Um Deserto Com Oásis de Amor

Capítulo 5 - Beira Rio

Depois de muitas caipirinhas, os americanos estavam alegrinhos, começaram a dançar dentro do restaurante. Fiquei pasmo com a ousadia da garota, ela sabe dançar perfeitamente, pelos menos para mim, o forró pé de serra da banda local *Tripa de Bode * que só pelo nome dá pra ter uma ideia do que é  o forró deles.

Ela dança e olha pra mim, viro o rosto em outra direção, mas quando volto  a vê-la está me encarando.

Não sei o porquê dessa garota ficar me olhando e vir justamente para meu hotel, só pode ser castigo. E o pior de tudo que no momento que a olho, vejo Sophie, do mesmo jeitinho e dança com a mesma graciosidade.

Ficamos a tarde inteira na Beira Rio, comendo, bebendo, dançando e tomando banho de rio. Levei-os para o hotel já bem tarde, quando chegamos, eles subiram para as suas suítes e me direcionei para a sala da gerência, onde  Cláudio já estava a minha espera.

— Senhor Frateschi, gostou do passeio com os gringos? — disse sorrindo.

— Adorei. — respondi com ironia.

— Deram muito trabalho? — questionou curioso. — vi pelas câmeras que estão alegrinhos.

— Até que não! Só a “senhorita sabe tudo” que me fez perguntas, que não faziam parte do roteiro. — digo incomodado.

— Que tipo de pergunta? — ele perguntou com ousadia.

— Não vou falar!  Pense numa garota mimada e chata. — revido com implicância.

— Hahahhahaha! Já reparei que todos os amigos dela fazem apenas o que ela ordena. — disse sorrindo e pensativo. — será que ela é uma pessoa importante, ou algo do tipo?

— Não sei e não quero saber! — respondo malcriado. — estou revoltado por ter que bancar a babá para esses moleques.

— Eles não parecem ser jovens demais não. — admirou-se com a minha observação. — pelo contrário, estão todos na casa dos vinte.

— Pra mim, parecem moleques. — falo com implicância. — aquela senhorita tem a língua solta e sabe todas as gírias brasileiras.  

— Hahahhahaha! Então ela xingou alguém? — fala com a expressão surpresa.

— Sim, um cara que veio dançar perto dela e já estava com a mão boba. — digo com admiração. — quando pensei em conversar com o cara, ela estava escorraçando ele, tive pena do coitado, saiu humilhado.

— Nossa a senhorita sabe se defender. — disse convicto.

— Bom! Estou cansado! Vou dormir que amanhã vamos cedo para a Lagoa Azul. — digo me espreguiçando. — você já acertou tudo com a RiosTur?

— Sim! Falei com a Dorylene ela disse que já emitiu os voucher e mandará o 4x4 as cinco da manhã. — responde aliviado, pois era ele quem iria no meu lugar, se eu tivesse dito não.  

— Certo! Como eles pediram exclusividade, vou ter que bancar o lacaio até eles irem embora? — falo indignado. — nunca fiquei nessa situação, nem nos outros hotéis me deparei com pessoas desse tipo.

— Mas eles estão pagando uma grana por sua companhia. — revidou sério. — foi a senhorita Krysna Thompson que exigiu a mim.

— Está certo! Vou dormir Cláudio! — respondo sem argumento. — cuide para que os hóspedes saem cedo do restaurante e não ultrapasse o horário de fechá -lo. Já tive muita dor de cabeça com isso.

Deixei Cláudio na recepção com Alex e vou direto para o elevador. Entro e quando vou apertar o botão do meu andar, Krysna grita para eu esperá-la.

— Henrique vou subir também! — disse ofegante porque vinha correndo. — segure o elevador por favor!

— Certo. — digo a contra gosto.

— Olha não precisa mudar a expressão, apenas por estar em minha presença. — ela diz com animosidade.

— Que expressão? — revido de maneira impulsiva.

— Deixa pra lá. — diz fazendo gestos com as mãos.

O prédio tem cinco andares, ficamos nos olhando, eu não vou ficar aqui admirando essa garota mimada e chata não.  Aperto o botão do terceiro andar e saio às pressas deixando-a perplexa. Subo pelas escadas de emergência até chegar ao meu quarto.

Abro a porta e vou direto tomar um banho, para tirar o suor, saio do banheiro visto uma camisa e um calção folgado, jogo-me na cama,  durmo feito uma pedra. Acordei espantado com o barulho ensurdecedor do despertador.

— Mas que droga! Porque aceitei essa palhaçada. — digo comigo mesmo. — mas vou ver o sol nascendo no deserto, isso que é um incentivo para acordar de vez.  

Tomei um banho rápido, escovei os dentes, vesti roupas leves porque não custaria muito e estaria um calor escaldante.

Desci até o térreo, Cláudio já me esperava com um café da manhã digno de um rei.

— Wauuuu! Bom dia amigo. — falo admirado. — cara você não dorme? Já acordado? Pensei que mandaria Alex cuidar disso.

— Hahaha! Bom dia. — disse sorrindo. Adoro ele, já acorda de bom humor.  — Tinha que ver o patrão acordar cedo pra passear nos Lençóis com uma gringaiada cheia de vontades.

— Só você mesmo Cláudio, pra fazer graça às cinco da manhã. — respondo sorrindo também. — vamos tomar esse café, e esperar esse povo descer. — me passa o suco de bacuri.

— Em cinco minutos vou chamá-los, se eles  não descerem. — diz Cláudio decidido.

— Está bem, me passa o iogurte natural. — falo salivando. — pense em um iogurte gostoso.  

— Olha Henrique estão descendo. — fala baixo para não ouvirem. —  e eles já tomaram café, mandei a garçonete preparar tudo cedo e levar nas suítes.

— Ok! Estou indo, cuide de tudo aqui, não sei o horário que voltaremos. — digo me levantando e indo ao encontro deles.

— Bom dia! Prontos para conhecer a oitava maravilha do mundo? — questiono animado.

— Mas que pronta, estou ansiosa! — disse Alice.

— Nós queremos descer as dunas surfando. — dizem os garotos em uníssono. Não sei o nome deles.

— Nós nem dormimos direito por causa da ansiedade. — responde a Alice e Sharon, elas estão eufórica. — pelo YouTube é como se estivéssemos lá. E agora vamos ver fisicamente. Obrigada Krysna! — vai  até ela e a abraça.

Seguimos para o estacionamento, o carro já nos aguarda. Acomodo a todos e subo por último. Durante o trajeto eles gritam como doidos, acho que estão pegando chicotadas dos matos, mas estão adorando ser surrados durante uma hora que é o tempo que chegaremos nos Lençóis.

Até este momento eu notei que ela estava muito tranquila e não tinha respondido quando a cumprimentei na recepção. Será que está zangada por eu a deixar no elevador ontem à noite? Se for também não me interessa! Garota estressada e cheia de vontades! Mas também é linda até demais para seu próprio bem. Não devo ficar pensando nela. Tomo nota mentalmente. Mas por que ela me provoca?

“ amor de Deus cara! Você tem 30 anos, não se comporte como um adolescente, todo nervoso por causa de uma pentelha". 

Acho que meu subconsciente deu pra brigar comigo como se fosse meu pai, Hahahaha! dessa eu tive que rir, pra mim mesmo. Não custará o motorista e o guia irão notar que tenho um parafuso solto.