mais lindo dessa festa. — dessa eu tive que dar uma boa gargalhada, ela estava mesmo bêbada.

Começamos lentamente, mas conforme a música acelera o ritmo, nós deixamos ela nos guiar, estava sendo agradável dançar com Alice ela é a garota mais madura do grupo e sabe se comportar ao contrário da sua amiga filhinha de papai, birrenta e malcriada.

Só em pensar nela meu sangue ferve, já não sei se é de raiva porque gostei dela, ou de culpa por me sentir sem controle perto dela. Fisicamente ela parece com Sophie, mais seu temperamento é o oposto dela.

Mais Krysna tem algo que me instiga a entrar em discussão com ela. Não sei se isso é normal, mais adoro discutir com ela, parece que meu mundo começa a ganhar nuances coloridas, quando o monocromático era soberano nesses nove anos sem meu filho, sem Sophie.  

Danço com entusiasmo com Alice, sinto uma carga opressora deixando meus pensamentos livres de qualquer fuga emocional, faz séculos que não me divertia tanto. Sorrir por vontade e não por etiqueta já que isso é essencial em meu ramo de negócio. Já estamos dançando algumas músicas, o salão está cheio, as pessoas se divertindo, a cantora está mais que entusiasmada.

Ao olhar para Sharon, noto Krysna nos observando com um olhar indecifrável, não demonstra raiva ou alegria, só fica olhando como se estivesse admirando um casal qualquer dançando. Não consigo deixar de querer irritá-la. Grudo mais a Alice e danço sensualmente quando a Suh Santos começa a cantar a música “Jennifer” do cantor Gabriel Diniz.

Krysna não se segura e vem até nós, pede para Alice sair e diz que ela dançaria comigo. Eu não sei porque essa garota não pára de querer me irritar.

— Agora é minha vez Alice, faça companhia para Sharon que ela não está muito bem. — não sei qual o poder que ela tem, mas Alice nem sequer a questiona o porquê ela não mesma não cuida da amiga.

— Ensine- me a dançar Sr. Frateschi, pode fazer-me essa gentileza? — fala como se fosse a mulher mais educada que já me apareceu. Como se eu não soubesse como ela tinha um arsenal de palavras chulas para menosprezar um alvo de sua infantilidade.

— Com muito prazer senhorita. — resolvi entrar em seu jogo, queria ver até onde ela conseguiria manter a pose de lady finesse.

Eu a envolvi em meus braços e eles pareciam ter sido feito para ela. Tinha o encaixe perfeito, apesar de ser muito alto, ela alcançava a parte ideal. Dançamos até ao fim da festa, paguei o bar e a cantora, uma hora a mais para cantar somente para nós, pois os garotos não queriam ir embora, porque estavam grudados nas garotas que eles dançaram a noite inteira.

Sharon dormiu no sofá, quando Alice me deixou com Krysna e foi ficar ao seu lado. Krysna e eu não conversamos, apenas dançamos e no fim ficamos separados pelos garotos. Ficamos nos olhando e apreciando o nascer do sol sob o rio, era um espetáculo da natureza nos brindando com um novo amanhecer. Quando viro para o lado a coisa mais impressionante me surpreende……...

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